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Crítica
Filme equilibra retrato do artista e busca do pai
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Quem só conhece Marina Person daqueles
programas bobocas da
MTV terá uma grata surpresa
ao ver "Person". É um filme belo, sensível e maduro, que equilibra admiravelmente o registro afetivo e o histórico.
Luiz Sergio Person (1936-76), pai da diretora, teve uma
vida breve e intensa, e deu ao cinema duas obras fundamentais: "São Paulo S/A" (1965) e
"O Caso dos Irmãos Naves"
(1967). O primeiro radiografa a
formação da nossa torta modernidade urbana; o segundo
investiga o autoritarismo e a
brutalidade arraigados na nossa estrutura sociopolítica.
O lugar de Person na cultura
nacional, em especial nos efervescentes anos 60, é delineado
com clareza no filme por meio
de depoimentos de gente que
conviveu e trabalhou com ele.
De Raul Cortez a Jorge Ben
Jor, de Antunes Filho a Jean-Claude Bernardet, os testemunhos compõem a imagem multifacetada de um criador inquieto, que não se acomodou às
facilidades que sua sólida formação poderia lhe proporcionar, mas queimou constantemente seus navios para recomeçar sempre quase do zero.
Em paralelo a esse eixo, a diretora persegue outro caminho, mais pessoal, o da busca
do pai ausente, que morreu
quando ela tinha seis anos. Entram aí imagens de filmes domésticos e evocações das três
mulheres deixadas pelo cineasta: a viúva Regina Jehá e as filhas Marina e Domingas. É claro que essas duas linhas se entrelaçam a todo momento, até
porque a personalidade passional de Person acabava tocando
seus parceiros de trabalho.
Alguns assuntos esboçados
poderiam ser mais desenvolvidos: a relação complicada do
paulista Person com os cariocas do cinema novo; a formação
em Roma; as tentativas de fazer
cinema popular (com "Panca
de Valente" e "Cassy Jones"). O
filme é curto (74 min.) para
uma vida tão rica.
Um dos registros mais contundentes recuperados é a entrevista de Person à TV Cultura, pouco antes de sua morte.
Por trás do humor cáustico
com que o cineasta fustiga os
publicitários e da ironia com
que rememora altos e baixos,
nota-se indisfarçável amargura, talvez por conta das frustrações com seu projeto mais caro,
a adaptação de "A Hora dos Ruminantes", de José J. Veiga.
Dias depois, Marina perderia
o pai e o Brasil perderia um de
seus grandes artistas. "Person"
é a expiação dessa dupla dor.
PERSON
Direção: Marina Person
Produção: Brasil, 2007
Onde: em cartaz a partir de amanhã no Espaço Unibanco
Avaliação: bom
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