Texto de Otavio Frias Filho será encenado por Roney Facchini

DE SÃO PAULO

Numa tarde da adolescência, as amigas Nescau e Rosa tentam se entender com uma receita de bolo. Do livro de instruções culinárias de avó a que acodem, escapole uma carta que atiça o ciúme da segunda. Não é mera birra juvenil: as meninas se amam.
Dos rumores, maridos e dissimulações que se interpõem entre elas com o passar dos anos é que se encarrega a peça "Utilidades Domésticas", do jornalista, escritor e dramaturgo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha. O texto tem leitura hoje, no auditório do Masp, no projeto Letras em Cena.
A dramaturgia intercala o registro objetivo do realismo (por exemplo, no pedido de desculpas do marido de Rosa por seu comportamento errante) com irrupções de fantasia, na figura de uma fada que tanto pode se valer de seus predicados mágicos para tirar Rosa de uma enrascada quanto se esconder num traje de frentista para servir de conselheira sentimental.
"O grande lance é que é realismo fantástico. Há cenas [com um tom] quase de novela, mas também rupturas que instauram a dúvida: é real ou não?", diz Roney Facchini, que participa da leitura como ator e diretor.
Ele avalia ter nas mãos "personagens secos, quase arquetípicos, mas num sentido mais extremo do que no da commedia dell'arte", teatro popular improvisado da Itália medieval. O extremo a que se refere inclui um estupro e o rapto de um bebê.