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LIVRO/LANÇAMENTO
"HÚMUS"
Escritor soteropolitano de 22 anos estréia com livro de contos inspirado em Borges, Cortázar e Cronenberg
Bullar descreve seu zoológico fantástico
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
No princípio era o céu azul. Um
piscar de olhos, elefantes, girafas e
leões. Outra olhada, corvos flamejantes, macacos raivosos e ratos
de um metro de altura. Em suma:
uma vaca chamada Cíntia, uma
mãe chamada de vaca.
Este é o mundo de Paulo Bullar,
o jovem autor de "Húmus", livro
de contos lançado pela editora
gaúcha Livros do Mal e que marca
a estréia do escritor baiano de 22
anos na dita "literatura séria". "Isso para mim não tem a menor importância. Quero apenas que as
pessoas leiam o que escrevo. Se
gostarem, ótimo", adianta Bullar,
que há tempos vinha experimentando sua prosa no site independente www.kzine.cjb.net.
E não é difícil "gostar" ou, ao
menos, sentir qualquer coisa
-surpresa, pânico, nojo, prazer?- pela literatura de Bullar.
Sua narrativa, segundo escreve,
movida a "tabaco com ácido onírico e pó-de-estrela" guia os olhos
do leitor por uma viagem ora banal e bucólica, ora fantástica pelo
mundo animal. É como assistir ao
Discovery Channel. Dirigido pelo
David Cronenberg.
Falando baixinho, fascinado,
evitando interferir na paisagem,
Bullar elege e psicologiza os animais, "nervosos" (macacos),
"problemáticos e psicóticos" (ratos), "demoníacos" (cágados) ou
de "importância puramente estética" (zebras, girafas e elefantes).
À maneira de Jorge Luis Borges,
com seu "Livro dos Seres Imaginários", Bullar promove um exercício de catalogação subjetiva. Se
fosse um documentário, diríamos
que o calor insuportável dos trópicos é que estaria embaçando as
lentes da câmera.
Mas, se por um lado dá-se uma
personificação dos animais selvagens, por outro, o autor parece
não fazer distinção entre os primeiros e os chamados animais racionais, os seres humanos. "Cíntia", a vaca leiteira, "primeiro mamífero a morrer de uma overdose
de erva", parece tão humana
quanto o seu proprietário, um
agricultor que resolve plantar maconha para sobreviver. Há ainda a
mulher, "abominável humana",
como classifica Bullar, que, grávida, bota um ovo de lagarta; ou
mesmo a veterinária do zoológico, que morre de amores pelo leão
recém-chegado, e vice-versa...
Mas é em "A Filha da Vaca" que
o ciclo definitivamente se fecha.
Não há animais aqui, apenas um
garoto, uma garota e uma mãe
(fora de cena), que é "uma vaca".
"Não tenho intenção de fazer um
estudo científico do comportamento humano", afirma Bullar.
Quem o faz, porém, é Noam
Chomsky: "A inteligência humana tem seus limites determinados
por um esquema inicial (...) da
mesma forma que os ratos são incapazes de percorrer labirintos de
propriedades numéricas (...) Devemos chamar tais questões de
"mistérios pros humanos", assim
como algumas questões se colocam como 'mistério pros ratos'".
HÚMUS - Autor: Paulo Bullar. Editora:
Livros do Mal (www.livrosdomal.org).
Quanto: R$ 15 (104 págs.).
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