São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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CINEMA ESTRÉIAS
"Um Crime Perfeito' é imperfeito e algo criminoso

LÚCIO RIBEIRO
Editor-interino da Ilustrada

Tudo bem que Alfred Hitchcock nunca tenha dado muita bola para seu "Disque M para Matar", clássico de 1954 filmado em pouco mais de um mês pelo mestre do suspense, só para o diretor se livrar rapidinho de um contrato com a Warner Bros.
O que não dá para engolir é o que disse o produtor deste "Uma Crime Perfeito", refilmagem de "Disque M..." que estréia hoje nos cinemas brasileiros. Principalmente depois de assistir ao pretenso "remake".
Está lá, no material de divulgação de "Um Crime Perfeito" distribuído à imprensa: "Sempre gostei de "Disque M para Matar', mas sentia que o filme continha um potencial que não fora desenvolvido", afirmou Christopher Mankiewicz, responsável pela produção da refilmagem, que traz no elenco Michael Douglas e Gwyneth Paltrow.
Pois bem. Com a missão de explorar o inexplorado em "Disque M para Matar" e principalmente de trazer para os anos 90 o filme de Hitchcock, Mankiewicz convidou o diretor Andrew Davis para conduzir o thriller. Davis chegou a ser indicado ao Oscar por seu trabalho atrás das câmeras do bom "O Fugitivo", estrelado por Harrison Ford e Tommy Lee Jones, mas depois escorregou feio com o insosso "Reação em Cadeia", com Keenu Reeves.
Em "Disque M...", o velho Hitchcock, esteta máximo das "viradas" de roteiro, se debruça sobre a questão de como construir um crime perfeito. No caso, o crime é assassinato. Ray Milland faz um marido que planeja matar sua rica esposa, ficar com o dinheiro da mulher e sair limpo da história.
Milland é um jogador de tênis decadente que casou com uma socialite (Gracy Kelly) por causa da fortuna dela. Agora ele quer só o dinheiro da mulher, principalmente depois que descobre que ela o trai com um escritor de romance policial barato.
Usando de chantagem, convence um aventureiro necessitado a vir estrangular sua mulher em casa em uma hora em que estará em um jantar com amigos.
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Anos 90 Neste "Um Crime Perfeito", a atualização da trama põe o marido como um milionário de Wall Street que vê sua fortuna ir embora à medida que vai perdendo tudo no fragilizado mercado de ações atual.
Para piorar, o milionário (Michael Douglas) descobre que sua abastada mulher (Gwyneth Paltrow), com um seguro de vida avaliado em US$ 100 milhões, está tendo um tórrido caso amoroso com um artista plástico bonitão.
Temendo a dupla falência, vem à cabeça do marido traído a idéia do crime perfeito. Como o crime não compensa...
"Um Crime Perfeito", a refilmagem, seria mais um desses produtos atuais médios de Hollywood que serviriam como passatempo não fosse a referência a Hitchcock.
O problema é que seu diretor, Andrew Davis, está para Hitchcock assim como "Psicose" está para "Os Trapalhões e o Mágico de Oróz".
Mesmo tendo levantado quase US$ 20 milhões em seu fim-de-semana de estréia nos EUA, "Um Crime Perfeito" é dirigido com mão pesada. Davis força as situações para não perder de vista o roteiro de "Disque M...".
A fina atenção aos detalhes, marca de Hitchcock, é jogada no lixo pelas várias vezes em que irritantes microfones aparecem nos cantos da tela durante cenas importantes deste "Um Crime Perfeito".
Se há um "potencial inexplorado" em "Disque M para Matar", como afirmou o produtor Mankiewicz, não será com esse "Um Crime Perfeito" que Hitchcock será "aperfeiçoado".
Uma sugestão para Mankiewicz: tente a refilmagem de "Janela Indiscreta", Sylvester Stallone no papel de James Stewart e Pamela Anderson no de Grace Kelly. Talvez o resultado seja melhor que "Um Crime Perfeito".
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Filme: Um Crime Perfeito
Produção: EUA, 1998, 107 min
Direção: Andrew Davis
Com: Michael Douglas, Gwyneth Paltrow, Viggo Mortensen
Quando: estréia hoje nos cines Ibirapuera 1, Morumbi 2, Metrô Tatuapé 7, Cinearte e circuito.



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