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Diretor tenta escapar do "abatedouro" dos filmes
André Klotzel lança longa de modo alternativo, para atrair o espectador
Cineasta diz que se viu "a caminho do nada", ao notar boas produções de colegas afundarem na bilheteria de cinema
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
À alegria da obra concluído, no final de 2009, sucedeu-se o desânimo. "Eu me
sentia a caminho de um abatedouro de filmes", diz André
Klotzel, paulista que fez, entre outros, "A Marvada Carne" (1985) e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (2001).
O jeito de escapar do abatedouro, pensou o cineasta,
era arriscar um atalho. Era
assumir que, para 90% dos
filmes brasileiros, a conquista do público se tornou um
fardo impossível de carregar.
Dos 34 longas que chegaram neste ano às telas, apenas cinco ultrapassaram a
casa dos 100 mil espectadores; 22 deles venderam menos de 10 mil ingressos.
"Eu me vi na iminência de
seguir o mesmo caminho de
muitos colegas, que é o nada", diz. "Quase fechei um
contrato, mas voltei atrás. As
distribuidoras querem filmes
televisivos. Quem não tem
essa cara está indo para um
patamar baixíssimo."
FILMES INVISÍVEIS
O golpe de misericórdia no
ânimo já abatido de Klotzel
foi o que aconteceu ao filme
"É Proibido Fumar".
Premiado no Festival de
Brasília, bem falado em todos os cantos e estrelado por
Glória Pires, o filme de Anna
Muylaert tinha tudo para ir
bem nas salas. Pois não chegou aos 50 mil ingressos.
A sina da invisibilidade,
que vem perseguindo os filmes independentes brasileiros, marcou também "Os Inquilinos", elogiado filme de
Sergio Bianchi, e "Olhos
Azuis", de José Joffily.
O primeiro não conseguiu
virar a casa dos 10 mil espectadores; o segundo, apesar
da estreia em 20 salas, ficou
nos 13,8 mil.
"Depois de uma semana
em cartaz, os filmes vão parar numa única sessão, às
17h20, em Divinópolis [MG]",
provoca Klotzel, referindo-se
a um mercado formatado para receber, em velocidade cada vez maior, os blockbusters estrangeiros. "Não há
tempo nem para o público
gostar e criar o boca a boca."
O cineasta tentou, então,
criar sua própria algazarra.
"Não estamos na era dos filmes-evento, tipo "Avatar'?
Então também estou criando
o meu evento. Um evento minimalista", ri.
CHEGA DE FINGIR
Sua referência mercadológica é o "road-show", modelo adotado nos Estados Unidos nos anos 1970.
Produtores independentes
colocavam o filme em uma
sala de Los Angeles e em outra de Nova York para criar,
em oposição aos grandes
lançamentos, um certo sabor
de exclusividade.
A técnica foi copiada,
aqui, no início dos anos
1980, por "Memórias do Cárcere", com direção de Nelson
Pereira dos Santos.
O filme estreou apenas no
Gazetinha e, depois de ter
sessões lotadas, expandiu-se
para outras salas.
"Não sei o que vai dar. Mas
pode servir, pelo menos, para provocar essa discussão",
diz Klotzel. "Não dá para fingir que está tudo bem."
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