São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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CICLO
Espaço Unibanco exibe 17 filmes ligados ou inspirados no movimento criado em 1928
Cinema antropofágico visita SP

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

"Tupi or not tupi, that is the session." A paródia à célebre frase que Oswald de Andrade explanou nos anos 20 ("Tupi or not tupi, that is the question") está na programação de "Antropofagia no Cinema", mostra organizada pelo Instituto Moreira Salles e Espaço Unibanco, que começa hoje em São Paulo.
Aproveitando o tema da 24ª Bienal de São Paulo -a antropofagia-, a mostra apresenta seis longas-metragens e 11 curtas.
A antropofagia foi um movimento liderado pelo escritor Oswald de Andrade como resposta à Semana de Arte Moderna de 1922. Esta reuniu vários expoentes das artes no Brasil e tentava rediscutir os conceitos de identidade nacional e o papel que as artes representavam no país, abandonando conceitos e estilos que estariam vinculados à dominação e à ordem, recusando as artes estrangeiras.
Oswald, em 1928, escreveu o "Manifesto Antropófago" defendendo também a exaltação da cultura brasileira, mas como resultado de um processo de absorção das outras culturas, aproveitando o que elas teriam de valoroso sem, para isso, perder o viés brasileiro, tropical.
O movimento se alastrou no universo das artes brasileiras: pintura, música, cinema, teatro e literatura, cada qual com uma intensidade.
O cinema, por sua vez, sofreu influências do movimento. Assim como a cultura européia era o paradigma do mundo dos anos 20, o cinema norte-americano o era para os demais cinemas espalhados no planeta, forçando a "fagia".
Usando-se um conceito amplo de antropofagia, as chanchadas seriam grandes exemplos de como o cinema brasileiro se apropriou dos musicais hollywoodianos e pôs a etiqueta "made in Brazil".
O Espaço Unibanco, contudo, se ateve ao cinema dos anos 60 aos 80, o período mais íntimo com o movimento, como o cinema novo tão bem lembrou em suas mais importantes obras.
Os destaques, em longas, ficam para "Macunaíma" (69), de Joaquim Pedro de Andrade (o mais "antropofágico" dos filmes brasileiros), "O Anjo Nasceu" (69), filme pré-udigrudi de Julio Bressane, e "O Rei da Vela" (82), versão cinematográfica da montagem que o Oficina fez da peça de Oswald.
Os curtas remetem a figuras como Oiticica, Tarsila, Pagu e Blaise Cendrars (este último está em "Acaba de Chegar ao Brasil o Bello Poeta Francez Blaise Cendrars", de Carlos Augusto Calil).
Calil, inclusive, lembra que Cendrars realmente fez o que Oswald queria: absorveu o ideário brasileiro e, em troca, deu o seu, francês.
"Tudo é antropofagia hoje. O fato de estarmos absorvendo os valores do Primeiro Mundo, nessa globalização, não significa que estamos no caminho oswaldiano, crítico. É preciso, sempre, avaliarmos o que estamos retendo, sempre em via dupla", alerta Calil.
A mostra de cinema segue, nos próximos dias, para Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.



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