São Paulo, Segunda-feira, 09 de Agosto de 1999
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PINTURA
Frida Kahlo é atração em exposição no Rio

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

"Auto-Retrato com Macacos", óleo sobre tela pintado pela artista mexicana Frida Kahlo em 1943, é uma das atrações de uma grande mostra de pintura mexicana contemporânea que será aberta ao público dia 18, no Paço Imperial (centro do Rio).
Kahlo é uma das preciosidades da coleção do casal Jacques e Natasha Gelman a partir dos anos 40, considerada uma das mais completas coleções de arte mexicana contemporânea.
O pintor e muralista Diego Rivera, marido de Frida Kahlo e um dos mais conhecidos artistas mexicanos, também estará representado na exposição.
São dez telas -os grandes murais ficaram de fora-, entre eles "Retrato da Senhora Natasha Gelman", de 1943, obra que deu início à coleção.
Entre os 73 trabalhos que ficarão expostos no Rio, até 19 de setembro, há ainda seis trabalhos de outro importante artista mexicano, José Clemente Orozco, considerado uma figura primordial do muralismo mexicano, e um de Miguel Covarrubias -por coincidência, um retrato de Rivera.
Frida Kahlo e Diego Rivera formaram, nos anos 30, uma espécie de casal-símbolo do chamado renascimento mexicano.
A partir de 1910, com a revolução liderada por Emiliano Zapata, o México vivia um cenário de renovação cultural. Foi naquele contexto que Rivera e Kahlo se encontraram, no final dos anos 20.
Ele já era um nome respeitado no meio cultural mexicano. Aos 44 anos, havia passado uma longa temporada na Europa, conhecido Picasso, Braque e Modigliani, flertado com o cubismo e se interessado pelos gigantescos afrescos italianos do século 15, que o inspiraram a criar os murais.
Frida Kahlo era uma jovem artista pouco conhecida e que sofria com as sequelas de um acidente de ônibus que sofrera aos 18 anos, quando seu corpo foi trespassado por metais da carroceria.
Em 29, os dois se casaram -ele, com 44, ela, com 22. Rivera incentivou a mulher a pintar.
Segundo críticos de arte, a influência de Rivera no trabalho de Kahlo é bastante visível. Já a de Kahlo sobre Rivera é mais sutil.
Sobre a mulher, Rivera escreveu: "Frida é um exemplo único na história da arte de alguém que abre seu peito e seu coração para mostrar sua verdade biológica e como se sente com isso".
Mas o grande elogio veio de Picasso. Na única carta de que se tem notícia que escreveu para o mexicano, Picasso afirma: "Nem eu, nem Derain, nem você. Nenhum de nós consegue pintar uma cabeça como Frida pinta".
Brigas, separações e acusações de traição marcaram a vida do casal. Debilitada por seus eternos problemas de saúde, Kahlo morreu em julho de 1954. Três anos depois, morreu Rivera.
A "descoberta" de Kahlo e Rivera pelo mercado internacional aconteceu a partir de 81, quando a casa de leilões Christie's, de Londres, inaugurou seu departamento de arte latino-americana.
"Auto-Retrato na Fronteira entre México e Estados Unidos", de Kahlo, é vendido por US$ 35 mil (pouco mais de R$ 63 mil).
Catorze anos depois, em 95, um trabalho de Kahlo bate o recorde em leilões de obras latino-americanas. O colecionador argentino Eduardo Costantini comprou, por US$ 3,2 milhões (cerca de R$ 5,8 milhões), a tela "Auto-Retrato com Macaco e Papagaio".
Além da exposição, trechos de textos escritos por Frida Kahlo serão encenados no Paço Imperial durante a exposição.


O quê: Coleção Gelman de Arte Mexicana Quando: de 18 de agosto a 19 de setembro Onde: Paço Imperial (Praça 15, 48, centro do Rio) Quanto: entrada gratuita


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