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Nova ordem provoca disputa na música
Gravadoras assumem o comando da carreira de artistas como Ana Cañas e Maria Rita; empresários do setor reclamam
A Day1, que substitui a Sony BMG, cuidará da carreira de Cañas, que lança seu disco de estréia em novembro; Maria Rita está com Warner
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma nova ordem tomando forma no mundo musical do
Brasil. Quem melhor exemplifica essas mudanças é uma cantora de 27 anos que está sendo
tratada como uma das principais promessas de voz do país.
Em abril de 2006, a Ilustrada publicava reportagem sobre
o encolhimento do mercado de
venda de CDs, que gerou, como
conseqüência, uma movimentação das gravadoras para buscar novas formas de ganho com
seus artistas, como a divisão da
renda da bilheteria de shows.
Essa movimentação consolidou-se definitivamente nos últimos dias, quando a Day1 fechou contrato com sua primeira artista, a cantora Ana Cañas.
A multinacional Sony BMG
mudou sua razão social para
Day1 Entertainment. O objetivo? Deixar de ser apenas gravadora para tornar-se "gerenciadora da carreira de artistas".
Além de lançar o disco de Cañas, no início de novembro, a
Day1 cuidará de toda a carreira
da cantora: agendamento de
shows, negociação de patrocínios, venda de merchandising...
Em outras palavras: a gravadora virou empresária da artista.
"É um contrato direto, não
tem intermediário. Se preciso
de qualquer coisa, falo diretamente com eles", contou Cañas, que protagonizou uma
bem-sucedida temporada no
Baretto, em São Paulo. "Eles
vão ter uma porcentagem [sobre a renda de shows], mas isso
seria lógico, pois eles divulgam
meu trabalho, meus shows."
Para nomes novos, esse tipo
de contrato, "direto", sem a intermediação de empresários,
está virando norma; a gravadora terá participação não apenas
na venda de discos, mas em outros negócios desses artistas.
Mesmo artistas experientes
estão sendo seduzidos por essa
nova estratégia das gravadoras.
Maria Rita, por exemplo, deixou a produtora Macuco para
ser agenciada pela Warner, que
lançou há pouco "Samba Meu",
o terceiro álbum da cantora.
Gravadoras x empresários
Essa nova ordem do mercado
fonográfico vem causando atritos entre alguns envolvidos
nesse organismo. A principal
disputa ocorre entre as gravadoras e empresários de artistas.
"Eles estão pensando que
show é salvação? O mercado de
shows está caído. Além do caso
da carteirinha de estudante, temos hoje uns 180 canais de televisão, internet, está difícil
massificar um artista", diz o
empresário Marcelo Lobato,
39, da Na Moral Produções, que
cuida da carreira de Marcelo
D2, Pitty, Lobão, entre outros.
""Nego" tá achando que show é
salvação... Eles estão chegando
tarde para a festa."
"Antigamente havia verba de
marketing, para fazer clipes,
adiantamento... Tudo vindo da
gravadora. Agora eles querem
tirar tudo isso e ainda entrar no
meu negócio?", reclama. "Não
preciso de gravadora. Se quiser,
eu mesmo gravo o disco do D2,
prenso os CDs e coloco para
vender. Posso até negociar patrocínio com alguma telefônica... O negócio deles está em xeque. Para entrar no mercado de
shows, tem de ter know-how."
"É um processo inevitável. As
gravadoras não foram desafiadas a mudar o modelo de negócio delas? O outro mercado, o
dos empresários, tem de se
adaptar a isso", rebate Alexandre Schiavo, diretor da Day1.
A metáfora do bolo é utilizada para ilustrar a nova ordem.
"Os empresários têm que diminuir sua fatia do bolo. Isso
para manter o bolo, porque, senão, não vai mais ter bolo", opina Rick Bonadio, 38, que gerencia as bandas CPM 22 e NXZero
e que, por meio da Arsenal
Eventos, trabalha em parceria
com a gravadora Universal.
"As gravadoras já deveriam
estar fazendo isso há tempos.
Em 2001, quando saí da Virgin
e abri meu selo [Arsenal Music], fiz isso: um selo com agência de entretenimento", diz Bonadio. "Os artistas e os empresários já ganharam muito dinheiro às custas das gravadoras. E ninguém nunca agradeceu. Enquanto a gravadora era
lucrativa, cada um tinha seu espaço. Agora ficou desequilibrado. A gravadora investe uma
fortuna num artista e não consegue recuperar esse dinheiro
apenas com a venda de CDs."
"Não quero dividir a fatia de
bolo de nenhum empresário",
afirma Schiavo. Ele cita como
exemplo a relação da Day1 com
a Agência Produtora -esta última é a responsável por negociar a agenda de shows de alguns artistas da gravadora.
Para Leonardo Netto, empresário de Marisa Monte e
Adriana Calcanhotto, os artistas já estabelecidos não aceitarão mudar seus contratos. "São
artistas que já contam com estrutura empresarial. Agora, os
mais novos terão que se adaptar a esse novo mundo."
"Por muito tempo a indústria
sobreviveu apenas com a venda
de discos", afirma José Antonio
Eboli, presidente da Universal
do Brasil. "Hoje isso não é mais
suficiente. É justo que tenhamos parte nessa nova equação."
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