São Paulo, terça-feira, 09 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHOWS

Brian Wilson, Pet Shop Boys, Primal Scream e PJ Harvey dominam o principal palco nas duas últimas noites

Festival faz passeio pela história do pop

DA REPORTAGEM LOCAL

O slogan era "uma noite com Brian Wilson", e, de fato, quem esteve no Tim Festival no domingo, durante o show do líder dos míticos Beach Boys, nunca há de esquecer que ouviu "Good Vibrations" ao vivo e no arranjo original, como concebido em 1966.
Esse é um dos trunfos atuais do conturbado Brian Wilson, 62. Poucos mitos vivos aceitam continuar reproduzindo suas obras-primas como se elas estivessem congeladas no tempo, intocadas.
Ele peita o passado de frente, atacando na fonte pedras fundadoras da jovem guarda do rock mundial como "In My Room" (63), "Don't Worry, Baby" (64), "Help Me, Rhonda" (65), "Heroes and Villians" (67) etc. etc.
Faz gracejo anunciando "God Only Knows" (66), "a música favorita de Paul McCartney" (note a simpática soberba: a favorita do ex-beatle não é dos Beatles, mas de seu amado rival Brian Wilson). A rivalidade é real, mas também é gostosa brincadeira: os dois até planejam gravar CD juntos, outra atitude para poucos mitos.
A noite queria ser feliz -começou californiana e republicana, escarafunchando o formalismo rígido de um dos fundadores do pop vestido de rock e surf music, e terminou inglesa e democrata, fazendo o mesmo com o formalismo solto de um dos criadores do pop vestido de dance music, matriz anos 80 -os Pet Shop Boys.
A dupla, como prometido, transformou o palco principal num colorido e divertido cabaré. A proposta era dançar e pular, e os Pet Shop Boys têm extenso repertório para isso. O final, com "It's a Sin" (87), foi apoteótico.
A linha do tempo Beach Boys-Kraftwerk-PSB-Primal Scream fez do festival um passeio pela história do "art pop" internacional. E tornou abissal o desnível das escalações -economizando grandes shows nacionais, o Tim constrange artistas locais de menor tarimba e peso histórico e reforça para 25 mil espectadores o mito vetusto da inferioridade brasileira.
No sábado, o palco principal seguiu esse padrão. A inglesa PJ Harvey fez um show que celebrava o básico. Junto com o trio guitarra-baixo-bateria, passeou pelas lamúrias de um blues travestido de distorções da no wave.
Dama de vermelho do rock, ela encarna a essência de uma mulher que lida com o imaginário coletivo. Em "Big Exit" (2000), "Meet Ze Monsta" (95) ou "To Bring You My Love" (95), representa uma mulher incrivelmente sedutora e atraente, apesar da sexualidade desajeitada de corpo franzino e braços fininhos. Fúria sexual e fragilidade emocional em um só pacote. O público, masculino ou feminino, rendeu-se fácil. Levá-la para casa ou ser igual a ela eram as principais questões.
Na seqüência, chegou o Primal Scream, após seis anos entre a frustrada quase passagem e a visão do grupo escocês no palco vestido de verde-e-amarelo e com "Brazil" estampado no peito. Dois discos e algumas manobras radicais de estilo depois do "quase", a turma de Bobby Gillespie deixou os do Brasil com "s" no lucro. Estava ali tanto o grupo que já ameaçou cantar o bombardeio do Pentágono quanto a banda que pregou a volta do "verão do amor" para os anos 90. E poucos como o PS são capazes de agradar guerrilheiros e hedonistas juntos.
Desde o início, com a inédita e motörheadiana "Alright", até a rendição a "Kick Out the Jams" (69), do MC5, o grupo não deu refresco, sem deixar o peso abandonar os amplificadores. E com Kevin Shields (My Bloody Valentine) e o ex-Stone Roses Mani ajudando os usuais PS a tocar a favorita "Movin" On Up" (91), o público sentiu um gosto de algo histórico na apresentação. (BRUNO YUTAKA SAITO, PEDRO ALEXANDRE SANCHES, SHIN OLIVA SUZUKI E THIAGO NEY)


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Marsalis e Holland "quebram tudo"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.