São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A volta de King

Fred R. Conrad - 3.out.2006/"New York Times"
O escritor Stephen King, 59, que lança novo livro nos Estados Unidos


MOTOKO RICH
DO "NEW YORK TIMES"

Stephen King claramente não encontra dificuldades para invocar as musas: com mais de 40 livros publicados, ele parece não ter problemas para colocar palavras no papel, apesar de ter anunciado publicamente que pretendia se aposentar, quatro anos atrás.
Mas King, 59, mais conhecido por histórias envolventes de terror como "Carrie, a Estranha" e "O Iluminado", diz que escrever um livro é diferente de escrever um livro realmente bom. E é isso que ele acredita ter feito com "Lisey's Story" [a história de Lisey], romance que sai nos EUA pela editora Scribner em 24 de outubro. [No Brasil, a Objetiva, editora de King no país, ainda não tem previsão de lançamento para a obra.]
"É como os surfistas e a sétima onda", disse ele em entrevista, em agosto. "Você deixa passar seis ondas razoáveis, e então chega a sétima, que é excelente." Mas a cada "sétima onda", você acaba caindo da prancha, "de modo que é só uma vez a cada 49 tentativas que você consegue uma onda espetacular. Foi assim que me senti com "Lisey's Story'".
Dessa vez, King, um dos poucos escritores que atingiu popularidade semelhante à de um astro de rock, escreveu um romance que, como "Saco de Ossos", de 1998, ou as histórias mais curtas de "As Quatro Estações", de 1982, não abandona completamente os elementos do gênero horror, mas certamente o transcende.
O cerne de "Lisey's Story" é um relato sobre um casamento e a jornada pela dor que uma viúva -a personagem-título- tem de enfrentar depois da morte do marido, Scott Landon, um escritor com popularidade digna de astro de rock.
E o horror? Scott, e posteriormente Lisey, se deslocam do mundo convencional para uma realidade alternativa, tanto bela quanto monstruosa, chamada "Boo'ya Moon".

Best-seller
O nome de King na capa de um livro em geral garante sucesso de vendas. Mas, retomando um tema que o preocupa há muito tempo, King quer que os leitores e os críticos reconheçam que ele não é apenas um escritor comercial.
"Depois que você conquista reputação devido às suas vendas, tem de conviver com o rótulo de que é necessário escrever para o mínimo denominador comum", disse ele, acomodado em uma poltrona da suíte que ocupava em um hotel do Upper East Side [em Nova York], usando uma camiseta azul, jeans e mocassins. "Tudo que tento fazer é trabalhar sempre mais e melhor."
Com "Lisey's Story", King acrescenta: "Não estou afirmando que se trate de prosa imortal, ou de um clássico, mas posso dizer que me surpreendi por ter conseguido escrever um livro assim. É um livro afortunado".
Embora a editora esteja planejando uma primeira tiragem de cerca de 1,1 milhão de exemplares, a divulgação é quase como se fosse obra de um autor em ascensão, à véspera de seu primeiro best-seller.

Início
King começou a trabalhar no romance há três anos, quando estava convalescendo de uma severa pneumonia que o deixou internado quase um mês, seu segundo confronto com a morte depois de ter sido atropelado por um furgão em 1999. O romance teve origem, segundo ele, logo depois que voltou do hospital, período em que sua mulher, Tabitha, havia começado a redecorar seu escritório. Ao chegar à sala de trabalho, um celeiro reformado, os tapetes tinham sido removidos, e a maior parte de seus livros e papéis estavam encaixotados.
"Eu entrei, e mal conseguia andar, mal conseguia respirar", lembra King. "Pensei que era aquela a aparência que um lugar tinha quando alguém morria. Pensei comigo mesmo que era daquele jeito que um fantasma se sentiria."
Mas o que ele realmente desejava fazer, afirma, era "escrever um livro sobre uma mulher que na verdade representava a força vital, em um casamento com um homem muito famoso". Ainda que sua mulher seja um modelo óbvio para a protagonista, King se apressa em apontar diferenças. Tabitha King também é romancista, enquanto Lisey não trabalha. O casal King tem três filhos, e os Landon nenhum. Ainda assim, diz, "o livro na verdade deveria tratar sobre a descoberta de alguém que compreende o que é viver a imaginação".
No romance, Scott Landon é um escritor que recebeu um prêmio Pulitzer e um National Book Award, e escreve livros de sucesso popular e enormes vendas. King não ganhou nenhum dos dois prêmios.
O escritor assustou os fãs ao ameaçar aposentadoria, alguns anos atrás. "Eu não me sentia bem", disse. "O acidente me causou muitas dores."
Mas ele de alguma maneira não foi capaz de abandonar a escrita. "Quando comecei a me sentir melhor, percebi que queria trabalhar."


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Objetiva publicará "Cell", livro anterior
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.