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CINEMA ESTRÉIAS
"Um Crime Perfeito' é imperfeito e algo criminoso
LÚCIO RIBEIRO
Editor-interino da Ilustrada
Tudo bem que Alfred Hitchcock
nunca tenha dado muita bola para
seu "Disque M para Matar", clássico de 1954 filmado em pouco mais
de um mês pelo mestre do suspense, só para o diretor se livrar rapidinho de um contrato com a Warner Bros.
O que não dá para engolir é o que
disse o produtor deste "Uma Crime Perfeito", refilmagem de "Disque M..." que estréia hoje nos cinemas brasileiros. Principalmente
depois de assistir ao pretenso "remake".
Está lá, no material de divulgação
de "Um Crime Perfeito" distribuído à imprensa: "Sempre gostei de
"Disque M para Matar', mas sentia
que o filme continha um potencial
que não fora desenvolvido", afirmou Christopher Mankiewicz, responsável pela produção da refilmagem, que traz no elenco Michael Douglas e Gwyneth Paltrow.
Pois bem. Com a missão de explorar o inexplorado em "Disque
M para Matar" e principalmente
de trazer para os anos 90 o filme de
Hitchcock, Mankiewicz convidou
o diretor Andrew Davis para conduzir o thriller. Davis chegou a ser
indicado ao Oscar por seu trabalho
atrás das câmeras do bom "O Fugitivo", estrelado por Harrison Ford
e Tommy Lee Jones, mas depois escorregou feio com o insosso "Reação em Cadeia", com Keenu Reeves.
Em "Disque M...", o velho Hitchcock, esteta máximo das "viradas"
de roteiro, se debruça sobre a questão de como construir um crime
perfeito. No caso, o crime é assassinato. Ray Milland faz um marido
que planeja matar sua rica esposa,
ficar com o dinheiro da mulher e
sair limpo da história.
Milland é um jogador de tênis
decadente que casou com uma socialite (Gracy Kelly) por causa da
fortuna dela. Agora ele quer só o
dinheiro da mulher, principalmente depois que descobre que ela
o trai com um escritor de romance
policial barato.
Usando de chantagem, convence
um aventureiro necessitado a vir
estrangular sua mulher em casa
em uma hora em que estará em um
jantar com amigos.
²
Anos 90
Neste "Um Crime Perfeito", a
atualização da trama põe o marido
como um milionário de Wall
Street que vê sua fortuna ir embora
à medida que vai perdendo tudo
no fragilizado mercado de ações
atual.
Para piorar, o milionário (Michael Douglas) descobre que sua
abastada mulher (Gwyneth Paltrow), com um seguro de vida avaliado em US$ 100 milhões, está tendo um tórrido caso amoroso com
um artista plástico bonitão.
Temendo a dupla falência, vem à
cabeça do marido traído a idéia do
crime perfeito. Como o crime não
compensa...
"Um Crime Perfeito", a refilmagem, seria mais um desses produtos atuais médios de Hollywood
que serviriam como passatempo
não fosse a referência a Hitchcock.
O problema é que seu diretor,
Andrew Davis, está para Hitchcock assim como "Psicose" está
para "Os Trapalhões e o Mágico de
Oróz".
Mesmo tendo levantado quase
US$ 20 milhões em seu fim-de-semana de estréia nos EUA, "Um
Crime Perfeito" é dirigido com
mão pesada. Davis força as situações para não perder de vista o roteiro de "Disque M...".
A fina atenção aos detalhes, marca de Hitchcock, é jogada no lixo
pelas várias vezes em que irritantes
microfones aparecem nos cantos
da tela durante cenas importantes
deste "Um Crime Perfeito".
Se há um "potencial inexplorado" em "Disque M para Matar",
como afirmou o produtor Mankiewicz, não será com esse "Um Crime Perfeito" que Hitchcock será
"aperfeiçoado".
Uma sugestão para Mankiewicz:
tente a refilmagem de "Janela Indiscreta", Sylvester Stallone no papel de James Stewart e Pamela Anderson no de Grace Kelly. Talvez o
resultado seja melhor que "Um
Crime Perfeito".
²
Filme: Um Crime Perfeito
Produção: EUA, 1998, 107 min
Direção: Andrew Davis
Com: Michael Douglas, Gwyneth Paltrow,
Viggo Mortensen
Quando: estréia hoje nos cines Ibirapuera 1,
Morumbi 2, Metrô Tatuapé 7, Cinearte e
circuito.
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