São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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ACONTECE NO RIO
Bocelli deixa o pop e faz concerto lírico

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha

Andrea Bocelli, o cantor romântico italiano que tenta se firmar como principal tenor lírico da nova geração, faz neste sábado, no Rio, a única apresentação brasileira de sua turnê sul-americana.
Em uma época de carência generalizada de jovens tenores, Bocelli surge como a salvação de sua gravadora, a PolyGram. O álbum "Time to Say Goodbye" vendeu 14 milhões de cópias no em 97, sendo superado apenas pelas Spice Girls.
Nascido em 1958, Bocelli ficou cego aos 12 anos de idade, após levar uma bolada em um jogo de futebol. Formou-se advogado, embora, na época de estudante, já tocasse piano e cantasse em clubes.
O sucesso veio em 92, quando ele gravou, em uma fita demo, uma canção composta por Zucchero e Bono Vox para Luciano Pavarotti.
Bocelli ainda traz no currículo aulas com o tenor lírico italiano Franco Corelli e está usando o sucesso pop para tentar deslanchar sua carreira como cantor erudito. "Aria", o primeiro disco dedicado à ópera, foi lançado no ano passado -e impiedosamente malhado pela crítica européia.
Conhecido no Brasil pela canção "Vivo per Lei", que gravou em dueto com a cantora Sandy, Bocelli está tentando ampliar seu repertório de óperas completas feitas no palco. Entre os próximos planos de gravação, só música erudita: "Bohème" e um disco de árias sacras.
No Rio, ele canta um programa de árias e duetos de óperas italianas, ao lado da desconhecida soprano italiana Paola Sanguinetti e acompanhado por uma orquestra.

Folha - Você tem uma carreira com duas vertentes: uma lírica e uma pop. Como será sua apresentação no Brasil?
Andrea Bocelli -
Será apenas lírica, porque este aspecto da careira dupla, na verdade, é um achado jornalístico. Creio ter apenas uma carreira, a de cantor. Um cantor empresta a voz à música que se casa melhor com a sua voz. Os tenores, ou seja, os cantores líricos de todos os tempos, sempre cantaram canções -ou seja música popular- e música operística.
Folha - Mas não há diferença na técnica vocal entre os repertórios?
Bocelli -
Técnica vocal eu só conheço uma. Assim, as minhas canções eu canto com uma linguagem diversa, porque a linguagem da musica popular é diferente e se distanciou da linguagem da música dita "culta".
Folha - Você então quer ser visto como um tenor lírico que, às vezes, canta música popular.
Bocelli -
Não, eu não quero nada. Cada um pode achar o que quiser. Obviamente, quem compra só meus discos pop, porque não gosta de ópera, dificilmente vai me considerar um tenor.
Mas você não planeja escolher um caminho específico?
Bocelli -
Eu escolhi um caminho específico. E também de muita sorte, já que os resultados obtidos foram muito além do que eu poderia esperar. Mas o meu caminho está determinado. Não faço jamais concertos de música popular. Eu me limito a gravar discos deste gênero porque é divertido e porque a música popular é um veículo importante para levar o público ao teatro e tornar-se conhecido.
Hoje em dia, há uma queixa generalizada de falta de tenores no mundo todo. Você concorda?
Bocelli -
Não estou muito de acordo, porque as vozes existem. Não existem tenores conhecidos.
²
Concerto: Andrea Bocelli Quando: amanhã, às 22h30 Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna, 3.000, Barra, tel. 021/421-1333) Quanto: de R$ 45 a R$ 190.



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