São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Patrice Chèreau prega a liberdade

O diretor francês, um dos mais prestigiados do mundo, encena, no Brasil, textos de Dostoiévski e Duras

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Patrice Chèreau não nega ter um quê de hiperativo. "São tantas as ideias, tantas as coisas a fazer. Impossível parar", diz, em entrevista à Folha, de Paris. Antes de embarcar para o Brasil, onde apresenta-se hoje, Chèreau ainda exibiria seu novo filme, "Persécution", no Festival de Veneza. Não raro, entre um filme e uma peça, ele encaixa uma ópera, como a aplaudida versão de "Tristão e Isolda", de Wagner, montada no Scala de Milão, sob regência de Daniel Barenboim.
Chèreau, desde que debutou como diretor, aos 19 anos, no palco do liceu Louis-le-Grand, em Paris, jamais desacelerou. Mas, a despeito de ter se dado no teatro sua consagração mundial, foi muito mais pelo cinema que ele tornou-se conhecido por aqui, com filmes como "Rainha Margot" (1994) e "Intimidade" (2001). Pois, finalmente, o público brasileiro descobrirá o Chèreau sempre aplaudido: aquele do palco.
No Sesc Anchieta, ele lerá "O Grande Inquisidor", trecho de "Os Irmãos Karamazov", de Dostoiévski, e dirigirá a atriz Dominique Blanc, em "La Douleur", texto de Marguerite Duras. Os dois espetáculos serão apresentados também no Porto Alegre em Cena.
Ler, para Chèreau, é dividir com o público a descoberta de um texto. "Dostoiévski é um autor imenso. Este texto é uma reflexão inacreditável sobre a liberdade humana, sobre o fato de que os homens, não raro, preferem renunciar à liberdade em nome de um prato de comida. É inacreditavelmente premonitório", define. Igualmente poderoso é "La Douleur", que Marguerite Duras escreveu enquanto esperava o marido voltar de um campo de concentração nazista, em 1945. "Também é um texto duro.
Mas a arte não serve para nos tirar da imobilidade?" O diretor acha, porém, que está cada dia mais difícil manter de pé a arte. Aquela irrequieta. "Na França, é a TV que financia o cinema. E o interesse é por filmes comerciais. O teatro sempre foi difícil e, na crise, tenho a sensação de que, quando se pensa na primeira coisa sem a qual podemos viver, se pensa na cultura." Chèreau está aqui para provar que não é bem assim.


LE GRAND INQUISITEUR

Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 30
Classificação: 14 anos

LA DOULEUR

Quando: sáb., às 21h, e dom., às 19h
Onde: Sesc Anchieta
Classificação: 14 anos




Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Marcelo Coelho: Os feriados de Matisse
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.