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Monk é tema da Coleção Folha
Faixas do início da carreira do pianista estão no CD que chega às bancas neste domingo
Precursor do bebop, músico começou a tocar órgão aos 9 anos de idade; sonoridades rudes e senso rítmico único eram marcas registradas
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele usava gorros exóticos,
óculos chamativos e, como se
não bastasse, ainda gostava de
se levantar do piano no meio do
show e sair bailando as mais desengonçadas coreografias. Domingo, o volume 8 da Coleção
Folha Clássicos do Jazz destaca
o talento idiossincrático de
Thelonious Monk.
As 13 faixas do CD abrangem
o início da carreira fonográfica
do pianista (período de 1947 a
1952). Está lá a sua composição
mais conhecida, "Round Midnight", com um grupo que inclui a bateria de Art Blakey. Em
outras músicas, brilha ainda a
sonoridade peculiar de Milt
Jackson, o sutil vibrafonista
que liderou o Modern Jazz
Quartet.
"Eu estava tocando ali, assim
como outros costumavam aparecer e tocavam comigo. Acho
que eles sacaram o que eu estava fazendo. O Minton's estava
sempre lotado, com as pessoas
se divertindo todo o tempo. Eu
tocava do jeito que achava que
deveria tocar", disse Thelonious Monk (1917-1982), a respeito de sua experiência no
nightclub nova-iorquino Minton's Playhouse. Na década de
1940, o lugar fez as vezes de tubo de ensaio para a revolução
jazzística -eivada de ritmos
complexos e harmonias dissonantes- que se tornaria conhecida como bebop.
"Eu não estava tentando mudar o curso do jazz, só queria tocar alguma coisa que soasse
bem", afirmou Monk, na mesma entrevista.
Concepção distinta
Talvez tudo fosse uma questão de gosto. Porque o "soar
bem", na opinião do pianista,
era algo bastante distinto da
idéia hegemônica de seu tempo. Musicalmente precoce
-começou a tocar órgão na
igreja aos 9 anos e, aos 13, já estava recebendo cachês para se
apresentar em festas-, ele tinha uma concepção da sonoridade de seu instrumento completamente distinta de tudo
aquilo que se fazia até então.
Ataques de mão espalmada,
sonoridades rudes e percussivas, brincadeiras com o tempo
musical, senso rítmico peculiar: nunca, nem no jazz, nem
na música erudita, ninguém
havia tratado o piano de maneira tão particular.
Não por acaso, sua musicalidade rica e imaginativa galvanizou a mente de músicos como
Coleman Hawkins, Miles Davis, Gerry Mulligan, John Coltrane e Sonny Rollins, que dividiram palcos e estúdios de gravação com o pianista. Sem se
importar com a adulação de público e crítica, ele se manteve
fiel a seu estilo idiossincrático e
introspectivo.
Uma atitude que levou o produtor Orrin Keepnews, responsável por suas gravações para o
selo Riverside, a afirmar: "Se há
uma pessoa sobre a qual eu poderia dizer que, sem dúvida,
nunca fez concessões, nem
mesmo pensou em trair sua arte, esse homem é Thelonious
Monk".
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