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Sinfônica feminina une música e vaidade
Uso excessivo de chapinha fez cair a energia elétrica na estréia da Sinfônica Sopra Mulheres, de Tatuí, no interior de São Paulo
Grupo se apresenta em novembro no Memorial da América Latina e prepara concerto com músicas que levam nomes de mulheres
JOSÉ EDUARDO RONDON
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TATUÍ
Antes da primeira apresentação oficial de uma banda sinfônica formada apenas por mulheres, o teatro, lotado com 450
pessoas, quase sofreu um apagão originado por um motivo
tipicamente feminino: a energia elétrica caía o tempo todo
por causa do uso excessivo de
chapinha pelas integrantes do
grupo, nos camarins.
"Todas nós ficamos disputando o espelho do camarim. A
força caía a toda hora", diz a
percussionista Luana Oliveira,
19, ao se lembrar da estréia da
Banda Sinfônica Sopra Mulheres, no teatro Procópio Ferreira, em Tatuí (137 km de SP), em
28 de junho deste ano. "Mas,
apesar da vaidade, nosso foco é
a qualidade musical."
A banda é formada por cerca
de 30 alunas, com idades entre
15 e 39 anos, do Conservatório
Dramático e Musical Doutor
Carlos de Campos, de Tatuí. O
repertório vai do erudito ao popular: elas tocam peças musicais como "Aquarela do Brasil",
de Ary Barroso, "Cântico das
Criaturas", de Jim Curnow, e
trilhas sonoras de filmes como
"Missão Impossível".
No comando do grupo, a
maestrina Cibele Sabioni, 31,
diz que essa é a única banda sinfônica da América Latina formada exclusivamente por mulheres. "Não existe nenhum
grupo efetivo, que ensaie toda
semana, com uma formação só
feminina."
A idéia de formar a Sopra
Mulheres partiu da tubista
Aparecida Madalena Ribeiro,
26, que apresentou a intenção
ao maestro Antônio Carlos Neves Ramos, diretor do conservatório (leia na página ao lado).
A Sopra Mulheres é um dos
cerca de 50 grupos do conservatório -o maior em ensino
gratuito de música da América
Latina, segundo a direção. A
entidade, com um orçamento
em torno de R$ 17 milhões por
ano, é mantida pelo governo
paulista. No local estudam
3.000 alunos.
Ensaio
A Folha acompanhou, na
terça-feira, um ensaio da banda
no teatro Procópio Ferreira.
Antes da prática musical, parte
das musicistas "tricota" nos camarins e revela detalhes da
convivência do grupo.
A maioria das mulheres é de
outras cidades e mora em repúblicas ou no alojamento oferecido pelo conservatório. Quatro delas são de outros países
-duas do Peru, uma da Argentina e uma do Paraguai.
Algumas musicistas recebem
bolsas de estudo de R$ 300 pelo trabalho em outras bandas
ou orquestras. "Não pude solicitar bolsa para elas no início
do ano, pois não previ a criação
da banda. Como o grupo está
tendo visibilidade, acho que
não terei dificuldades em conseguir", diz o maestro Neves,
como é chamado pelas meninas o diretor do conservatório.
Para a trompetista Agatha
Fernanda Gallo, 19, a convivência em uma banda sinfônica
apenas entre mulheres às vezes
leva a situações "estressantes".
Em uma delas, a chegada de
duas componentes com vestidos iguais em uma apresentação causou constrangimento.
"No final, ficou tudo certo. Damos sempre muitas risadas."
"Melhor sem homens"
Na opinião da flautista Gilonita Pedroso, 22, as festas e viagens são mais divertidas por estarem apenas entre garotas.
"Passamos oito horas dançando e cantando em um ônibus
para uma apresentação no Rio
de Janeiro. Acho que se houvesse homens seria diferente.
[Sem homens] Nós ficamos
bem mais à vontade."
A banda já se apresentou cinco vezes. Para outubro, está
prevista uma nova apresentação em Tatuí, e em novembro a
Sopra Mulheres se apresentará
no Memorial da América Latina, em São Paulo. Até o momento, o grupo não recebe nada pelas exibições.
"Estamos iniciando um trabalho e é muito gratificante receber um convite e participar
de eventos importantes", diz a
maestrina. Para o futuro, preparam um concerto com músicas que levam nomes de mulheres. "Lígia" (Tom Jobim), "Maria, Maria" (Milton Nascimento) e "Rosa" (Pixinguinha) farão parte do repertório.
Outra meta da Sopra Mulheres é a gravação de um CD e de
um DVD. Para isso, elas esperam contar nos próximos meses com patrocínios.
"Queremos tocar pelo Brasil,
tocar no exterior, representar
as mulheres", afirma a maestrina Cibele Sabioni.
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