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SHOWS
Brian Wilson, Pet Shop Boys, Primal Scream e PJ Harvey dominam o principal palco nas duas últimas noites
Festival faz passeio pela história do pop
DA REPORTAGEM LOCAL
O slogan era "uma noite com
Brian Wilson", e, de fato, quem
esteve no Tim Festival no domingo, durante o show do líder dos
míticos Beach Boys, nunca há de
esquecer que ouviu "Good Vibrations" ao vivo e no arranjo original, como concebido em 1966.
Esse é um dos trunfos atuais do
conturbado Brian Wilson, 62.
Poucos mitos vivos aceitam continuar reproduzindo suas obras-primas como se elas estivessem
congeladas no tempo, intocadas.
Ele peita o passado de frente,
atacando na fonte pedras fundadoras da jovem guarda do rock
mundial como "In My Room"
(63), "Don't Worry, Baby" (64),
"Help Me, Rhonda" (65), "Heroes
and Villians" (67) etc. etc.
Faz gracejo anunciando "God
Only Knows" (66), "a música favorita de Paul McCartney" (note a
simpática soberba: a favorita do
ex-beatle não é dos Beatles, mas
de seu amado rival Brian Wilson).
A rivalidade é real, mas também é
gostosa brincadeira: os dois até
planejam gravar CD juntos, outra
atitude para poucos mitos.
A noite queria ser feliz -começou californiana e republicana,
escarafunchando o formalismo
rígido de um dos fundadores do
pop vestido de rock e surf music, e
terminou inglesa e democrata, fazendo o mesmo com o formalismo solto de um dos criadores do
pop vestido de dance music, matriz anos 80 -os Pet Shop Boys.
A dupla, como prometido,
transformou o palco principal
num colorido e divertido cabaré.
A proposta era dançar e pular, e
os Pet Shop Boys têm extenso repertório para isso. O final, com
"It's a Sin" (87), foi apoteótico.
A linha do tempo Beach Boys-Kraftwerk-PSB-Primal Scream
fez do festival um passeio pela história do "art pop" internacional. E
tornou abissal o desnível das escalações -economizando grandes
shows nacionais, o Tim constrange artistas locais de menor tarimba e peso histórico e reforça para
25 mil espectadores o mito vetusto da inferioridade brasileira.
No sábado, o palco principal seguiu esse padrão. A inglesa PJ
Harvey fez um show que celebrava o básico. Junto com o trio guitarra-baixo-bateria, passeou pelas
lamúrias de um blues travestido
de distorções da no wave.
Dama de vermelho do rock, ela
encarna a essência de uma mulher que lida com o imaginário
coletivo. Em "Big Exit" (2000),
"Meet Ze Monsta" (95) ou "To
Bring You My Love" (95), representa uma mulher incrivelmente
sedutora e atraente, apesar da sexualidade desajeitada de corpo
franzino e braços fininhos. Fúria
sexual e fragilidade emocional em
um só pacote. O público, masculino ou feminino, rendeu-se fácil.
Levá-la para casa ou ser igual a ela
eram as principais questões.
Na seqüência, chegou o Primal
Scream, após seis anos entre a
frustrada quase passagem e a visão do grupo escocês no palco
vestido de verde-e-amarelo e com
"Brazil" estampado no peito. Dois
discos e algumas manobras radicais de estilo depois do "quase", a
turma de Bobby Gillespie deixou
os do Brasil com "s" no lucro. Estava ali tanto o grupo que já ameaçou cantar o bombardeio do Pentágono quanto a banda que pregou a volta do "verão do amor"
para os anos 90. E poucos como o
PS são capazes de agradar guerrilheiros e hedonistas juntos.
Desde o início, com a inédita e
motörheadiana "Alright", até a
rendição a "Kick Out the Jams"
(69), do MC5, o grupo não deu refresco, sem deixar o peso abandonar os amplificadores. E com Kevin Shields (My Bloody Valentine) e o ex-Stone Roses Mani ajudando os usuais PS a tocar a favorita "Movin" On Up" (91), o público sentiu um gosto de algo histórico na apresentação.
(BRUNO YUTAKA SAITO, PEDRO ALEXANDRE SANCHES, SHIN OLIVA SUZUKI E THIAGO NEY)
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