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Patrice Chèreau prega a liberdade
O diretor francês, um dos mais prestigiados do mundo, encena, no Brasil, textos de Dostoiévski e Duras
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Patrice Chèreau não nega ter
um quê de hiperativo. "São tantas as ideias, tantas as coisas a
fazer. Impossível parar", diz,
em entrevista à Folha, de Paris.
Antes de embarcar para o Brasil, onde apresenta-se hoje,
Chèreau ainda exibiria seu novo filme, "Persécution", no
Festival de Veneza. Não raro,
entre um filme e uma peça, ele
encaixa uma ópera, como a
aplaudida versão de "Tristão e
Isolda", de Wagner, montada
no Scala de Milão, sob regência
de Daniel Barenboim.
Chèreau, desde que debutou
como diretor, aos 19 anos, no
palco do liceu Louis-le-Grand,
em Paris, jamais desacelerou.
Mas, a despeito de ter se dado
no teatro sua consagração
mundial, foi muito mais pelo
cinema que ele tornou-se conhecido por aqui, com filmes
como "Rainha Margot" (1994)
e "Intimidade" (2001). Pois, finalmente, o público brasileiro
descobrirá o Chèreau sempre
aplaudido: aquele do palco.
No Sesc Anchieta, ele lerá "O
Grande Inquisidor", trecho de
"Os Irmãos Karamazov", de
Dostoiévski, e dirigirá a atriz
Dominique Blanc, em "La Douleur", texto de Marguerite Duras. Os dois espetáculos serão
apresentados também no Porto Alegre em Cena.
Ler, para Chèreau, é dividir
com o público a descoberta de
um texto. "Dostoiévski é um
autor imenso. Este texto é uma
reflexão inacreditável sobre a
liberdade humana, sobre o fato
de que os homens, não raro,
preferem renunciar à liberdade
em nome de um prato de comida. É inacreditavelmente premonitório", define. Igualmente
poderoso é "La Douleur", que
Marguerite Duras escreveu enquanto esperava o marido voltar de um campo de concentração nazista, em 1945. "Também é um texto duro.
Mas a arte não serve para nos tirar da
imobilidade?" O diretor acha,
porém, que está cada dia mais
difícil manter de pé a arte.
Aquela irrequieta. "Na França,
é a TV que financia o cinema. E
o interesse é por filmes comerciais. O teatro sempre foi difícil
e, na crise, tenho a sensação de
que, quando se pensa na primeira coisa sem a qual podemos viver, se pensa na cultura."
Chèreau está aqui para provar
que não é bem assim.
LE GRAND INQUISITEUR
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova,
245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 30
Classificação: 14 anos
LA DOULEUR
Quando: sáb., às 21h, e dom., às 19h
Onde: Sesc Anchieta
Classificação: 14 anos
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