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Crônica
Na Flip, todos os autores amam amar
NOEMI JAFFE
ENVIADA ESPECIAL A PARATY
Nietzsche diz que os
amantes amam mais o
amor do que a pessoa
amada. Coetzee, Nadine Gordimer, Amós Oz, Alan Pauls, Will
Self e, eu arriscaria, todos os autores presentes na Flip, colonizam, descolonizam, ironizam,
se perdem para dificilmente se
achar em labirintos de parênteses, impossibilidades, dores e
encantamentos para voltarem
para o assunto único: o amor.
Três dias de Flip, umas dez
mesas e uma conclusão entre
óbvia e misteriosa: todos eles
amam amar. Mas o homenageado da festa já dizia: "Só os
profetas enxergam o óbvio".
Alan Pauls me diz que "todo
relacionamento já contém em
si mesmo a futura separação" e
que ela seria, na verdade, a
"obra magistral de um relacionamento". E que "é preciso que
haja zonas de sombra" para que
a transparência que, segundo
ele, é o monstro do amor, não o
acabe assassinando.
Nadine Gordimer diz "que os
amantes enxergam com o terceiro olho coisas que só eles
vêem na órbita do olho do amado". Will Self, o muso cínico da
Flip, diz que "o homem amado,
com quem a mulher divide as
colheres da gaveta, é sempre ele
o perverso, aquele encarregado
de destruí-la".
Fernando Pessoa (que não
está na Flip) já sabia que todas
as cartas de amor são ridículas.
Alan Pauls, categórico, diz que
"o amante é aquele que não tem
vergonha de ser ridículo". E
Nelson Rodrigues, gênio trágico, já sabia que "só os imbecis
têm medo do ridículo". Amar,
enfim, é absurdo. É entregar-se
abertamente à dor e à deselegância. Mas quem sabe também seja o elixir que faltava para a maldição contemporânea da atitude "blasé" que, em nome de não cair no ridículo, é capaz até de não amar.
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