São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Mônica Bergamo

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Mães do coração

Glória Maria, Astrid Fontenelle e Elba Ramalho enfrentam um desafio em dose dupla: criar filhos adotivos, sozinhas

Wania Corredo - 06.mai.08/ Agência O Globo
Acima, Glória Maria com as filhas Maria, à esq., e Laura, à dir., adotadas no ano passado

"Demorei para fazer, mas, quando fizeram por mim, fizeram direitinho." A frase, dita em tom de brincadeira, é de Astrid Fontenelle, 48, sobre o filho Gabriel, 1 ano e 5 meses, adotado quando tinha 40 dias.

 

Assim como a apresentadora do GNT, outras famosas buscaram a adoção. São mães solteiras e de crianças adotadas, como a ex-apresentadora do "Fantástico" Glória Maria e a cantora Elba Ramalho.

 

"O que foi, meu amor? A mamãe já vai", diz Glória Maria, atendendo ao chamado da filha Maria, 2, que a interrompe enquanto ela conversa por telefone com a coluna. "A Maria fala uma língua só dela. É sagitariana, bem-humorada: quando não se faz entender, faz mímicas", diz. Já a caçula, Laura, 1, capricorniana, "é dramática".

 

A jornalista diz que não pensava em ser mãe. Isso mudou quando, em 2008, fez uma viagem à Índia e à Nigéria e trabalhou com crianças abandonadas. Teve uma inspiração semelhante à de Angelina Jolie e Madonna, que adotaram crianças em países da África e da Ásia. De volta ao Brasil, visitou orfanatos em Salvador. E foi em um lar de crianças na capital baiana que conheceu as irmãs Maria e Laura.

 

"A Maria tinha um ano e não ia com ninguém. E ela me viu e foi no meu colo, me elegeu. E a Laura era um bebê de 22 dias que me encantou", lembra.
"Aconteceu de elas serem parecidas comigo, terem a minha cor." Glória lamenta que pais candidatos à adoção façam tantas exigências quanto às características físicas dos possíveis filhos. "Quando você adota, tudo isso é detalhe. Você toca a alma da criança e ela toca a sua alma", afirma.

 

Glória deixou sua casa no Rio e alugou um apartamento em Salvador enquanto esperava a concessão da guarda definitiva das meninas. "Fiz entrevista com psicólogo, assistente social. O processo é lento, mas tem que ser assim. Eles [o juizado] não estão procurando dar uma criança para uma família, mas dar uma família para uma criança", diz.

 

O fato de não ter um companheiro para dividir as responsabilidades, segundo ela, não faz falta. "Tenho sido pai e mãe. Claro que vai ser importante a figura masculina, mas, por enquanto, elas têm os padrinhos."

 

Astrid Fontenelle também é pai e mãe. No comando de um programa ao vivo, de segunda a sexta, ela dedica as manhãs ao pequeno Gabriel.

 

No mês passado, sentiu falta de um parceiro que a ajudasse a escolher uma escola para o filho. "Uma amiga casada me fez ver o outro lado. Ela falou: "Você ainda pode decidir sozinha. Eu tenho que pedir a opinião do pai"." No entanto, pondera: "Tem o lado difícil: sou eu que pago tudo, decido tudo, mas tenho ótimos amigos e um noivo que se dá muito bem com ele." Astrid vai se casar neste mês com o empresário baiano Fausto Franco.

 

A maternidade sempre foi um desejo da jornalista. Mas, por conta do trabalho, colocado sempre em primeiro lugar, o plano foi sendo adiado, até que, em 2007, ela percebeu que "a vida não fazia mais sentido".
"Para que ganhar mais, comprar mais uma bolsa?" Sentiu necessidade de passar adiante. No ano seguinte, encontrou o filho em um abrigo de Salvador.

 

Enquanto ela conta a história da adoção no escritório de seu apartamento, em São Paulo, Gabriel começa a chorar. Ela vai ao encontro do garoto, que interrompe o choro e começa a brincar: bate palma, dança.

 

Astrid fala do filho com os olhos brilhando. "Se uma mãe que pare uma criança tem uma sensação física com a barriga crescendo, com a dor do parto, a minha vem do coração", diz. E tatuou "Gabriel" no pescoço.

 

Ela não fez exigências para adotar. "Só queria que viesse com saúde. Tem gente que escolhe muito, como se adoção não fosse maternidade."

 

Mãe biológica de Luã, Elba Ramalho, 59, se tornou mãe "do coração" de três meninas: Maria Clara, 7, Maria Esperança, 3, e Maria Paula, 6. As duas primeiras foram adotadas durante seu casamento com Gaetano Lops. Já a guarda provisória de Maria Paula saiu no ano passado, quando ela se separou.

 

A cantora ajudava financeiramente a família da garota. No final de 2008, soube que a mãe, por absoluta falta de condições de sustentar a criança, abandonou-a e que ela estava em um orfanato em Minas Gerais.
"Corri e intercedi. E foi num momento difícil, quando estava me separando", lembra. "Mas foi muito bom. É nessa hora que somos postos à prova do nosso desejo de servir, de colaborar com o mundo."

 

Por chegar à casa nova já com cinco anos e ganhar duas irmãs postiças de uma hora para a outra, a adaptação de Maria Paula, conta Elba, está sendo mais difícil que as experiências anteriores. "A Maria Clara e ela estão em pé de guerra, mas é normal, ciúme de irmã."

 

Sempre que pode, a cantora vai a orfanatos nas cidades em que faz shows. "São tantas crianças disponíveis e desejosas de uma família. A maior alegria que tenho é poder disponibilizar o que tenho de graça, meu amor incondicional. Minhas filhas me acolheram."

 

Elba vê com tranquilidade seu duplo papel. "Acho importante quando tem um pai. Mas se não tiver, tudo bem."

Reportagem LÍGIA MESQUITA


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