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Greenaway rodará "pornografia" em SP
Plano é realizar obra "extremamente erótica" na cidade em 2008; cineasta chegaria ontem ao Brasil para participar de eventos
O artista galês de 65 anos
afirma à Folha que o cinema
está morto e preso a velhas
fórmulas dos épicos cristãos
e dos dramas psicológicos
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Peter Greenaway está convencido de que o cinema está
morto. O artista multimídia
-que dirigiu festejados filmes à
sua época, como "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o
Amante" (1989) e "O Livro de
Cabeceira" (1996)- considera
hoje desinteressante essa forma de arte. Para ele, o cinema é "chato", "fora de moda" e algo que
atualmente "agrada apenas a
pais e avós".
Ainda assim, o artista galês
de 65 anos continua bastante
ativo dentro do universo cinematográfico. Ele lança no Festival de Veneza, que tem início
no dia 29/8, seu mais recente
filme, "Nightwatching", baseado em uma tela de mesmo nome do holandês Rembrandt.
Greenaway chegaria ontem a
São Paulo, onde conversará
com produtores locais sobre
um filme que pretende rodar
na cidade em 2008.
"Tenho quatro novos filmes
em preparação, um deles espero que seja rodado em São Paulo no ano que vem. É uma pornografia, um filme extremamente erótico, baseado em um
episódio histórico. É uma leitura visual sobre uma extraordinária nova mídia de impressão
de imagens que existiu no século 16, na Europa", descreve. O
elenco, segundo ele, será "universal", como em seus últimos
filmes.
VJ
Há outras duas razões para a
visita de Greenaway ao Brasil.
Amanhã, ele realiza uma palestra no seminário Fronteiras do
Pensamento, em Porto Alegre.
Em setembro, ele é uma das
principais atrações do Videobrasil, festival de arte eletrônica que acontece em São Paulo.
Para o festival, ele prepara
uma performance de VJ, na
qual vai remixar ao vivo cenas
de "Tulse Luper Suitcases" (as
malas de Tulse Luper), filme
realizado entre 2002 e 2003
com sete horas de duração.
A obra já foi descrita pelo diretor como a "descoberta do
urânio" e "92 histórias sobre o
ouro do Holocausto". Tulse Luper é um escritor que viveu em
várias prisões.
A performance será ao ar livre, na rua ao lado do Sesc da
avenida Paulista. Uma exposição com as 92 malas de Tulse
Luper, as quais "contêm todas
as informações do mundo", e
palestras completam a participação de Greenaway.
Nas palestras no Brasil, ele
defenderá suas idéias: o cinema
está ultrapassado e precisa ser
reinventado.
"Fiz cinema nos últimos 30
anos e posso afirmar: o cinema
é chato. É uma reprodução do
teatro dramático do século 19,
pessoas fingindo ser o que não
são, cenários saídos de novelas
antigas. O cinema não entendeu [Jorge Luis] Borges ou [Italo] Calvino, continuam refazendo Balzac e Dickens. Os enredos remoem os épicos cristãos e os dramas psicológicos",
afirmou em entrevista à Folha,
por telefone, de Amsterdã.
Mas o que falta ao cinema
hoje? "Em um novo mundo,
um mundo digital, de informação, da segunda revolução de
Gutemberg, acho que nós precisamos de mais interatividade, escolhas e de possibilidades
multimídia", afirma.
"Estou em busca de um cinema que muda, que é diferente a
cada novo olhar. Isso é necessariamente não-narrativo, não
é uma colagem de textos. E há
também outro elemento que
tem a ver com os DJs nas discotecas, o prazer físico, o estímulo geral, dos olhos, dos ouvidos,
que fazem com que o corpo se
mova. É por isso que encorajo
as pessoas a dançarem durante
a minha performance. É como
ir a uma discoteca, mas estruturada como um cinema muito
contemporâneo. É isso que eu
tenho feito nos últimos dois
anos e é o que pretendo reproduzir em São Paulo."
Para realizar o trabalho de
VJ, Greenaway utiliza um aparato especial. "Tenho um extraordinário equipamento de
TV, baseado em "touch screen"
[telas sensíveis ao toque]. Posso apertar e projetar imagens,
cerca de 3.000 ou 4.000, numa
série de telas múltiplas, associadas à música", explica.
O artista se aproximou também de outras ferramentas
contemporâneas, como a internet, e as mescla com artes clássicas, como a ópera e cinema.
(Greenaway tem seu avatar,
um personagem que o representa, no site Second Life. Seu
nome é Tulse Luper).
"No fim, cria-se um produto
que se manifesta em formas
clássicas de arte, como o cinema e a ópera, e também em formatos contemporâneos. É um
produto da era da informação,
no qual a internet e a navegação pelo mundo virtual são
centrais."
Colaborou EDUARDO SIMÕES
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