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"BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA"
Obra exalta os "subversivos" Balzac e Victor Hugo
JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma valise cheia de livros
de autores ocidentais, como
Honoré de Balzac e Victor Hugo,
muda a vida de três jovens chineses cercados pela turbulenta e intolerante Revolução Cultural de
Mao Tse-tung, o momento de
maior radicalismo do regime
maoísta. Romances estrangeiros,
rezava o ideário daquela época na
China, correspondiam geralmente a material burguês, que se refugiava na ficção para evitar "os
problemas reais que o comunismo iria resolver".
No livro "Balzac e a Costureirinha Chinesa", Dai Sijie, um chinês
radicado na França, monta a saga
de dois jovens enviados para a
"reeducação" com os camponeses no interior do país. Esses filhos
de intelectuais repetem o destino
de milhões de chineses, e a trama
se desenrola ao mostrar o convívio entre "reeducadores" e
"aprendizes".
Mao Tse-tung, que comandou a
chegada do comunismo ao poder
em 1949, iniciou, 17 anos depois,
um dos momentos de maior fervor e fanatismo revolucionário
deste século. A fim de recuperar a
popularidade perdida por conta
de fracassos na economia e se livrar de rivais de disputas no interior do Partido Comunista, criou
a infame Revolução Cultural. O
período, que foi até 1976, caracterizou-se por um religioso culto à
personalidade de Mao e radicalização de suas teses ideológicas.
Guardas vermelhos brandiam o
"Livro Vermelho", espécie de bíblia escrita por Mao. Vistos com
desconfiança, intelectuais e seus
filhos acabaram nos confins da
China, enviados para a "reeducação". Sijie, nascido em 54, foi um
desses. Ficou na província de Sichuan, ao lado do Tibete, entre 71
e 74, experiência que inspirou seu
livro, um painel vivo e ágil de um
dos momentos mais conturbados
da história moderna chinesa.
O narrador e seu amigo Luo
despencam num vilarejo para serem "reeducados" sob o peso do
trabalho agrícola e dos esforços
exigidos pela extração de minérios. Encontram uma mala com
livros de Balzac, Hugo, Charles
Dickens e outros, que se transformam em valiosa janela para o
mundo exterior. Luo se apaixona
pela jovem costureira da aldeia.
Conta a ela histórias proibidas de
autores ocidentais. Influenciada
por Balzac, a camponesa se livra
de imposições do "código de conduta" e evidencia o "teor subversivo" dos livros ocidentais.
Em seu primeiro romance, o cineasta Dai Sijie participa da onda
atual de intelectuais chineses que
mergulham em estudos sobre os
dez anos de duração da Revolução Cultural, descritos pelo próprio PC como a "década perdida".
O fundamentalismo maoísta,
refratário a influências externas,
isolou o país, fechou escolas e universidades na campanha antiintelectuais e trouxe à China uma turbulência política que nocauteou a
economia. Hoje, o Partido Comunista já desistiu de deificar Mao.
Ele continua a ser reverenciado,
mas a ideologia oficial admite que
a Revolução Cultural foi o seu
principal erro. Foi quando apresentou Balzac à costureirinha.
Balzac e a Costureirinha Chinesa
Ótimo
Autor: Dai Sijie
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 16, em média (154 págs.)
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