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MÚSICA
Crítica/"The Resistance"
Ironia do Muse salva novo álbum, que flerta com anos 70
Banda tem proximidade com progressivo, mas grandiosidade é bem-humorada
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é qualquer um que
tem a manha de fechar
um disco com um tríptico, uma peça dividida em três
partes. Mas ambição sempre
foi uma qualidade do Muse.
"The Resistance", o quinto
disco de estúdio desse trio inglês, sai nesta semana na Europa -no Brasil, a Warner lança
daqui a poucos dias.
O álbum, que já caiu na internet, vem com 11 faixas -as três
últimas são o épico "Exogenesis Symphony".
Mais de 40 músicos foram
escalados para participar de
"Exogenesis Symphony Part 1
(Overture)", "Exogenesis
Symphony Part 2 (Cross-Pollination)", e "Exogenesis
Symphony Part 3 (Redemption)" -atitude grandiloquente, que remete ao que de pior já
foi feito no rock progressivo.
Mas o Muse trata o pomposo
com humor, até com um certo
desdém, autoironia. E é isso
que não nos faz vomitar ao encarar esse tríptico sinfônico
com influências eruditas.
Essa aproximação com o
rock progressivo, além do tom
vocal de Matt Bellamy, leva o
Muse a ser comparado eternamente ao Radiohead. Algo injusto, pois Thom Yorke e cia.
são ainda mais ambiciosos, se
alimentam de free jazz e de eletrônica experimental.
Essa grandiosidade faz o Muse parecer um estranho no ninho no rock britânico -contrastam com a crueza de bandas como Arctic Monkeys, Libertines, Bloc Party etc. Mas
ajudou o trio a se tornar um dos
nomes mais bem-sucedidos do
Reino Unido -fecham festivais
como Reading e enchem grandes estádios sozinhos.
Matt Bellamy é fã de histórias fantásticas, de ficção científica e presta bastante atenção
em teorias de conspiração. São
temas que permeiam as músicas do Muse, como na distópica
"United States of Eurasia" e na
roqueira "Resistance".
Em 2008 e no início deste
ano, muito se falou no Reino
Unido sobre como soaria este
álbum do Muse. O disco foi ganhando ares de mistério. Houve o rumor que o Muse faria como o Radiohead: colocaria o
disco na rede e deixaria os fãs
escolherem quanto pagar; disseram que seria um álbum eletrônico. Nada disso.
"The Resistance" terá lançamento convencional, e os elementos eletrônicos aparecem
como coadjuvantes.
Orquestrada, espacial, pop e
para cima, "Uprising" está entre as melhores coisas já feitas
pelo Muse -não à toa, abre o álbum e foi escolhida como primeiro single.
Já "Undisclosed Desires"
traz Bellamy cantando em cima
de um synthpop que não soaria
estranho em um disco do Duran Duran.
O Muse erra feio em "I Belong to You/Mon Coeur S'ouvre à ta Voix", em que pretensamente tenta retrabalhar uma
ária da ópera "Sansão e Dalila".
"The Resistance" traz uma
banda com o ego lá em cima
-mas que ainda conserva os
pés no chão.
THE RESISTANCE
Artista: Muse
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo
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