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Novo curador quer colocar a Bienal em "quarentena"
Ivo Mesquita diz que, com seu "gesto radical" de deixar vazio um andar do evento, pretende pôr em xeque a história da instituição
Conselheiros dizem que a proposta apresentada fere o estatuto da Bienal, que prevê a realização de exposição de artes plásticas
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao deixar um andar inteiro
do prédio da Bienal de São Paulo vazio, o curador Ivo Mesquita pretende causar uma pausa
na história da instituição. "É
uma quarentena, suspende-se
um processo para colocar tudo
em xeque. Creio que, do ponto
de vista da imagem, é um gesto
radical, que será bem acolhido", disse Mesquita, por telefone, de Buenos Aires, sobre o
evento previsto para entre outubro e dezembro de 2008.
Ontem, conselheiros da Fundação Bienal se manifestaram
contra a proposta de Mesquita,
pois ela não seguiria o estatuto
da Bienal, que prevê em seu objetivo a "exposição de artes
plásticas". No projeto de Mesquita, "Em Vivo Contato",
anunciado anteontem, em vez
de uma mostra no formato tradicional, prevê-se um ciclo de
seminários que irá durar 40
dias, além de uma praça para
concertos e performances, e
um andar que se transformará
em biblioteca e arquivo.
"Meu projeto é esse, e é preciso entender que não há tempo para fazer uma exposição,
pois é preciso pesquisa. A Lisette [Lagnado] fez o que considero uma boa bienal, pois teve
dois anos para pesquisa a partir
de um projeto", disse Mesquita.
Um dos curadores convidados a apresentar um projeto
para a 28ª Bienal, Mesquita não
entregou o projeto no tempo
previsto. "Dois dias antes de
encerrar o prazo, recebi uma
carta da presidência pedindo
para manter as representações
nacionais e me posicionei contra essa imposição", afirmou. O
único a apresentar o projeto foi
Marcio Doctors, que desistiu ao
saber ser o único candidato.
"Nós dois fomos procurados
por conselheiros para reapresentar juntos um projeto, e
achei que seria uma boa idéia.
Em meu primeiro projeto, eu já
previa um ciclo de seminários",
disse o curador. Na última segunda, Doctors renunciou ao
cargo, deixando Mesquita sozinho. Sem a lista de convidados
definida, o curador indica como
pretende usar a praça: "Imagine um espetáculo do Ivaldo
Bertazzo, uma procissão do Zé
Celso Martinez Corrêa, ou um
show do Fischerspooner".
Mesquita assume a 28ª Bienal em meio a uma crise financeira da instituição, que não pagou grande parte dos gastos da
edição passada, inclusive com
curadores estrangeiros, nem
tem previsão de publicação do
catálogo do ciclo de seminários.
Isso não pode afetar a imagem
da instituição? "Não sei, mas
vou verificar", disse o curador.
O presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da
Costa, realiza hoje à tarde entrevista coletiva na qual se pronunciará sobre o assunto.
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