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MÚSICA
Com esta remessa, relançamentos da discografia do norte-americano já são 39; Eldorado promete chegar aos 66 até agosto
Pacote traz oito títulos de Frank Zappa
MAGALY PRADO
do Folha Informações
Frank Zappa (1940-1993), o
compositor mais criativo e iconoclasta da história do rock, continua a ter pacotes de sua discografia chegando ao mercado pelo catálogo da Rykodisc. A promessa
da gravadora Eldorado, responsável pelo lançamento no Brasil, é
soltar 66 CDs até mês que vem.
Aos sobreviventes fanáticos,
atentem para a nova remessa, que
faz a marca chegar ao número 39.
A leva traz os primórdios da carreira do aloprado músico.
Nos anos 60, Los Angeles era a
metrópole ideal para que a música "zappiana" surgisse. Seu trabalho elaborado deu uma dimensão
artística à cultura jovem.
Mensagem brechtiana
Em meio ao mundinho "freak",
Zappa detonou uma amostra de
sua monstruosidade com o primeiro álbum duplo do rock e primeiro álbum conceitual da década: "Freak Out", de mensagem
brechtiana. A agressão como forma de conscientização. O disco é
a estréia de Zappa com sua banda,
"The Mothers of Invention".
A música "Who Are The Brain
Police?" é o exemplo que satiriza o
comportamento dos policiais californianos. "Freak Out" foi banido das rádios, amaldiçoado pelos
pais e mestres, e Zappa, eleito o
inimigo número 1 dos moralistas.
A resposta de Zappa foi o segundo disco, "Absolutely Free",
que abre com a voz do presidente
dos Estados Unidos Lyndon
Johnson na música "Plastic People", uma alegoria à estupidez da
classe média americana e seu
imobilismo diante da polícia nefasta de seus dirigentes.
"Absolutely Free" é musicalmente mais complexo que "Freak
Out", e Zappa começa a trabalhar
com estruturas diversas, aplicando-as em um contexto de rock.
A sociedade de consumo é o alvo do sarcasmo. A música "Son of
Suzy Creamcheese" mostra esses
conceitos com uma absurda estrutura rítmica de 6 tempos diferentes, em 1min34s.
Já o disco "Lumpy Gravy" é
uma homenagem aos compositores John Cage e Edgar Varese,
dois gênios norte-americanos
desconhecidos do grande público. A música de Zappa sofreu
grande influência deste último.
Paródia
Em plena era da psicodelia,
Zappa produziu o mais explosivo
disco de sua carreira, "We're Only
In It For The Money" ("Nós Só
Estamos Nisso Pelo Dinheiro").
Por ser uma paródia descarada
do "Sargent Peppers", dos Beatles, demorou seis meses para ser
lançado, graças a um processo
movido por Paul McCartney.
O álbum foi um projétil com endereço certo: a cultura hippie e
suas distorções imbecilóides,
uma premonição do que se tornaria a revolução jovem dos anos 60.
O disco é desconcertante. Colagens estrambólicas se sobrepõem
a rocks simples, enquanto as letras satirizam os desbundados e
os protótipos familiares.
"Cruising With Ruben & The
Jets" é um retorno ao som básico
do "rhythm & blues". Na contracapa, o músico explica que se trata de um disco de canções de
amor malucas e de simplicidade
cretina.
A inventividade de Zappa não
encontra limites, chegando ao cinema. Tenta realizar um filme,
"Uncle Meat", em 1968, o qual é
apenas a preparação para o documentário anárquico "200 Motels", de 1971.
Zappa começa a mudar, dando
atenção ao instrumental, mais solos caóticos de guitarra, ritmos
mais enlouquecidos e orquestrações bizarras.
Para ter na coleção, obras com
os "zappianismos" mais singulares, o álbum "Sleep Dirt" (a faixa-título é uma canção suave composta para violão, que destoa
completamente do restante) e
"Joe's Garage" são recomendáveis. Destaque para as músicas
"Filthy Habits" e "Watermelon In
Easter Hay".
Não se assuste ao ouvir o som
de Frank Zappa, que, a princípio,
pode parecer intragável. Depois
de escutar mais, vai perceber sua
superação. Aí, é paixão ou ódio.
Discos: "Freak Out", "Absolutely Free",
"Lumpy Gravy", "We're Only In It For The
Money", "Cruising With Ruben & The
Jets", "Uncle Meat", "Sleep Dirty" e "Joe's
Garage"
Artista: Frank Zappa
Lançamento: Eldorado
Quanto: R$ 18, em média; R$ 36, os
duplos
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