São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Monk é tema da Coleção Folha

Faixas do início da carreira do pianista estão no CD que chega às bancas neste domingo

Precursor do bebop, músico começou a tocar órgão aos 9 anos de idade; sonoridades rudes e senso rítmico único eram marcas registradas

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele usava gorros exóticos, óculos chamativos e, como se não bastasse, ainda gostava de se levantar do piano no meio do show e sair bailando as mais desengonçadas coreografias. Domingo, o volume 8 da Coleção Folha Clássicos do Jazz destaca o talento idiossincrático de Thelonious Monk.
As 13 faixas do CD abrangem o início da carreira fonográfica do pianista (período de 1947 a 1952). Está lá a sua composição mais conhecida, "Round Midnight", com um grupo que inclui a bateria de Art Blakey. Em outras músicas, brilha ainda a sonoridade peculiar de Milt Jackson, o sutil vibrafonista que liderou o Modern Jazz Quartet.
"Eu estava tocando ali, assim como outros costumavam aparecer e tocavam comigo. Acho que eles sacaram o que eu estava fazendo. O Minton's estava sempre lotado, com as pessoas se divertindo todo o tempo. Eu tocava do jeito que achava que deveria tocar", disse Thelonious Monk (1917-1982), a respeito de sua experiência no nightclub nova-iorquino Minton's Playhouse. Na década de 1940, o lugar fez as vezes de tubo de ensaio para a revolução jazzística -eivada de ritmos complexos e harmonias dissonantes- que se tornaria conhecida como bebop.
"Eu não estava tentando mudar o curso do jazz, só queria tocar alguma coisa que soasse bem", afirmou Monk, na mesma entrevista.

Concepção distinta
Talvez tudo fosse uma questão de gosto. Porque o "soar bem", na opinião do pianista, era algo bastante distinto da idéia hegemônica de seu tempo. Musicalmente precoce -começou a tocar órgão na igreja aos 9 anos e, aos 13, já estava recebendo cachês para se apresentar em festas-, ele tinha uma concepção da sonoridade de seu instrumento completamente distinta de tudo aquilo que se fazia até então.
Ataques de mão espalmada, sonoridades rudes e percussivas, brincadeiras com o tempo musical, senso rítmico peculiar: nunca, nem no jazz, nem na música erudita, ninguém havia tratado o piano de maneira tão particular.
Não por acaso, sua musicalidade rica e imaginativa galvanizou a mente de músicos como Coleman Hawkins, Miles Davis, Gerry Mulligan, John Coltrane e Sonny Rollins, que dividiram palcos e estúdios de gravação com o pianista. Sem se importar com a adulação de público e crítica, ele se manteve fiel a seu estilo idiossincrático e introspectivo.
Uma atitude que levou o produtor Orrin Keepnews, responsável por suas gravações para o selo Riverside, a afirmar: "Se há uma pessoa sobre a qual eu poderia dizer que, sem dúvida, nunca fez concessões, nem mesmo pensou em trair sua arte, esse homem é Thelonious Monk".


Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: Verdi: como vencer a censura
Próximo Texto: Fotografias de Leni Riefenstahl são furtadas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.