São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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LIVROS

Acervo de Hemingway em Cuba será aberto

Documentos podem ajudar a entender o período em que o autor viveu na ilha

Papéis estarão disponíveis, num primeiro momento, apenas para pesquisadores, por meio da biblioteca John F. Kennedy, de Boston

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tão esperada reconciliação política entre Cuba e os EUA, que muitos acreditam poder se concretizar após a posse de Barack Obama, não deverá ser um processo fácil.
Uma recente iniciativa conjunta, porém, pretende ser uma demonstração de que um intercâmbio cultural entre os dois países pode render bons frutos.
Nesta semana, autoridades cubanas e uma instituição privada de Nova York, a Social Science Research Council, anunciaram a abertura do arquivo de Ernest Hemingway guardado em Havana. Nele, estão mais de 3.000 documentos que registram o período em que o escritor norte-americano viveu na ilha caribenha, entre os anos de 1939 e 1960.
"Queremos ser um exemplo de como ações em parceria entre os dois países são possíveis e devem ser estimuladas num momento como este", disse à Folha Sarah Doty, uma das coordenadoras do projeto.
Entre os papéis que estarão acessíveis, primeiro para pesquisadores, depois para o público em geral, encontram-se manuscritos, blocos de notas, correspondência e recortes de jornais (leia abaixo).
Apesar da boa notícia, é importante ressaltar que o conjunto não constitui a principal parte do espólio do autor. Logo depois de seu suicídio, em 1961, a viúva, Mary Welsh, retirou da casa, localizada nos arredores da capital cubana, os documentos e objetos mais importantes, levando-os para os EUA.
O acordo entre os dois lados foi estabelecido em 2002, mas as negociações sobre como tratar o acervo ficaram travadas mais de uma vez desde então.
Isso porque o governo cubano insiste em não deixar os papéis, doados pela família, saírem do país. Por outro lado, as condições de armazenamento dos mesmos em Finca Vigía (nome da propriedade) são precárias. "O local é úmido e não havia caixas apropriadas para evitar que o material se deteriorasse. A fundação está fornecendo esses aparatos e treinamento para os funcionários para que os utilizem corretamente", explica Doty.
Assim, o que ficou acertado é que os originais permanecerão em Finca Vigía, mas cópias digitalizadas irão para a biblioteca John F. Kennedy, em Boston. "Os cubanos querem muito manter os laços entre o escritor e o país. A estada de Hemingway por lá é um orgulho para o governo e boa parte da população. Por isso todo o processo de negociação foi tratado com delicadeza", conclui a coordenadora do projeto.

Hemingway em Cuba
O escritor estabeleceu-se na ilha em 1939, logo após a Guerra Civil Espanhola. Hemingway (1899-1961) havia se mudado para Madri dois anos antes para atuar como jornalista e engajar-se na luta dos republicanos. Depois da vitória do general Francisco Franco, porém, teve de deixar a Espanha.
Um de seus principais livros, "Por Quem os Sinos Dobram" (1940), foi em parte escrito em Cuba e tem o conflito espanhol como pano de fundo.
Foi ainda no período em que viveu em Finca Vigía que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1954.



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