São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011
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CRÍTICA DRAMA 'O Filme dos Espíritos' exibe dramaturgia rala e abdica da possibilidade de ser arte RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA O cinema de propaganda tem várias facetas. Há os filmes que vendem ideologias, os que vendem instituições e os muitos que se contentam em vender só mercadorias. No Brasil, a vertente mais próspera hoje é o cinema de propaganda espírita, como provam os bem-sucedidos "Bezerra de Menezes", "Nosso Lar", "As Mães de Chico Xavier" e "Chico Xavier". "O Filme dos Espíritos" é a produção mais modesta desse grupo, mas com ambições não menos elevadas: divulgar a doutrina espírita usando como ponto de partida "O Livro dos Espíritos" (1857). Inspirados livremente na obra de Allan Kardec, os diretores André Marouço e Michel Dubret criaram a história de um homem desesperado, alcoólatra e sem fé, o psiquiatra Bruno (Reinaldo Rodrigues), que perdeu a mulher para um câncer e que anos antes a havia convencido a fazer um aborto. Certo dia, prestes a pular de uma ponte, Bruno ganha de um gari uma cópia de "O Livro dos Espíritos". Pouco depois, decide procurar a ajuda de um antigo professor, Levy (Nelson Xavier). Levy não é apenas espírita como diretor das Casas André Luiz, uma das principais instituições do país baseadas nessa doutrina. Ele orientará a redenção de Bruno. Nenhum espectador deverá sentir-se logrado: logo no começo da projeção, as Casas André Luiz aparecem entre os patrocinadores e produtores (por meio da Mundo Maior Filmes, seu braço cinematográfico). E a divulgação do espiritismo é clara, objetiva, direta -até mesmo de alguns de seus princípios mais delicados, como a condenação do aborto. O problema é outro: como na maior parte do cinema de propaganda, é preciso eliminar qualquer ambiguidade. O resultado é uma dramaturgia quase sempre rala, com o agravante da encenação que beira o amadorismo. E, ao abdicar da complexidade do mundo, a obra abdica da possibilidade de ser arte.
O FILME DOS ESPÍRITOS
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