São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

João Sal/Folha Imagem
A empresária Ana Tommasi; "Dá até para fechar negócios", diz


Corra, VIP, corra!

Chiques topam suar a camisa em corridas exclusivas, que estão na moda em SP -desde que a camisa seja "thermodry" e o rímel, "waterproof"

Dez troféus de cristal Tiffany, lapidados em Nova York, aguardarão os primeiros dos mil corredores ao final dos cinco quilômetros da corrida Fashion Run, marcada para o próximo domingo. O percurso, de duas voltas no shopping Iguatemi, em SP, reserva alguns agrados na linha de chegada: dez massagistas, um DJ, muffins de chá verde, tortinhas vegetarianas, suco com "silício orgânico". Tudo em uma tenda de 750 metros quadrados, decorada com sofás e lustres.

 

"É um tipo de corrida para quem corre em esteira ou com o personal trainer no clube do qual é sócio. É para quem tem medo de ser atropelado pela multidão ou quer correr com gente mais parecida com o seu meio", explica o personal Mário Sérgio Andrade Silva, que presta assessoria esportiva a executivos e modelos.
 

"Uma São Silvestre é estressante. Gente classe "A" não quer ficar no sol por três horas esperando a largada e vendo gente cuspir no chão ou "mexer" com as mulheres bonitas", diz Mário Sérgio.
 

As tais "corridas VIP" estão na moda na cidade. Serão pelo menos quatro nas próximas semanas. Enquanto na São Silvestre a inscrição (R$ 55) dá direito a uma camiseta regata e a um chip para calcular o tempo de corrida, na Fashion Run (inscrição: R$ 150) o "atleta" recebe duas camisetas "thermodry" (tecido tecnológico que absorve o suor; uma para antes e outra para depois da prova), "sabonetinhos" e "toalhinhas" de grife, boné "customizado" e "gifts" em geral -além, claro, do chip.
 

"By the way", nós vamos lá para correr, né?", brinca o consultor de luxo Carlos Ferreirinha, que, pela Fashion Run, vai trocar os sapatos Louis Vuitton pelo tênis Nike Air Max (R$ 600, em média). "Olhando para o tênis, você não dá nada, menina! É só um pretinho básico, técnico, para correr."

Ferreirinha está disposto a suar a camisa? "Olha, não é uma corrida de performance. É uma corrida de luxo, com atributos emocionais, sociais. É para encontrar pessoas bacanas que associam esporte a produtos de luxo, como é o shopping", diz ele, que tem personal trainer e afirma correr 15 km nos finais de semana.
 

Já o empresário Alexandre Birman, herdeiro da Arezzo, investe cerca de R$ 500 por mês nos treinamentos. Corre, nada, faz musculação e bicicleta na academia (pagou perto de R$ 5 mil por um plano de 24 meses), de segunda a sábado, com programa criado pelo personal Marcos Paulo Reis, treinador de Daniella Cicarelli e João Paulo Diniz.
 

"Onde eu estiver no mundo, treino. Só preciso de um tênis", diz Birman, que correrá, neste ano, as maratonas de Buenos Aires e Chicago e a Meia Iron Man (21 km de corrida, 1.900 m de natação e 90 km de bicicleta). "Cinco quilômetros eu faço em 20 minutos", diz, sobre a corrida do Iguatemi. "O gostoso vai ser ver um povo legal, da sua classe social", relata Birman. "No meio da multidão é ainda mais interessante."
 

A idealizadora da Fashion Run, Andrea Gusmão, não gosta que sua corrida seja chamada de VIP. "É um evento para pessoas bacanas que priorizam o bem-estar, são engajadas com a saúde", diz. "Não é ostentatório. Tem charme, é diferenciado. Não é excludente. É exclusivo", explica.
 

"Exclusivo", mas não único. O shopping Villa-Lobos já faz há três anos a corrida Track & Field Run Series, criada por Ana Cláudia Tommasi, sócia da patrocinadora do evento, neste ano marcado para 6 de agosto.
 

"Não é corrida para milionários. É corrida para pessoas legais que ajudam a construir o Brasil. É um network grande reunido, dá até para fechar negócios ali."

E até no segmento VIP há espaço para corridas com pretensões democráticas. Marcada para o dia 20 de agosto, a Corporate Run reúne funcionários de grandes empresas (IBM, Pão de Açúcar, Pfizer...).
 

"O presidente corre com o moço do cafezinho, o diretor com o estagiário. É uma corrida de socialização", diz Anuar Tacach, diretor da agência de publicidade Young & Rubicam e idealizador da Corporate Run.
 

Orçada em R$ 6 milhões, a prova espera 5.000 corredores e envolve 500 funcionários na organização. Quem compete ganha um DVD personalizado, com seus melhores momentos, como a cena da chegada. Tipo brinquedo da Disney. "Vi isso em Chicago e trouxe para cá."
 

Mulher de Tacach, a empresária Natalie Klein, herdeira das Casas Bahia e dona da grife NK Store, tomou gosto pela corrida depois do casamento, há dois anos.
 

"Gasto R$ 120 com o grupo de corrida mais R$ 280 de academia. Ontem, eu corri das 22h às 23h. Se não corro, me sinto culpada", conta Natalie, vestida com a blusa que o marido trouxe da última maratona de Chicago, tênis que comprou numa viagem a Nova York e rímel. "Acordo de rímel, corro de rímel. Rímel waterproof [à prova d'água], para não borrar."
 

Marcos Paulo Reis, personal de Birman, Cicarelli e Diniz, tem ressalvas ao circuito de corridas de luxo. "O preço das inscrições afasta pessoas que gostariam de correr percursos menores."
 

Mas a "exclusividade", diz ele, é válida. "Quem não quer ter banheiro limpo, café da manhã requintado e estacionamento garantido antes de correr? Não é em qualquer prova que tem isso. Só em corrida fashion mesmo", avalia. "Mas o barato é que, suando, fica todo mundo parecido, né?"


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: DVDs: David Lynch vê outsiders diante de realidade hostil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.