São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LCD reflete crise de identidade de Nova York

Música que diz "Nova York, te amo, mas você está me deprimindo", torna-se hino

Após ser considerada a meca do novo rock em 2000, cidade vive vazio de bandas boas, festas e, principalmente, idéias

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SEATTLE

Outra "brincadeira" de James Murphy nas letras do LCD Soundsystem está no título da música que fecha o CD "Sound of Silver", finalizou o show de Seattle e tem encerrado os shows da banda. É a balada (isso já causa estranheza) que descamba para o rock "New York, I Love You but You're Bringing Me Down" (Nova York, te amo, mas você está me deprimindo).
"É uma piada interna. Nova York tem alguns problemas, mas amo a cidade", diz James Murphy, sem querer se aprofundar muito nos "problemas".
O que acontece é que, para um certo grupo de pessoas atuante no rock, na cultura clubber e na noite em geral, Nova York vive um período de trevas. Um vazio de bandas boas, público esperto, festas animadas e, principalmente, idéias.
Nova York começou os anos 2000 como meca do novo rock, das festas em clubinhos e apartamentos e da fusão do som de guitarras com batidas eletrônicas, desde que os Strokes gritaram "Last Nite", em 2001, e o Rapture balançou as pistas com "House of Jealous Lovers". Em crise de identidade, a cidade ganha com a música do LCD um hino-testamento involuntário.
O CBGB fechou. Faz tempo que ninguém liga para o que o "New York Times" escreve sobre música. Quer se inteirar em som novo, de pista ou garagem, festas e agitos culturais, leia os blogs de Los Angeles.
Uma das principais bandas de Nova York, a Interpol, abre seu novo disco com o single "Heinrich Maneuver", que pergunta: "Como estão as coisas na Costa Oeste?". O interlocutor da Costa Leste (Nova York) mostra na letra um certo rancor ao falar do "brilho" que emana do outro lado do país, enquanto ele ficou sozinho, na solidão. Não faz muito tempo, Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeahs, outra banda-emblema nova-iorquina, mudou-se para Los Angeles.
A revista "Time Out", de Nova York, publicou em junho uma capa polêmica, que declarava "morte aos hipsters" e apontava uma solução para "salvar a cidade". Hipsters, os "zumbis culturais" segundo a revista, são pessoas que vão a um show ou a uma festa não por gostar da banda ou saber o que está rolando. Vão no embalo, por "estar na moda", e acabam afugentando os "verdadeiros freqüentadores". "Vamos matá-los e trazer a "Nova York cool" novamente", diz a revista.
O último suspiro da "Nova York cool" foi dado há poucas semanas, quando a ex-badalada festa Misshapes declarou seu fim, e seus promotores foram fazer festas na Europa. Está em Manhattan e vai a um show ou uma festa? Má idéia. Ao menos atravesse a ponte e divirta-se no Brooklyn. (LÚCIO RIBEIRO)


Texto Anterior: Lei de Murphy
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.