São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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BIA ABRAMO

Max Headroom está de volta


Em vez de aparecer no vídeo, a repórter materializou-se como imagem holográfica

E A princesa Leia, de "Guerra nas Estrelas" no distante 1977. E o teletransporte de "Jornada nas Estrelas", a série de TV dos ainda mais distantes anos 60. E "Minority Report", do mais próximo ano de 2002, e o repórter-cabeça, gerado por computador dos anos 80 que dá o título à coluna.
Todos esses personagens e truques da ficção científica do século 20 concentraram-se em uma cena de pouco mais de quatro minutos da cobertura da CNN no dia das eleições presidenciais norte-americanas. Do quartel-general, em Nova York, o âncora Wolf Blitzer chamou a repórter Jessica Yellin, que estava em Chicago. Em vez de aparecer no vídeo, a repórter materializou-se como imagem holográfica diante Blitzer para fazer o boletim sobre o clima de rua na apuração dos votos.
A qualidade da imagem em três dimensões produzida pelo holograma tem algo ainda de precário -os contornos e extremidades do corpo são menos nítidos e "traem" a ilusão da tridimensionalidade. Ao mesmo tempo, sugerem a "mágica" do teletransporte, tecnologia trekker que consistia em desintegrar num lugar e reintegrar em outro objetos, pessoas e alienígenas, uma das grandes atrações do seriado "Jornada nas Estrelas".
Não à toa, Blitzer usou a expressão "beam in" (a partir de irradiar, emitir) para descrever a operação de "aparecimento" da repórter holográfica na redação em Nova York. Em "Jornada nas Estrelas", o capitão Kirk dava a ordem ao chefe dos transportes para entrar ou sair da nave Enterprise dizendo: "Beam me up, Scotty" (traduzida, por aqui, como "leve-me para cima, Scotty").
O outro truque tecnológico da CNN usado nas eleições foi a "parede mágica" ("magic wall"), uma espécie de monitor gigante cujas imagens são manipuláveis diretamente na tela. O efeito é menos impressionante do que a repórter virtual em três dimensões, uma vez que tecnologias semelhantes já são usadas em alguns computadores e no iPhone -e, claro, já tínhamos visto coisa parecida no "Minority Report" anos atrás e na cobertura da Globo da Olimpíada.
Se a presença holográfica é quase que uma curiosidade, a parede mágica significa um passo significativo da transformação da experiência de ver TV em algo mais próximo daquela que temos diante do computador.
A técnica, entretanto, não superou a história. As imagens de fato impressionantes desta semana que passou foram produzidas simplesmente pela alegria que tomou conta dos eleitores de Barack Obama festejando a vitória.


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