São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Crítica

"Vôo United 93" dribla demagogia

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É quase impossível achar um assunto pior que o de "Vôo United 93" (TC Pipoca, 20h): um avião seqüestrado em 11/ 9/2001 que devia detonar um alvo específico, a Casa Branca, se bem me lembro. Os passageiros, no entanto, reagiram e deram-lhe outro destino, que, aliás, é bem conhecido: o avião caiu longe de seu destino.
Ou seja: não é uma história com final feliz. Que fio puxar, então? O do heroísmo e do patriotismo dos passageiros e tripulantes que desmontaram o plano dos terroristas seria uma idéia demagógica, poderia encher os cinemas, mas produziria um filme desinteressante.
O diretor e roteirista Paul Greengrass fixou-se em outro princípio. Somos seres de ação. Diante de uma situação crítica, nada nos resta senão a possibilidade de agir. É em torno disso que se desenvolve o filme, pois o vôo United 93, entre o seqüestro e seu alvo, era o mais longo de todos, o que permitiu aos passageiros estabelecer contato com seus parentes em terra e conhecer seu destino.
Fazer alguma coisa diante disso, agir, não era uma questão apenas de defender a pátria de um ataque infame, mas de defender a própria vida. Não necessariamente a sua vida, mas a vida em si, a dignidade da existência. Enfim, tudo isso que aprendemos a cultivar com o cinema da primeira metade do século 20, e que a segunda mostrou não passar de farsa.
Neste belo filme, Greengrass nos restitui o mistério do homem e de seus atos.


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