São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Crítica/DVD/"My Fair Lady"

Musical simboliza a "velha" Hollywood

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Em meados dos anos 60, o "sistema dos estúdios" que marcou o apogeu de Hollywood declinava. A geração que seria responsável pela renovação da indústria, no final da década, começava a despontar. Tratado então pela Warner como o novo "E o Vento Levou" (1939), "My Fair Lady" parecia deslocado.
Concebido como um musical tradicional, baseado em show da Broadway e inteiramente rodado em estúdio, o longa seria o penúltimo supervisionado pelo todo-poderoso produtor Jack Warner no estúdio que fundara com os irmãos mais velhos, em 1923, e do qual se afastaria em 1967.
Jack não dava mostras de entender que o seu tempo já se aproximava do fim no jantar de apresentação do projeto à imprensa, em agosto de 1963. As imagens desse evento, típico da "velha Hollywood", são um dos mais reveladores extras da versão em DVD de "My Fair Lady" (levado aos cinemas como "Minha Bela Dama").
"[Este filme] Não será como "Cleópatra'", garantiu Jack aos jornalistas e convidados, em referência à turbulenta superprodução da Fox que, lançada meses antes, custara exorbitantes US$ 40 milhões e arrecadara pouco mais do que a metade. Ao seu lado na mesa, havia um remanescente desse naufrágio, o ator Rex Harrison.
O produtor estimava que "My Fair Lady" sairia por US$ 12 milhões -incluídos US$ 5,5 milhões para a compra dos direitos da peça, que estreara em Nova York em março de 1956 e se tornara sucesso global. Uma bilheteria de US$ 20 milhões seria o bastante para recuperar o investimento, supunha.

Bilheteria miúda
Seu faro, contudo, já não era o mesmo. O orçamento estouraria em quase 50% e, apesar dos oito Oscar (inclusive o de melhor filme), a arrecadação ficou em US$ 12 milhões. A excelência conservadora da realização tornava mais simbólico o fiasco: conceitos e métodos precisavam mudar.
"My Fair Lady" faz do anacronismo seu charme, com as canções notáveis de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe dando novo colorido à peça "Pigmalião", de Bernard Shaw. De volta ao papel que criou nos palcos, Harrison interpreta o arrogante e preconceituoso professor de fonética que aposta ser capaz de transformar uma florista vulgar (Audrey Hepburn, dublada nas canções) em dama sofisticada.
Curiosamente, Hollywood viria a percorrer caminho inverso para sobreviver nos anos seguintes: menos salões de baile e mais sujeira das ruas.


MY FAIR LADY
Distribuidora:
Paramount
Quanto: R$ 19,90 (livre)
Avaliação: ótimo



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