São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Atacar o Irã seria um erro, afirma o israelense Amós Oz

Autor, que fala hoje sobre 'Literatura e Guerra', diz que intervenção é inútil, pois país já tem know-how nuclear

Para o romancista e ativista pró-paz, a Primavera Árabe é limitada por um 'inverno islâmico'

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Na conferência que fará hoje no Sesc Pinheiros, em comemoração dos 25 anos da editora Companhia das Letras (ingressos esgotados), o escritor israelense Amós Oz vai tratar de dois temas que domina, literatura e guerra.
Ele, que na vida real ainda escreve à mão, estará munido de suas duas famosas canetas imaginárias -uma para contar histórias, outra para destilar sua verve político-pacifista (ou "peacenik", como prefere) em busca de uma solução negociada para o conflito Israel-Palestina.
"[Direi] que, mesmo sob condições muito extremas, a normalidade continua, a vida segue. E que a literatura se desenvolve a partir de coisas muito corriqueiras, como amor, saudade, perda, solidão, morte, desejo. Todas as coisas comuns estão em nossa literatura, como em qualquer outra", disse, sobre o recado que pretende passar.
Em conversa anteontem com a Folha, no Copacabana Palace, no Rio, sobressaiu a caneta política de Oz. Leia abaixo trechos da entrevista.

 


Folha - A Primavera Árabe pode ajudar na paz entre israelenses e palestinos?
Amós Oz - As pessoas imaginam que pode acontecer no Oriente Médio o que ocorreu quando a União Soviética se desintegrou e todas as suas repúblicas viraram democracias. Na verdade, em alguns países, veremos Primavera Árabe e, em outros, veremos inverno islâmico.

Onde veremos inverno islâmico?
A democracia tem chance apenas em países em que há alguma classe média e sociedade civil.

Como analisa o pleito palestino de entrar na ONU?
Se eu fosse o governo de Israel, seria o primeiro a reconhecer a Palestina como Estado. Depois negociaria sobre fronteiras, lugares sagrados, segurança e assentamentos. Mas aí seria uma negociação entre dois Estados soberanos, não entre o ocupante e o ocupado.

Haverá um ataque ao Irã?
Um ataque seria um erro, porque não se pode bombardear o know-how [nuclear], e os iranianos têm o know-how. Um ataque pode atrasar, mas não evitar um Irã nuclear. Acho que o mais importante é encorajar o povo iraniano a se rebelar contra a terrível ditadura dos aiatolás.

O sr. mostrou empolgação com os recentes protestos sociais em Israel. O que eles significam?
Israel tornou-se uma sociedade muito materialista, gananciosa e competitiva. Os manifestantes pedem uma renovação da solidariedade social de algumas décadas atrás. Meio milhão de manifestantes marchou nas ruas de Tel Aviv.

Por que esse movimento surgiu nesse momento?
Porque nosso governo de direita tem implementado políticas econômicas do tipo Milton Friedman [economista americano, guru do neoliberalismo], e muitos da classe média -não só os pobres- estão cheios.

Como a revolução digital, com produtos como o livro eletrônico, e as novas mídias podem afetar a produção e a recepção da literatura?
Não vejo conexão. Acho que a literatura nasce de uma necessidade humana muito profunda, de contar histórias e ouvir histórias, que é como a necessidade de sonhar. Se as histórias estarão em edições digitais ou impressas, não tem relevância.

Coisas como microcontos para Twitter são literatura?
Se são bons, são literatura. O menor conto de todos os tempos foi escrito por Ernest Hemingway: "À venda: sapatos de bebês, nunca usados". Uma linha, e é uma história poderosa.

Leia a íntegra
folha.com/no1003303

CONFERÊNCIA COM AMÓS OZ
QUANDO hoje, às 20h
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, 0/xx/11/3095-9400)
QUANTO grátis (ingr. esgotados)


Texto Anterior: Música: "Ninguém faz dinheiro com download"
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.