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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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Em comunicado interno, diretor da emissora lista termos proibidos; cenas de sexo passam por avaliação de executivo

Globo corta palavrões de "Celebridade"

CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Está proibido falar palavrões nos programas da Globo, principalmente nas novelas. Em um e-mail distribuído a diretores e roteiristas de programas da emissora, no último dia 28, Mário Lúcio Vaz, diretor da Central Globo de Controle de Qualidade (CGCQ) e principal executivo da área artística da rede, listou 16 deles.
"A empresa chegou a seu limite de suportar os pretensos avanços que nossos programas insistem em consagrar. Desculpe pelas expressões, mas elas estão poluindo nosso vídeo", escreveu Vaz na introdução da reprimenda coletiva.
Além dos palavrões, Vaz determinou que todas as cenas de sexo das novelas passem por sua avaliação antes de ir ao ar.
O e-mail do executivo foi endereçado principalmente aos responsáveis pelas novelas "Kubanacan" e "Celebridade", pelo humorístico "Zorra Total" e pela série "Cidade dos Homens".
Já surtiu efeito. A Folha monitorou os capítulos de "Celebridade" exibidos entre segunda e quinta passadas e não encontrou um só palavrão. Antes, expressões como "merda", "porra" e "dar" (no sentido sexual) eram rotineiras.
"Não estou lembrado se, nos últimos capítulos, havia palavrões que tenham sido alterados na hora da gravação. De qualquer forma, não houve necessidade de reescrever nada. Apenas ficou combinado com o Dennis [Carvalho, diretor da novela] que palavras mais fortes que aparecessem seriam trocadas", disse à Folha o autor de "Celebridade", Gilberto Braga.
O discurso oficial da Globo é que ações como essa não são novidade na emissora. Tanto que existe em sua estrutura uma central de Controle de Qualidade.
O fato é que, avalia-se na emissora, ocorreram alguns abusos recentemente. O e-mail de Mário Lúcio Vaz serviu para lembrar que há limites.
É uma reação também à pressão de telespectadores e autoridades, descontentes principalmente com cenas de violência e sexo. No último ranking da campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados, divulgado no final de setembro, seis dos dez programas mais denunciados eram da Globo. Só no dia seguinte à exibição do capítulo de estréia de "Celebridade", recheado de cenas picantes, a campanha recebeu 20 reclamações contra a produção.
No primeiro capítulo, em uma cena de sexo, o personagem Otávio (Thiago Lacerda) aparecia tirando a calcinha de Maria Clara (Malu Mader). Em seguida, no meio de uma multidão, a manicure Jaqueline (Juliana Paes) mostrou os seios. Alguns capítulos mais tarde era a vez de Deborah Secco, que fez "topless" na praia.
Braga diz que já havia decidido amenizar as cenas de sexo da novela antes de receber o e-mail do diretor da CGCQ. "Ouvimos reclamações de espectadores mais convencionais, e não é nossa intenção chocar ninguém. É muito difícil lidar com um público de formação tão diversa", afirma.
"Celebridade" vem sendo monitorada por técnicos do Ministério da Justiça e deve ter sua classificação revista.
Em seu e-mail, Vaz afirma que o veto a palavrões e ao sexo não são censura nem restrição à criação, mas respeito aos telespectadores.
Cita indiretamente, como exemplo a ser seguido, a novela das seis, "Chocolate com Pimenta": "Não se ama só na cama. Não se ama só pelado. Temos no ar uma novela que prova com sobras o quanto valem a sensibilidade e o sentimento valorizados".



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