São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor tenta escapar do "abatedouro" dos filmes

André Klotzel lança longa de modo alternativo, para atrair o espectador

Cineasta diz que se viu "a caminho do nada", ao notar boas produções de colegas afundarem na bilheteria de cinema

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

À alegria da obra concluído, no final de 2009, sucedeu-se o desânimo. "Eu me sentia a caminho de um abatedouro de filmes", diz André Klotzel, paulista que fez, entre outros, "A Marvada Carne" (1985) e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (2001).
O jeito de escapar do abatedouro, pensou o cineasta, era arriscar um atalho. Era assumir que, para 90% dos filmes brasileiros, a conquista do público se tornou um fardo impossível de carregar.
Dos 34 longas que chegaram neste ano às telas, apenas cinco ultrapassaram a casa dos 100 mil espectadores; 22 deles venderam menos de 10 mil ingressos.
"Eu me vi na iminência de seguir o mesmo caminho de muitos colegas, que é o nada", diz. "Quase fechei um contrato, mas voltei atrás. As distribuidoras querem filmes televisivos. Quem não tem essa cara está indo para um patamar baixíssimo."

FILMES INVISÍVEIS
O golpe de misericórdia no ânimo já abatido de Klotzel foi o que aconteceu ao filme "É Proibido Fumar".
Premiado no Festival de Brasília, bem falado em todos os cantos e estrelado por Glória Pires, o filme de Anna Muylaert tinha tudo para ir bem nas salas. Pois não chegou aos 50 mil ingressos.
A sina da invisibilidade, que vem perseguindo os filmes independentes brasileiros, marcou também "Os Inquilinos", elogiado filme de Sergio Bianchi, e "Olhos Azuis", de José Joffily.
O primeiro não conseguiu virar a casa dos 10 mil espectadores; o segundo, apesar da estreia em 20 salas, ficou nos 13,8 mil.
"Depois de uma semana em cartaz, os filmes vão parar numa única sessão, às 17h20, em Divinópolis [MG]", provoca Klotzel, referindo-se a um mercado formatado para receber, em velocidade cada vez maior, os blockbusters estrangeiros. "Não há tempo nem para o público gostar e criar o boca a boca."
O cineasta tentou, então, criar sua própria algazarra. "Não estamos na era dos filmes-evento, tipo "Avatar'? Então também estou criando o meu evento. Um evento minimalista", ri.

CHEGA DE FINGIR
Sua referência mercadológica é o "road-show", modelo adotado nos Estados Unidos nos anos 1970.
Produtores independentes colocavam o filme em uma sala de Los Angeles e em outra de Nova York para criar, em oposição aos grandes lançamentos, um certo sabor de exclusividade.
A técnica foi copiada, aqui, no início dos anos 1980, por "Memórias do Cárcere", com direção de Nelson Pereira dos Santos.
O filme estreou apenas no Gazetinha e, depois de ter sessões lotadas, expandiu-se para outras salas.
"Não sei o que vai dar. Mas pode servir, pelo menos, para provocar essa discussão", diz Klotzel. "Não dá para fingir que está tudo bem."


Texto Anterior: Folha.com
Próximo Texto: Crítica Comédia: Klotzel mostra maturidade ao tratar, com "belo sorriso", a angústia de existir
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.