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GUILHERME WISNIK
O horizonte negativo
Livro do urbanista Mike Davis analisa mudanças ocorridas em metrópoles do Terceiro Mundo nos anos 80 e 90
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SERÁ" LANÇADO amanhã o livro
"Planeta Favela" (Boitempo,
272 págs., R$ 38), do urbanista
e pesquisador americano Mike Davis. A realizar-se na FAU Maranhão
(r. Maranhão, 88, Higienópolis, SP),
a partir das 18h30, o evento inclui
debate com os professores Chico de
Oliveira, Luís César de Queiroz Ribeiro e Ermínia Maricato. Intelectual marxista de origem operária, e
chofer de caminhão, Davis é autor,
entre outros, do clássico "Cidade de
Quartzo Escavando o Futuro em
Los Angeles" (Scritta Editorial,
1993, esgotado).
Com posfácio de Ermínia Maricato e um caderno de fotos de André
Cypriano, "Planeta Favela" desdobra e amplifica questões formuladas
em artigo homônimo de 2004, já comentado nessa coluna (em 3 e 10 de
julho deste ano).
Em linhas gerais, o
livro descreve e analisa, a partir de
uma sólida massa de dados, as dramáticas transformações urbanas
ocorridas nas metrópoles do Terceiro Mundo nos anos 1980 e 1990,
através das políticas econômicas
impostas pelo FMI e pelo Banco
Mundial. Vale dizer, anos de intensa
urbanização sem industrialização, e
acompanhada da explosão do trabalho informal e das favelas: "resíduos
globais" responsáveis por "armazenar o excedente de humanidade do
século 21".
Assim, traça o retrato de
uma nova geografia humana das
metrópoles, caracterizada pelo convívio contrastante entre massas de
excluídos e "ilhas de riqueza" (condomínios ricos fortificados) -estas,
interconectadas tanto por auto-estradas e aeroportos quanto por sistemas de identidades criadas pelo
consumo de marcas publicitárias.
Enclaves dissociados do seu entorno imediato, mas integrados no sistema de signos da globalização, essas "ilhas" são habitadas por indivíduos que se sentem menos cidadãos
dos seus países do que "patriotas da
riqueza mundial".
Diagnosticando o crescimento endêmico do fanatismo religioso nas
favelas e o abandono, por parte do
Estado, das políticas de bem-estar
social e do suprimento de infra-estrutura básica, Davis parece não ver
redenção possível nas redes de solidariedade criadas nessas comunidades, cujas lutas são episódicas e descontínuas. Igualmente, considera
ilusórias as ações de ONGs e movimentos sociais no sentido de procurar reverter a marcha da pobreza urbana. A "radicalidade" dessa crítica,
no entanto, não escapa de ser taxada
de catastrofista. Refiro-me, por
exemplo, aos ataques feitos por Tom
Angotti, professor no Hunter College de Nova York, parcialmente endossados por Maricato. Para Angotti, o discurso de Davis, além de imobilista, revela-se, no fundo, moralista e antiurbano. Também em contraposição a Davis, poderíamos lembrar de Milton Santos, para quem as
áreas pobres, dada a "lentidão" e a
"opacidade" dos seus territórios, são
os lugares da "redenção possível" no
mundo contemporâneo.
Se, em lente aproximada, podemos objetar que as favelas brasileiras não são sinônimos absolutos de
anemia e marginalização, em registro ampliado, devemos admitir que
a negatividade de sua análise é o
ponto de partida mais realista para
qualquer projeto de ação futura.
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