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ARTIGO
"Bandido" sintetiza o caos do Terceiro Mundo
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Rogério Sganzerla, que tinha
apenas 22 anos quando realizou
"O Bandido da Luz Vermelha"
(1968), qualificava-o como "faroeste do Terceiro Mundo".
A definição é brilhante, mas incompleta. Quanto mais o tempo
passa, mais o "Bandido" se revela
um prodígio de muitas faces.
Filho extraviado do cinema novo, Sganzerla realizou em seu longa de estréia uma síntese radicalmente pessoal de muitas vertentes: o cinema clássico norte-americano, a nouvelle vague francesa,
a chanchada brasileira, as narrativas radiofônicas, as histórias em
quadrinhos, a ficção científica e
mais uma porção de coisas que
nunca acabamos de descobrir.
Em lugar dos camponeses, operários e intelectuais do cinema
novo, Sganzerla punha em cena
um anti-herói saído do lumpesinato, retratando de modo muito
mais preciso o caos e o lixo produzidos pela modernização conservadora do país.
O cineasta teve a idéia do filme
voltando ao Brasil depois de um
giro pela Europa. Quando começava a julgar a idéia fantasiosa demais, caiu-lhe nas mãos um jornal
popular narrando as façanhas de
um assaltante mascarado que
aterrorizava São Paulo. Realidade
e fantasia rivalizavam.
Na Boca do Lixo paulistana,
Sganzerla encontrou o ambiente
ideal para contar a história de seu
bandido, e no "Humphrey Bogart
caboclo" Paulo Villaça o ator perfeito para encarná-lo.
Colocou em sua boca falas proféticas, perturbadoras: "O Terceiro Mundo vai explodir", "Quem
tiver sapato não sobra", "Quando
a gente não pode fazer nada, a
gente avacalha".
O "Bandido da Luz Vermelha"
subverteu valores, satirizou a política e a moral, redefiniu a paisagem urbana, justapôs o arcaico e o
futurista.
Colagem de linguagens e referências, orquestradas por uma
magnífica montagem de inspiração plástica e musical, é uma obra
ao mesmo tempo popular e de
vanguarda, uma obra-prima que
não pára de nos maravilhar.
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