São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

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MÚSICA

Crítica/"The Resistance"

Ironia do Muse salva novo álbum, que flerta com anos 70

Banda tem proximidade com progressivo, mas grandiosidade é bem-humorada

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é qualquer um que tem a manha de fechar um disco com um tríptico, uma peça dividida em três partes. Mas ambição sempre foi uma qualidade do Muse. "The Resistance", o quinto disco de estúdio desse trio inglês, sai nesta semana na Europa -no Brasil, a Warner lança daqui a poucos dias.
O álbum, que já caiu na internet, vem com 11 faixas -as três últimas são o épico "Exogenesis Symphony". Mais de 40 músicos foram escalados para participar de "Exogenesis Symphony Part 1 (Overture)", "Exogenesis Symphony Part 2 (Cross-Pollination)", e "Exogenesis Symphony Part 3 (Redemption)" -atitude grandiloquente, que remete ao que de pior já foi feito no rock progressivo.
Mas o Muse trata o pomposo com humor, até com um certo desdém, autoironia. E é isso que não nos faz vomitar ao encarar esse tríptico sinfônico com influências eruditas.
Essa aproximação com o rock progressivo, além do tom vocal de Matt Bellamy, leva o Muse a ser comparado eternamente ao Radiohead. Algo injusto, pois Thom Yorke e cia. são ainda mais ambiciosos, se alimentam de free jazz e de eletrônica experimental. Essa grandiosidade faz o Muse parecer um estranho no ninho no rock britânico -contrastam com a crueza de bandas como Arctic Monkeys, Libertines, Bloc Party etc. Mas ajudou o trio a se tornar um dos nomes mais bem-sucedidos do Reino Unido -fecham festivais como Reading e enchem grandes estádios sozinhos.
Matt Bellamy é fã de histórias fantásticas, de ficção científica e presta bastante atenção em teorias de conspiração. São temas que permeiam as músicas do Muse, como na distópica "United States of Eurasia" e na roqueira "Resistance".
Em 2008 e no início deste ano, muito se falou no Reino Unido sobre como soaria este álbum do Muse. O disco foi ganhando ares de mistério. Houve o rumor que o Muse faria como o Radiohead: colocaria o disco na rede e deixaria os fãs escolherem quanto pagar; disseram que seria um álbum eletrônico. Nada disso. "The Resistance" terá lançamento convencional, e os elementos eletrônicos aparecem como coadjuvantes.
Orquestrada, espacial, pop e para cima, "Uprising" está entre as melhores coisas já feitas pelo Muse -não à toa, abre o álbum e foi escolhida como primeiro single. Já "Undisclosed Desires" traz Bellamy cantando em cima de um synthpop que não soaria estranho em um disco do Duran Duran. O Muse erra feio em "I Belong to You/Mon Coeur S'ouvre à ta Voix", em que pretensamente tenta retrabalhar uma ária da ópera "Sansão e Dalila".
"The Resistance" traz uma banda com o ego lá em cima -mas que ainda conserva os pés no chão.


THE RESISTANCE

Artista: Muse
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo




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