|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LCD reflete crise de identidade de Nova York
Música que diz "Nova York, te amo, mas você está me deprimindo", torna-se hino
Após ser considerada a meca do novo rock em 2000,
cidade vive vazio de bandas boas, festas e, principalmente, idéias
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SEATTLE
Outra "brincadeira" de James Murphy nas letras do LCD
Soundsystem está no título da
música que fecha o CD "Sound
of Silver", finalizou o show de
Seattle e tem encerrado os
shows da banda. É a balada (isso já causa estranheza) que descamba para o rock "New York, I
Love You but You're Bringing
Me Down" (Nova York, te amo,
mas você está me deprimindo).
"É uma piada interna. Nova
York tem alguns problemas,
mas amo a cidade", diz James
Murphy, sem querer se aprofundar muito nos "problemas".
O que acontece é que, para
um certo grupo de pessoas
atuante no rock, na cultura
clubber e na noite em geral, Nova York vive um período de trevas. Um vazio de bandas boas,
público esperto, festas animadas e, principalmente, idéias.
Nova York começou os anos
2000 como meca do novo rock,
das festas em clubinhos e apartamentos e da fusão do som de
guitarras com batidas eletrônicas, desde que os Strokes gritaram "Last Nite", em 2001, e o
Rapture balançou as pistas com
"House of Jealous Lovers". Em
crise de identidade, a cidade ganha com a música do LCD um
hino-testamento involuntário.
O CBGB fechou. Faz tempo
que ninguém liga para o que o
"New York Times" escreve sobre música. Quer se inteirar em
som novo, de pista ou garagem,
festas e agitos culturais, leia os
blogs de Los Angeles.
Uma das principais bandas
de Nova York, a Interpol, abre
seu novo disco com o single
"Heinrich Maneuver", que pergunta: "Como estão as coisas na
Costa Oeste?". O interlocutor
da Costa Leste (Nova York)
mostra na letra um certo rancor ao falar do "brilho" que
emana do outro lado do país,
enquanto ele ficou sozinho, na
solidão. Não faz muito tempo,
Karen O, vocalista do Yeah
Yeah Yeahs, outra banda-emblema nova-iorquina, mudou-se para Los Angeles.
A revista "Time Out", de Nova York, publicou em junho
uma capa polêmica, que declarava "morte aos hipsters" e
apontava uma solução para
"salvar a cidade". Hipsters, os
"zumbis culturais" segundo a
revista, são pessoas que vão a
um show ou a uma festa não
por gostar da banda ou saber o
que está rolando. Vão no embalo, por "estar na moda", e acabam afugentando os "verdadeiros freqüentadores". "Vamos
matá-los e trazer a "Nova York
cool" novamente", diz a revista.
O último suspiro da "Nova
York cool" foi dado há poucas
semanas, quando a ex-badalada
festa Misshapes declarou seu
fim, e seus promotores foram
fazer festas na Europa. Está em
Manhattan e vai a um show ou
uma festa? Má idéia. Ao menos
atravesse a ponte e divirta-se
no Brooklyn.
(LÚCIO RIBEIRO)
Texto Anterior: Lei de Murphy Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|