São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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Novo curador quer colocar a Bienal em "quarentena"

Ivo Mesquita diz que, com seu "gesto radical" de deixar vazio um andar do evento, pretende pôr em xeque a história da instituição

Conselheiros dizem que a proposta apresentada fere o estatuto da Bienal, que prevê a realização de exposição de artes plásticas

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao deixar um andar inteiro do prédio da Bienal de São Paulo vazio, o curador Ivo Mesquita pretende causar uma pausa na história da instituição. "É uma quarentena, suspende-se um processo para colocar tudo em xeque. Creio que, do ponto de vista da imagem, é um gesto radical, que será bem acolhido", disse Mesquita, por telefone, de Buenos Aires, sobre o evento previsto para entre outubro e dezembro de 2008.
Ontem, conselheiros da Fundação Bienal se manifestaram contra a proposta de Mesquita, pois ela não seguiria o estatuto da Bienal, que prevê em seu objetivo a "exposição de artes plásticas". No projeto de Mesquita, "Em Vivo Contato", anunciado anteontem, em vez de uma mostra no formato tradicional, prevê-se um ciclo de seminários que irá durar 40 dias, além de uma praça para concertos e performances, e um andar que se transformará em biblioteca e arquivo.
"Meu projeto é esse, e é preciso entender que não há tempo para fazer uma exposição, pois é preciso pesquisa. A Lisette [Lagnado] fez o que considero uma boa bienal, pois teve dois anos para pesquisa a partir de um projeto", disse Mesquita.
Um dos curadores convidados a apresentar um projeto para a 28ª Bienal, Mesquita não entregou o projeto no tempo previsto. "Dois dias antes de encerrar o prazo, recebi uma carta da presidência pedindo para manter as representações nacionais e me posicionei contra essa imposição", afirmou. O único a apresentar o projeto foi Marcio Doctors, que desistiu ao saber ser o único candidato.
"Nós dois fomos procurados por conselheiros para reapresentar juntos um projeto, e achei que seria uma boa idéia. Em meu primeiro projeto, eu já previa um ciclo de seminários", disse o curador. Na última segunda, Doctors renunciou ao cargo, deixando Mesquita sozinho. Sem a lista de convidados definida, o curador indica como pretende usar a praça: "Imagine um espetáculo do Ivaldo Bertazzo, uma procissão do Zé Celso Martinez Corrêa, ou um show do Fischerspooner".
Mesquita assume a 28ª Bienal em meio a uma crise financeira da instituição, que não pagou grande parte dos gastos da edição passada, inclusive com curadores estrangeiros, nem tem previsão de publicação do catálogo do ciclo de seminários. Isso não pode afetar a imagem da instituição? "Não sei, mas vou verificar", disse o curador. O presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, realiza hoje à tarde entrevista coletiva na qual se pronunciará sobre o assunto.


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