São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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TEATRO
Dirigida e escrita por Gerald Thomas, "Esperando Beckett" estréia no Rio
Marília Gabriela estréia nos palcos

DA SUCURSAL DO RIO

A jornalista Marília Gabriela, 52, virou atriz. Ou pelo menos "está" atriz. A partir de sexta, ela fica cara a cara com o público na peça "Esperando Beckett", no teatro Sesc Copacabana, no Rio.
A direção é de Gerald Thomas, 46, que retorna ao universo do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989) após nove anos.
"Não gosto quando atores fazem Beckett. É lugar-comum. Vira lamentação. Atores raramente têm essa consciência maior que a Gabi tem. Ela é uma indagadora da vida pública brasileira há 30 anos", diz Thomas.
Marília Gabriela não teve pudores em aceitar o convite, feito no ar, há cinco meses, quando entrevistava o diretor. "Levei um susto. Achei interessante, mas pensei que fosse fogo de palha", disse.
A peça, escrita por Thomas, tem como mote "Esperando Godot" (53). Gabriela interpreta uma jornalista que está no estúdio de TV aguardando seu entrevistado, Beckett. Apenas em tese, ela faz o papel dela mesma. A rigor, a espera leva sua personagem à crise e a um estado de confusão, numa performance que não tem nada a ver com o ambiente jornalístico.
Thomas justifica a escolha da jornalista: "Gosto de misturar ficção e realidade". "Não tenho a pretensão de transformá-la num ator." Ele acredita que essa é uma das maneiras de "renovar o estoque" de montagens de Beckett. Para o diretor, nada de revolucionário aconteceu na vida de palco do dramaturgo desde sua morte.
E a principal causa disso seria uma exigência que o autor fez: que todas as rubricas (indicações para a montagem) de suas peças fossem seguidas à risca.
No início, Thomas queria montar o romance "Malone Morre", mas não conseguiu a liberação das Editions de Minuit. No começo dos anos 80, ele montou, em Nova York, vários textos de Beckett. Chegou até a conhecer o autor, em Paris. "Beckett só queria saber quem estava comendo quem no meio artístico em Nova York. Seus amigos morriam a cada três meses, e ele estava se sentindo isolado." Thomas afirma que Beckett detestava que sua obra fosse classificada como "teatro do absurdo". "Beckett ficava puto com essa gaiolização. Ele não tem nada de absurdo. E eu falei isso na cara do Martin Esslin, criador do termo." (CRISTIAN KLEIN)



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