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"Gestual do rock me causa desconforto", diz Murphy
COLUNISTA DA FOLHA
A seguir, a entrevista por e-mail
com James Murphy, do LCD
Soundsystem, que falou à Folha
sobre o aguardado primeiro disco
do grupo, música na internet e a
explosão do cenário rock-dance
de Nova York.
(LR)
Folha - Você tem sua banda, o
LCD Soundsystem, e a gravadora
DFA Records, "entidades" que foram o motor dessa movimentação
de Nova York que nos últimos dois
anos resultou em muitas e boas
bandas novas. O caldo rendeu o estilo punk-funk, que caminhou em
paralelo com a cena do electroclash
e a vibração roqueira capitaneada
pelos Strokes. Como você analisa
essa efervescência do som nova-iorquino destes últimos tempos e
como está inserido nela?
James Murphy - Isso foi dessas
coisas orgânicas que aconteceram
em Nova York e que balançaram
a cidade. E que hoje está ocorrendo em Berlim. Foi intenso, divertido, vivo. Essa história do rock da
turma dos Strokes, Yeah Yeah
Yeahs aconteceu muito fora da
idéia de música na qual estávamos envolvidos. Sabíamos que ela
existia, que as bandas estavam
por ali, que havia essas festas de
electro. Mas tínhamos cenas distintas, cada um na sua.
Na verdade, quando o que havia
eram essas festinhas de rock, a
DFA começou a dar as suas, que
basicamente eram feitas para fazer as pessoas dançarem. Movidas a house e tecno, em bares em
que você poderia ouvir rock também. E daí, depois, todas as revistas e jornais falaram das cenas de
Nova York e tudo ficou tão intenso que até hoje não sei qual papel
direto tivemos na coisa toda.
Folha - E como está a música em
Nova York, hoje?
Murphy - Ficou meio tediosa,
agora. Eu ouço os mesmos DJs tocarem os mesmos discos. As boas
coisas estão todas separadas, novamente. Não é mais uma "cena
única". Há tantas "roubadas" que
às vezes você até se conforma em
ser arrastado para o rock estudantil, no qual o padrão é ser incrivelmente "entediante" e colegial. Os
anos 90 estão de volta, eu posso
senti-los.
Folha - Em dois anos você lançou
alguns singles bem conceituados
pelo LCD e também produziu discos
dos outros. O que você espera para
lançar o primeiro disco do LCD?
Murphy - O disco sai em janeiro,
no próximo lote de lançamentos
da DFA. Estou esperando reunir
para esse disco de estréia todos os
elementos que vão me fazer orgulhoso de colocar um CD na loja,
porque lançar um álbum é bem
diferente de lançar singles. A idéia
é que músicas como "Losing My
Edge" e "Yeah" não estejam no
CD, porque não quero fingir que
essas músicas são novas, quando
não são. Mas o álbum do LCD
Soundsystem virá com dois CDs,
um só para os singles.
Folha - Como você descreveria a
performance ao vivo do LCD?
Murphy - Basicamente, somos
cinco pessoas tentando tocar o
melhor que podemos, como uma
banda verdadeira. Tentamos ouvir o que cada um está tocando e
fazer disso conjuntamente algo
muito barulhento. Outra definição seria que a banda ao vivo é um
cara grande com uma camiseta
chamativa que toca com quatro
amigos que precisam agüentar esse cara grande apontar para eles o
tempo todo, pedindo para tocar
assim ou assado.
Folha - Neste ano o LCD
Soundsystem saiu do underground
nova-iorquino para tocar em grandes festivais europeus. Como você
vê essa "internacionalização" de
sua banda?
Murphy - Vejo de um modo estranho. Eu não consigo enxergar
nosso lugar na música pop de hoje. É claro para mim que somos
diferentes da maioria das bandas
que tocam nesses lugares. Eles fazem coisa que não fazemos. Não
que eu ache errado o que eles fazem. Simplesmente não atuamos,
nos comportamos ou tocamos do
mesmo modo. Todo esse gestual
do rock me causa um desconforto
muito grande.
Folha - Como músico e produtor,
como você vê o fenômeno da troca
gratuita de música pela internet?
Murphy - Eu não me importo.
Posso até dizer que isso é uma
grande coisa, porque a música de
muitos artistas pode chegar a vários ouvidos sem passar pelo esquema vicioso mantido pelas majors. Mas, como a maioria da música feita é muito ruim, quem se
importa? Acho que o aumento de
downloads tem a ver com o fato
de os grandes artistas virarem estrelas, se acomodarem com o dinheiro que ganham e se tornarem
chatos. Param de fazer música
boa, já que estão com a vida feita.
Com a possível exceção do Outkast, quais outros artistas você vê
que atingem o sucesso e continuam fazendo grandes músicas,
desafiadoras, inteligentes? A
maioria dos álbuns tem duas canções boas e o resto é lixo para ocupar espaço. Quem quer comprar
um disco assim, se em minutos
pode baixar as duas músicas boas
que o CD tem? A pressão agora está sobre os artistas, que precisam
se virar cada vez mais para fazer
algo bom e verdadeiro e novo o
bastante para fazer as pessoas tirarem a bunda da frente do computador e saírem para comprar o
disco.
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