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LIVROS
Acervo de Hemingway em Cuba será aberto
Documentos podem ajudar a entender o período em que o autor viveu na ilha
Papéis estarão disponíveis, num primeiro momento, apenas para pesquisadores, por meio da biblioteca John F. Kennedy, de Boston
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A tão esperada reconciliação
política entre Cuba e os EUA,
que muitos acreditam poder se
concretizar após a posse de Barack Obama, não deverá ser um
processo fácil.
Uma recente iniciativa conjunta, porém, pretende ser uma
demonstração de que um intercâmbio cultural entre os dois
países pode render bons frutos.
Nesta semana, autoridades
cubanas e uma instituição privada de Nova York, a Social
Science Research Council,
anunciaram a abertura do arquivo de Ernest Hemingway
guardado em Havana. Nele, estão mais de 3.000 documentos
que registram o período em que
o escritor norte-americano viveu na ilha caribenha, entre os
anos de 1939 e 1960.
"Queremos ser um exemplo
de como ações em parceria entre os dois países são possíveis e
devem ser estimuladas num
momento como este", disse à
Folha Sarah Doty, uma das
coordenadoras do projeto.
Entre os papéis que estarão
acessíveis, primeiro para pesquisadores, depois para o público em geral, encontram-se
manuscritos, blocos de notas,
correspondência e recortes de
jornais (leia abaixo).
Apesar da boa notícia, é importante ressaltar que o conjunto não constitui a principal
parte do espólio do autor. Logo
depois de seu suicídio, em 1961,
a viúva, Mary Welsh, retirou da
casa, localizada nos arredores
da capital cubana, os documentos e objetos mais importantes,
levando-os para os EUA.
O acordo entre os dois lados
foi estabelecido em 2002, mas
as negociações sobre como tratar o acervo ficaram travadas
mais de uma vez desde então.
Isso porque o governo cubano insiste em não deixar os papéis, doados pela família, saírem do país. Por outro lado, as
condições de armazenamento
dos mesmos em Finca Vigía
(nome da propriedade) são
precárias. "O local é úmido e
não havia caixas apropriadas
para evitar que o material se
deteriorasse. A fundação está
fornecendo esses aparatos e
treinamento para os funcionários para que os utilizem corretamente", explica Doty.
Assim, o que ficou acertado é
que os originais permanecerão
em Finca Vigía, mas cópias digitalizadas irão para a biblioteca John F. Kennedy, em Boston. "Os cubanos querem muito manter os laços entre o escritor e o país. A estada de Hemingway por lá é um orgulho
para o governo e boa parte da
população. Por isso todo o processo de negociação foi tratado
com delicadeza", conclui a
coordenadora do projeto.
Hemingway em Cuba
O escritor estabeleceu-se na
ilha em 1939, logo após a Guerra Civil Espanhola. Hemingway (1899-1961) havia se mudado para Madri dois anos antes para atuar como jornalista e
engajar-se na luta dos republicanos. Depois da vitória do general Francisco Franco, porém,
teve de deixar a Espanha.
Um de seus principais livros,
"Por Quem os Sinos Dobram"
(1940), foi em parte escrito em
Cuba e tem o conflito espanhol
como pano de fundo.
Foi ainda no período em que
viveu em Finca Vigía que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1954.
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