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O autor norte-americano fala à Folha sobre seu romance "O Livro das Ilusões", que chega ao Brasil no próximo dia 17
Auster se perde no labirinto de Borges
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A campainha da casa de tijolo
aparente na Segunda Avenida do
Brooklyn, em Nova York, toca
duas vezes na tarde fria da última
terça. Paul Auster, um dos principais escritores americanos da
atualidade, autor da premiada
"Trilogia de Nova York", corre
para atender à porta.
Está acompanhado do vira-lata
Jack, que ele salvou da rua há oito
anos e batizou em homenagem ao
personagem principal de "O Viajante sem Sorte" ("The Unfortunate Traveler"), um dos primeiros
romances escritos em inglês, em
1594, por Thomas Nashe.
É o próprio Auster quem recolhe e pendura o casaco do repórter da Folha e o conduz para a
mesa da cozinha. No terceiro andar de sua casa de móveis muito
escuros e fotos muito antigas nas
paredes, trabalha sua mulher, a
também escritora Siri Hustvedt;
ele prefere o porão, onde não escuta o barulho do dia-a-dia.
Agora, quem faz barulho é a faxineira Insi, que lava louça ao lado. Fumando cigarrilhas e bebendo café, Auster senta-se na cabeceira da mesa. Vamos falar de seu
mais recente romance, "O Livro
das Ilusões", o décimo, que chega
no dia 17 ao Brasil.
Nele, o personagem David Zimmer, que já havia dado as caras
em "Palácio da Lua", reaparece
como um acadêmico que acaba
de perder a mulher e os filhos
num acidente de avião e é salvo do
suicídio e do alcoolismo ao ver
por acaso parte de um curta-metragem mudo na televisão.
A comédia chama sua atenção,
tira-o do estado semicatatônico
em que se encontra e o leva a investigar a história de seu diretor, o
fictício argentino Hector Mann,
que dirigira curtas nos anos 20 para um dia sumir de vez de Hollywood, sem deixar traços.
O escritor conta que Hector
Mann apareceu de uma vez em
sua cabeça há 12 anos, já com o
sotaque espanhol e o terno tropical. Auster não aparenta seus 55
anos. Com olhos saltados e traços
árabes, fala sibilando e ilustra cada resposta com uma história.
Como a de Jorge Luis Borges.
Digo a ele que o romance lembra
um pouco os labirintos literários
do escritor argentino (1899-1986),
e se seria apenas uma coincidência ele ter escolhido a Argentina
como terra natal de seu personagem. Ele então se levanta e pega
um livro em sua biblioteca.
"Estive na Argentina no ano
passado, para o lançamento de
um livro", conta. "Foi minha primeira vez na América do Sul, uma
experiência incrível, 2.000 pessoas na noite de autógrafos."
No fim do dia, um leitor lhe deu
um livro, "La Kabbale", de 1843,
cujo subtítulo é "A Filosofia Religiosa dos Hebreus". Na primeira
página, numa letra miúda, a assinatura: "Este livro pertence a Jorge Luis Borges -1953". "Não é
muita coincidência?", comenta.
Para então responder à pergunta inicial: "Se há alguma referência à literatura borgiana em "Ilusões", não é consciente, embora
ele tenha me influenciado".
Aí, começamos a entrevista.
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