São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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POP

Chambaril faz o elogio da colagem

ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ween", responde Cláudio N. "Pink Floyd", diz Pi-R. As respostas diversas vêm após uma pergunta sobre que shows eles gostariam de abrir. Entre o quarto esfumaçado dos irmãos Dean e Gene -o Ween- ao topo do mainstream no trip rock -o Pink Floyd-, a lacuna entre as duas opções parece apenas exibir enciclopedismo musical.
No entanto, serve para catalogar a banda de Cláudio e Pi-R, o Chambaril, em um gênero ainda não-canonizado: a lisergia impressionista nerd branca, disposta a transpor barreiras entre rótulos musicais por meio de montagens e superposições sonoras.
Entre outros exemplares desta espécie, estão as colagens subversivas da primeira era de ouro ao ataque ao copyright (final dos 80, de nomes como Negativland, Double Dee & Starsky e KLF), os Mutantes, o hip hop instrumental de DJ Shadow e RJD2, o Primal Scream, os Beastie Boys de "Paul's Boutique", Bomb the Bass, Solex, Avalanches, e, claro, Ween e Pink Floyd. É desse habitat sonoro que sai o recifense Chambaril.
Que, apesar do nome estranho, não é um remédio. "Só se for pra fome", ironiza Cláudio, o colador original, que largou a guitarra rock dos Astronautas para se dedicar à arte do "cut and paste" em um gravador de quatro canais. "Chambaril, na verdade, é um prato regional, carregado de proteínas, que consiste em ossobuco, pirão, arroz e salada."
Descritos dessa maneira rápida, parecem uma reedição do conceito de "mistureba" do pop brasileiro no começo dos anos 90.
O primeiro disco, batizado com o nome da banda e distribuído pela Peligro, abre com beats de hip hop velha-guarda, cordas chorosas que parecem terem sido abduzidas do "Álbum Branco" dos Beatles, levada sintética de flash-house, baixo à Prince, piano apocalíptico, gemido de gaita de blues. Mas a indigestão é meramente textual -em disco, tudo flui macio e sutil.
Começando como projeto pessoal de Cláudio em 2001, logo teve agregado à formação os amigos Vinícius também nas colagens, Pi-R nos teclados e Carlos Cabeça, que divide as guitarras com Cláudio -todos descritos por ele como "músicos de confiança e amigos das tardes enfumaçadas e bucólicas da UFPE [Universidade Federal de Pernambuco]".
No ano passado, compuseram a trilha para o filme "Sertão de Acrílico Azul Piscina", de Marcelo Gomes ("Cinema, Aspirinas e Urubus") e Karim Aïnouz ("Madame Satã").
"Após essa gravação, resolvi passar pro PC algumas partes interessantes de minha coleção de vinil, dando predileção aos discos de R$ 1, e as utilizei em forma de loops na construção de várias músicas", explica Cláudio.
Entre grooves de disco music, álbuns falados, levadas jovem guarda e violões de fossa, não é possível reconhecer quase nada, fora um Costinha contando piadas aqui e a orquestração de Rogério Duprat para "Deus Lhe Pague", de Chico Buarque, acolá. "Não achamos que nossa música deva se prender a algum estilo", resume Cláudio.


Chambaril
   
Artista: Chambaril
Lançamento: Bazuka Discos
Quanto: R$ 12 (www.peligro.com.br)


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