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ERUDITO
Com orquestra, brasileiro executa, no Teatro Municipal (RJ), concertos do compositor húngaro que serão registrados em CD
Cohen enfrenta desafio de gravar Liszt
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Arnaldo Cohen aquece os motores, no Rio, para a primeira gravação com orquestra de sua vida.
Hoje, no Teatro Municipal, ele
executa os dois concertos para
piano e orquestra de Liszt, que ele
registra com a Osesp, sob a batuta
de John Neschling, na São Paulo, a
partir do dia 18.
Com regência de Moshe Atzmon, o programa será complementado pelo "Prelúdio e Morte
de Amor", da ópera "Tristão e
Isolda", de Wagner, e por "Romeu e Julieta", de Tchaikovski.
No palco, a Orquestra Petrobras
Sinfônica (www.opes.com.br),
novo nome da Orquestra Sinfônica Petrobras Pro Musica.
"Confesso que estou um pouco
ansioso", diz Cohen, arredio a registros fonográficos. "Gravar
sempre foi meio complicado para
mim, ainda mais com orquestra."
Ele prepara o repertório com afinco. Na terça e quarta-feira desta
semana, tocou os concertos em
Belo Horizonte com a Orquestra
Sinfônica de Minas Gerais, dirigida por Marcelo Ramos. Como
"Totentanz", que vai completar o
CD, a ser lançado pelo selo sueco
BIS, as obras estão em seu repertório há mais de duas décadas.
O excesso de virtuosismo de alguns discos que Cohen ouvia na
juventude chegou a dificultar sua
relação com os concertos. "Fui influenciado por algumas gravações, por exemplo, da Martha Argerich, que eu ouvia muito quando garoto. A coisa era um pouco
quem tocava mais rápido."
Cohen achava que, se não conseguisse interpretar os concertos
na mesma velocidade daqueles
LPs, não valia a pena executar as
obras. "Saí um pouco disso. Não é
a rapidez o fator determinante.
Você pode fazer uma coisa mais
devagar com muito mais força
emocional do que uma loucura
técnica, puramente circense."
Em se tratando de Liszt, Cohen
sabe do que fala. Seu primeiro CD
foi dedicado ao compositor húngaro; depois, pela Naxos, teve outro disco exclusivamente dedicado a este autor; e, seu último álbum, com a "Sonata em Si Menor", de Liszt, tem sido incensado
pela crítica internacional.
"O difícil no Liszt é manter uma
certa voltagem emocional e não
passar por cima das notas como
um trator. A grande dificuldade é
dar uma forma, um significado
emocional ao que você faz."
"Liszt escreveu para Deus e para
o demônio. Ambos estão presentes nos concertos. Não Deus e o
demônio como o bem e o mal,
mas como partes opostas que carregamos, e que Liszt não tinha
medo de expressar, na música."
O público paulista não vai ouvir
o Liszt de Cohen. Seu recital solo
do dia 23, no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, tem uma série de itens do
primeiro disco do pianista pela
Bis, constituído de peças curtas de
brasileiros. O programa é complementado pela "Chacona" para
violino solo de Bach, na célebre
transcrição de Busoni; e pelos 24
prelúdios de Chopin.
No âmbito do festival, Cohen
toca, dia 30, com a Osesp. Sob a
batuta de Roberto Minczuk, a orquestra acompanha Cohen no
"Concerto em Formas Brasileiras"), do alagoano Hekel Tavares
(1896-1969). Depois, volta para os
EUA, onde reside desde setembro
de 2004. A agenda de 2006 está fechada, mas deve incluir orquestras norte-americanas como as de
Cleveland, Houston e Filadélfia.
Titular de uma cátedra vitalícia
de piano na Indiana University,
em Bloomington, Cohen ainda se
adapta ao "american way of life",
após 23 anos morando no Reino
Unido. "Gosto da tranqüilidade,
que é uma coisa que eu não tinha
em Londres", diz. E sintetiza a razão para sua paz de espírito:
"Agora toco piano porque eu
quero, não porque eu preciso".
Arnaldo Cohen e Orquestra
Petrobras Sinfônica
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça.
Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/2299-1711)
Quando: hoje, às 16h
Quanto: R$ 2 a R$ 60
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