São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999
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MÚSICA
Com esta remessa, relançamentos da discografia do norte-americano já são 39; Eldorado promete chegar aos 66 até agosto
Pacote traz oito títulos de Frank Zappa

MAGALY PRADO
do Folha Informações

Frank Zappa (1940-1993), o compositor mais criativo e iconoclasta da história do rock, continua a ter pacotes de sua discografia chegando ao mercado pelo catálogo da Rykodisc. A promessa da gravadora Eldorado, responsável pelo lançamento no Brasil, é soltar 66 CDs até mês que vem.
Aos sobreviventes fanáticos, atentem para a nova remessa, que faz a marca chegar ao número 39. A leva traz os primórdios da carreira do aloprado músico.
Nos anos 60, Los Angeles era a metrópole ideal para que a música "zappiana" surgisse. Seu trabalho elaborado deu uma dimensão artística à cultura jovem.

Mensagem brechtiana
Em meio ao mundinho "freak", Zappa detonou uma amostra de sua monstruosidade com o primeiro álbum duplo do rock e primeiro álbum conceitual da década: "Freak Out", de mensagem brechtiana. A agressão como forma de conscientização. O disco é a estréia de Zappa com sua banda, "The Mothers of Invention".
A música "Who Are The Brain Police?" é o exemplo que satiriza o comportamento dos policiais californianos. "Freak Out" foi banido das rádios, amaldiçoado pelos pais e mestres, e Zappa, eleito o inimigo número 1 dos moralistas.
A resposta de Zappa foi o segundo disco, "Absolutely Free", que abre com a voz do presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson na música "Plastic People", uma alegoria à estupidez da classe média americana e seu imobilismo diante da polícia nefasta de seus dirigentes.
"Absolutely Free" é musicalmente mais complexo que "Freak Out", e Zappa começa a trabalhar com estruturas diversas, aplicando-as em um contexto de rock.
A sociedade de consumo é o alvo do sarcasmo. A música "Son of Suzy Creamcheese" mostra esses conceitos com uma absurda estrutura rítmica de 6 tempos diferentes, em 1min34s.
Já o disco "Lumpy Gravy" é uma homenagem aos compositores John Cage e Edgar Varese, dois gênios norte-americanos desconhecidos do grande público. A música de Zappa sofreu grande influência deste último.

Paródia
Em plena era da psicodelia, Zappa produziu o mais explosivo disco de sua carreira, "We're Only In It For The Money" ("Nós Só Estamos Nisso Pelo Dinheiro").
Por ser uma paródia descarada do "Sargent Peppers", dos Beatles, demorou seis meses para ser lançado, graças a um processo movido por Paul McCartney.
O álbum foi um projétil com endereço certo: a cultura hippie e suas distorções imbecilóides, uma premonição do que se tornaria a revolução jovem dos anos 60.
O disco é desconcertante. Colagens estrambólicas se sobrepõem a rocks simples, enquanto as letras satirizam os desbundados e os protótipos familiares.
"Cruising With Ruben & The Jets" é um retorno ao som básico do "rhythm & blues". Na contracapa, o músico explica que se trata de um disco de canções de amor malucas e de simplicidade cretina.
A inventividade de Zappa não encontra limites, chegando ao cinema. Tenta realizar um filme, "Uncle Meat", em 1968, o qual é apenas a preparação para o documentário anárquico "200 Motels", de 1971.
Zappa começa a mudar, dando atenção ao instrumental, mais solos caóticos de guitarra, ritmos mais enlouquecidos e orquestrações bizarras.
Para ter na coleção, obras com os "zappianismos" mais singulares, o álbum "Sleep Dirt" (a faixa-título é uma canção suave composta para violão, que destoa completamente do restante) e "Joe's Garage" são recomendáveis. Destaque para as músicas "Filthy Habits" e "Watermelon In Easter Hay".
Não se assuste ao ouvir o som de Frank Zappa, que, a princípio, pode parecer intragável. Depois de escutar mais, vai perceber sua superação. Aí, é paixão ou ódio.


Discos: "Freak Out", "Absolutely Free", "Lumpy Gravy", "We're Only In It For The Money", "Cruising With Ruben & The Jets", "Uncle Meat", "Sleep Dirty" e "Joe's Garage" Artista: Frank Zappa Lançamento: Eldorado Quanto: R$ 18, em média; R$ 36, os duplos

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