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Chinesa vira estrela com eletrônica e ritmos mongóis
Sa Dingding, 25, faz sucesso na Ásia, onde vendeu 2 milhões de CDs; novo disco, "Alive", chega agora à Europa e aos EUA
Elogiada pela imprensa britânica, cantora acredita que o pop chinês encontra barreiras por "ficar copiando a música ocidental"
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Os violentos agudos da Ópera
de Pequim sempre afugentaram os ouvidos mais frágeis do
Ocidente. A música chinesa, do
pop ao erudito, nunca fez muito
sucesso fora da Ásia.
Uma pequenina e bela cantora chinesa pretende mudar esse
desconhecimento. Com um
mix de eletrônica e ritmos
mongóis e tibetanos, Sa Dingding, 25, é a grande esperança
pop da China, em uma das
áreas onde o país está longe de
ser potência.
Ela já ganhou um prêmio da
BBC de world music, vendeu 2
milhões de discos na Ásia, e a
gravadora Universal está lançando seu "Alive" na Europa e
nos Estados Unidos.
Na semana que vem, ela começa uma série de apresentações no Reino Unido, na Irlanda e no festival Womad. No dia
30, apresenta-se no Royal Albert Hall, em Londres.
DJs como Paul Oakenfold e
Deep Forest foram convocados
para fazer remixes das canções
de Sa Dingding.
A imprensa britânica está encantada com ela. A revista Mojo
a descreveu como o filme "O Tigre e o Dragão", só que com trilha sonora dos Cocteau Twins.
O jornal "The Daily Telegraph"
a chamou de "Björk chinesa",
ainda que ressalve seu som como um "genérico Massive Attack em chinês".
"Ao contrário dos músicos
africanos ou dos brasileiros, o
pop chinês sempre ficou copiando a música ocidental, então não provoca interesse fora
daqui. E os músicos europeus e
americanos têm experiência e
marketing que nós não temos",
diz a jovem cantora à Folha.
De Mariah a Björk
O pop chinês é majoritariamente dominado por bandas
andróginas que imitam os
Backstreet Boys e cantoras
chorosas que fazem Céline
Dion parecer contida. Sa Dingding reclama desse cenário.
"Quem decide a programação de rádios e TV deveria ter
um gosto mais sofisticado. Um
pop idêntico está em todo lugar
aqui", diz.
Mas foi com o pop mais baba
que Sa conheceu a música ocidental. Depois de passar parte
da infância como nômade na
Mongólia Interior, onde nasceu, ela viveu em Jian, onde
cantava músicas de Mariah Carey e Whitney Houston.
Anos depois, estudou música
em Pequim, onde ficou em segundo lugar em um concurso
para jovens cantoras.
Nos últimos anos, apareceu
em programas musicais da
CCTV, a poderosa rede estatal,
e na MTV chinesa. Hoje, diz
que tem influências de Peter
Gabriel e Björk. E adora os Chemical Brothers.
Biografia sob medida
Com seus trajes de princesa
asiática, que ela mesma desenha, e sua música tradicional,
pero no mucho, Sa Dingding
não é apenas uma atração sob
medida para o catálogo da
world music mundo afora.
Sua biografia também vem a
calhar para o regime comunista, um retrato de integração étnica que o noticiário tem desmentido nos últimos meses
-com enormes protestos de tibetanos e muçulmanos em províncias ocupadas e reprimidas
pela China.
"Meu pai é Han [etnia majoritária no país] e minha mãe é
mongol. Canto em mandarim,
tibetano, sânscrito e lugu lugu,
e ainda me sinto completamente chinesa", diz.
Ela esteve quatro vezes no
Tibete, onde gravou um videoclipe para seu disco, de uma
canção tibetana. "Tenho vários
amigos tibetanos, eles nunca
demonstraram nenhuma raiva
contra os chineses".
Questionada sobre o que
pensa do dalai-lama, o exilado
líder espiritual do budismo tibetano, ela responde que não
pode emitir opiniões sobre alguém que nunca viu. Sa Dingding é budista.
ALIVE
Artista: Sa Dingding
Gravadora: Universal (importado)
Quanto: US$ 27 (cerca de R$ 43) na
Amazon, mais taxas
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