|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POP
Chambaril faz o elogio da colagem
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Ween", responde Cláudio
N. "Pink Floyd", diz Pi-R. As respostas diversas vêm após
uma pergunta sobre que shows
eles gostariam de abrir. Entre o
quarto esfumaçado dos irmãos
Dean e Gene -o Ween- ao topo
do mainstream no trip rock -o
Pink Floyd-, a lacuna entre as
duas opções parece apenas exibir
enciclopedismo musical.
No entanto, serve para catalogar
a banda de Cláudio e Pi-R, o
Chambaril, em um gênero ainda
não-canonizado: a lisergia impressionista nerd branca, disposta a transpor barreiras entre rótulos musicais por meio de montagens e superposições sonoras.
Entre outros exemplares desta
espécie, estão as colagens subversivas da primeira era de ouro ao
ataque ao copyright (final dos 80,
de nomes como Negativland,
Double Dee & Starsky e KLF), os
Mutantes, o hip hop instrumental
de DJ Shadow e RJD2, o Primal
Scream, os Beastie Boys de "Paul's
Boutique", Bomb the Bass, Solex,
Avalanches, e, claro, Ween e Pink
Floyd. É desse habitat sonoro que
sai o recifense Chambaril.
Que, apesar do nome estranho,
não é um remédio. "Só se for pra
fome", ironiza Cláudio, o colador
original, que largou a guitarra
rock dos Astronautas para se dedicar à arte do "cut and paste" em
um gravador de quatro canais.
"Chambaril, na verdade, é um
prato regional, carregado de proteínas, que consiste em ossobuco,
pirão, arroz e salada."
Descritos dessa maneira rápida,
parecem uma reedição do conceito de "mistureba" do pop brasileiro no começo dos anos 90.
O primeiro disco, batizado com
o nome da banda e distribuído
pela Peligro, abre com beats de
hip hop velha-guarda, cordas
chorosas que parecem terem sido
abduzidas do "Álbum Branco"
dos Beatles, levada sintética de
flash-house, baixo à Prince, piano
apocalíptico, gemido de gaita de
blues. Mas a indigestão é meramente textual -em disco, tudo
flui macio e sutil.
Começando como projeto pessoal de Cláudio em 2001, logo teve
agregado à formação os amigos
Vinícius também nas colagens,
Pi-R nos teclados e Carlos Cabeça,
que divide as guitarras com Cláudio -todos descritos por ele como "músicos de confiança e amigos das tardes enfumaçadas e bucólicas da UFPE [Universidade
Federal de Pernambuco]".
No ano passado, compuseram a
trilha para o filme "Sertão de
Acrílico Azul Piscina", de Marcelo
Gomes ("Cinema, Aspirinas e
Urubus") e Karim Aïnouz ("Madame Satã").
"Após essa gravação, resolvi
passar pro PC algumas partes interessantes de minha coleção de
vinil, dando predileção aos discos
de R$ 1, e as utilizei em forma de
loops na construção de várias
músicas", explica Cláudio.
Entre grooves de disco music,
álbuns falados, levadas jovem
guarda e violões de fossa, não é
possível reconhecer quase nada,
fora um Costinha contando piadas aqui e a orquestração de Rogério Duprat para "Deus Lhe Pague", de Chico Buarque, acolá.
"Não achamos que nossa música
deva se prender a algum estilo",
resume Cláudio.
Chambaril
Artista: Chambaril
Lançamento: Bazuka Discos
Quanto: R$ 12 (www.peligro.com.br)
Texto Anterior: CDs - Rock: Novo System of a Down segue com mais barulho e protesto Próximo Texto: Coleção Folha: Novo CD destaca sinfonias de Haydn Índice
|