São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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Cultura reproduz defeitos da sociedade, diz Calil

Secretário de Cultura diz que crime na praça Roosevelt, em que Mário Bortolotto foi baleado, mostra descompasso entre artistas e poder público

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Ator do grupo Os Satyros grava programa "O louco dos Viadutos" no viaduto Santa Ifigênia, no centro de São Paulo

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Professor de cinema da Escola de Comunicações e Artes da USP e intelectual habituado a refletir sobre a cidade, Carlos Augusto Calil, descobriu, ao assumir a Secretaria Municipal de Cultura, suas limitações. "A cultura pode até ser o carro-chefe de um movimento, mas não resolve conflitos", diz, nesta entrevista concedida dois dias depois da tentativa de assalto a um teatro da praça Roosevelt, na qual o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado.
Ocupada pelos artistas, mas desprotegida, a praça acabou por simbolizar, segundo Calil, um certo descompasso entre os movimentos da sociedade e as respostas do poder público. Também procurado, o secretário estadual, João Sayad, disse que "não gostaria de participar da reportagem".

 

FOLHA - Qual é o impacto da notícia para a Secretaria de Cultura? CARLOS AUGUSTO CALIL - Foi um grande choque porque mostra como é frágil a situação no centro, apesar dos esforços feitos para mudar o cenário. A praça Roosevelt tinha dado o primeiro passo, os artistas criaram um novo ambiente de convivência. O que aconteceu é um alerta.
As coisas não são tão fáceis quanto a gente podia imaginar. Não podemos nos intimidar com esse tipo de situação ou dizer que aquilo era o sonho de uma noite de verão, mas fica evidente que a cultura não é a palavra mágica de restabelecimento de outra cordialidade no centro. Ela é, sem dúvida, essencial, mas não basta.

FOLHA - A Virada Cultural teve um episódio de violência, durante o show dos Racionais, na Sé, em 2007.
CALIL
- Sim, e esse foi meu primeiro grande choque. Até então, a Virada tinha construído o sentimento de que era um evento pacífico. Mas o conflito apareceu.

FOLHA - Que ações da secretaria foram frustradas pela violência?
CALIL
- Tirando esses dois casos, acumulamos sinais positivos no centro. Dou um exemplo recente. Há um ano, foi liberada uma área pequena na galeria Olido, onde fizemos um ponto de leitura. É um sucesso. A carga simbólica do centro estimula o convívio cultural.

FOLHA - O que a cultura pode fazer pelo centro?
CALIL
- Sem ela, não há esperança. Ela permite o convívio. O grande feito da Virada é colocar diferentes classes num mesmo espaço. Reativar o centro significa repovoá-lo.

FOLHA - Mas quando a sociedade ocupa a praça Roosevelt, o poder público não consegue segui-la.
CALIL
- O projeto da praça atrasou. Ele não é da Cultura, mas cheguei a acompanhá-lo. Os projetos foram refeitos duas ou três vezes, o que foi uma pena. Se tivessem acertado no primeiro, estaria feito. Havia recursos para isso. Hoje, poderia estar pronto, mas a obra não começou.
O episódio mostra certa assincronia entre movimentos da sociedade civil e do governo. Mas a praça sairá. Com o episódio, talvez até mais rápido.


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