São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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ERUDITO

Com orquestra, brasileiro executa, no Teatro Municipal (RJ), concertos do compositor húngaro que serão registrados em CD

Cohen enfrenta desafio de gravar Liszt

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Arnaldo Cohen aquece os motores, no Rio, para a primeira gravação com orquestra de sua vida. Hoje, no Teatro Municipal, ele executa os dois concertos para piano e orquestra de Liszt, que ele registra com a Osesp, sob a batuta de John Neschling, na São Paulo, a partir do dia 18.
Com regência de Moshe Atzmon, o programa será complementado pelo "Prelúdio e Morte de Amor", da ópera "Tristão e Isolda", de Wagner, e por "Romeu e Julieta", de Tchaikovski. No palco, a Orquestra Petrobras Sinfônica (www.opes.com.br), novo nome da Orquestra Sinfônica Petrobras Pro Musica.
"Confesso que estou um pouco ansioso", diz Cohen, arredio a registros fonográficos. "Gravar sempre foi meio complicado para mim, ainda mais com orquestra." Ele prepara o repertório com afinco. Na terça e quarta-feira desta semana, tocou os concertos em Belo Horizonte com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, dirigida por Marcelo Ramos. Como "Totentanz", que vai completar o CD, a ser lançado pelo selo sueco BIS, as obras estão em seu repertório há mais de duas décadas.
O excesso de virtuosismo de alguns discos que Cohen ouvia na juventude chegou a dificultar sua relação com os concertos. "Fui influenciado por algumas gravações, por exemplo, da Martha Argerich, que eu ouvia muito quando garoto. A coisa era um pouco quem tocava mais rápido."
Cohen achava que, se não conseguisse interpretar os concertos na mesma velocidade daqueles LPs, não valia a pena executar as obras. "Saí um pouco disso. Não é a rapidez o fator determinante. Você pode fazer uma coisa mais devagar com muito mais força emocional do que uma loucura técnica, puramente circense."
Em se tratando de Liszt, Cohen sabe do que fala. Seu primeiro CD foi dedicado ao compositor húngaro; depois, pela Naxos, teve outro disco exclusivamente dedicado a este autor; e, seu último álbum, com a "Sonata em Si Menor", de Liszt, tem sido incensado pela crítica internacional.
"O difícil no Liszt é manter uma certa voltagem emocional e não passar por cima das notas como um trator. A grande dificuldade é dar uma forma, um significado emocional ao que você faz."
"Liszt escreveu para Deus e para o demônio. Ambos estão presentes nos concertos. Não Deus e o demônio como o bem e o mal, mas como partes opostas que carregamos, e que Liszt não tinha medo de expressar, na música."
O público paulista não vai ouvir o Liszt de Cohen. Seu recital solo do dia 23, no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, tem uma série de itens do primeiro disco do pianista pela Bis, constituído de peças curtas de brasileiros. O programa é complementado pela "Chacona" para violino solo de Bach, na célebre transcrição de Busoni; e pelos 24 prelúdios de Chopin.
No âmbito do festival, Cohen toca, dia 30, com a Osesp. Sob a batuta de Roberto Minczuk, a orquestra acompanha Cohen no "Concerto em Formas Brasileiras"), do alagoano Hekel Tavares (1896-1969). Depois, volta para os EUA, onde reside desde setembro de 2004. A agenda de 2006 está fechada, mas deve incluir orquestras norte-americanas como as de Cleveland, Houston e Filadélfia.
Titular de uma cátedra vitalícia de piano na Indiana University, em Bloomington, Cohen ainda se adapta ao "american way of life", após 23 anos morando no Reino Unido. "Gosto da tranqüilidade, que é uma coisa que eu não tinha em Londres", diz. E sintetiza a razão para sua paz de espírito: "Agora toco piano porque eu quero, não porque eu preciso".


Arnaldo Cohen e Orquestra Petrobras Sinfônica
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça. Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/2299-1711)
Quando: hoje, às 16h
Quanto: R$ 2 a R$ 60



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