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Crítica
"Vôo United 93" dribla demagogia
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É quase impossível achar um
assunto pior que o de "Vôo
United 93" (TC Pipoca, 20h):
um avião seqüestrado em 11/
9/2001 que devia detonar um
alvo específico, a Casa Branca,
se bem me lembro. Os passageiros, no entanto, reagiram e
deram-lhe outro destino, que,
aliás, é bem conhecido: o avião
caiu longe de seu destino.
Ou seja: não é uma história
com final feliz. Que fio puxar,
então? O do heroísmo e do patriotismo dos passageiros e tripulantes que desmontaram o
plano dos terroristas seria uma
idéia demagógica, poderia encher os cinemas, mas produziria um filme desinteressante.
O diretor e roteirista Paul
Greengrass fixou-se em outro
princípio. Somos seres de ação.
Diante de uma situação crítica,
nada nos resta senão a possibilidade de agir. É em torno disso
que se desenvolve o filme, pois
o vôo United 93, entre o seqüestro e seu alvo, era o mais
longo de todos, o que permitiu
aos passageiros estabelecer
contato com seus parentes em
terra e conhecer seu destino.
Fazer alguma coisa diante
disso, agir, não era uma questão apenas de defender a pátria
de um ataque infame, mas de
defender a própria vida. Não
necessariamente a sua vida,
mas a vida em si, a dignidade da
existência. Enfim, tudo isso
que aprendemos a cultivar com
o cinema da primeira metade
do século 20, e que a segunda
mostrou não passar de farsa.
Neste belo filme, Greengrass
nos restitui o mistério do homem e de seus atos.
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