|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Dirigida e escrita por Gerald Thomas, "Esperando Beckett" estréia no Rio
Marília Gabriela estréia nos palcos
DA SUCURSAL DO RIO
A jornalista Marília Gabriela,
52, virou atriz. Ou pelo menos
"está" atriz. A partir de sexta, ela
fica cara a cara com o público na
peça "Esperando Beckett", no teatro Sesc Copacabana, no Rio.
A direção é de Gerald Thomas,
46, que retorna ao universo do
dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989) após nove anos.
"Não gosto quando atores fazem Beckett. É lugar-comum. Vira lamentação. Atores raramente
têm essa consciência maior que a
Gabi tem. Ela é uma indagadora
da vida pública brasileira há 30
anos", diz Thomas.
Marília Gabriela não teve pudores em aceitar o convite, feito no
ar, há cinco meses, quando entrevistava o diretor. "Levei um susto.
Achei interessante, mas pensei
que fosse fogo de palha", disse.
A peça, escrita por Thomas, tem
como mote "Esperando Godot"
(53). Gabriela interpreta uma jornalista que está no estúdio de TV
aguardando seu entrevistado,
Beckett. Apenas em tese, ela faz o
papel dela mesma. A rigor, a espera leva sua personagem à crise e a
um estado de confusão, numa
performance que não tem nada a
ver com o ambiente jornalístico.
Thomas justifica a escolha da
jornalista: "Gosto de misturar ficção e realidade". "Não tenho a
pretensão de transformá-la num
ator." Ele acredita que essa é uma
das maneiras de "renovar o estoque" de montagens de Beckett.
Para o diretor, nada de revolucionário aconteceu na vida de palco
do dramaturgo desde sua morte.
E a principal causa disso seria
uma exigência que o autor fez:
que todas as rubricas (indicações
para a montagem) de suas peças
fossem seguidas à risca.
No início, Thomas queria montar o romance "Malone Morre",
mas não conseguiu a liberação
das Editions de Minuit. No começo dos anos 80, ele montou, em
Nova York, vários textos de Beckett. Chegou até a conhecer o autor, em Paris. "Beckett só queria
saber quem estava comendo
quem no meio artístico em Nova
York. Seus amigos morriam a cada três meses, e ele estava se sentindo isolado." Thomas afirma
que Beckett detestava que sua
obra fosse classificada como "teatro do absurdo". "Beckett ficava
puto com essa gaiolização. Ele
não tem nada de absurdo. E eu falei isso na cara do Martin Esslin,
criador do termo."
(CRISTIAN KLEIN)
Texto Anterior: Mix 2000: Festival decola com "road movie" gay Próximo Texto: Panorâmica: Stephen Daldry filma adaptação de Cunningham Índice
|