São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

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ÚLTIMA MODA
EM NOVA YORK

Marc Jacobs tira o mofo dos EUA

A Olympus Fashion Week, de Nova York, chega hoje ao último dia embalada pela expectativa de ter o seu maior espetáculo: a apresentação do primeiro desfile americano de Karl Lagerfeld, 67, o estilista alemão que desenha as roupas da Chanel e é um dos maiores nomes da história da moda. "Karl vem para conquistar" diz o título da reportagem da "Time" sobre o estilista. Lagerfeld vendeu, em 2004, sua marca para Tommy Hilfiger e desenvolveu agora uma linha de roupas com preços mais acessíveis -e os críticos estão curiosos para saber como ele conciliou sua inventividade com o pragmatismo comercial e as demandas do gosto contemporâneo.
Pouca gente fez isso com graça e relevância na temporada outono-inverno da semana de moda nova-iorquina, que apresentou 68 desfiles desde a última sexta-feira, dia 3. Os principais estilistas americanos não gostam de correr muitos riscos, e o que se viu, em geral, foram coleções que ora atualizavam as convenções do guarda-roupa americano médio, ora buscavam seu brilho na nostalgia ou no requinte de tipo hollywoodiano -tudo, ainda, sob os efeitos da onda de romantismo e aristocratismo que percorre o mundo da moda.
Por isso mesmo, causou grande impacto a coleção de Marc Jacobs, apresentada num desfile disputadíssimo no New York State Armory, prédio público que abrigou em 1913 a primeira exposição de arte moderna da cidade. Jacobs surpreendeu ao retomar o grunge, estilo jovem dos anos 90, mas num diapasão chique e com várias evocações da história da moda recente, sobretudo do desconstrucionismo dos estilistas japoneses. Ele fez uma demonstração de como é possível ser prático, moderno, elegante e irreverente, em peças que mesclavam o despojamento grunge a elementos requintados, utilizando muita alfaiataria e sobreposições. A coleção da grife jovem Marc by Marc Jacobs, com uma apresentação menos concorrida, foi igualmente bem-sucedida na sua elaboração de um streetwear sofisticado.
Oscar de la Renta fez um desfile espetacular, mas sem conceito claro, como se estivesse apresentando uma antologia de peças luxuosas. Já Diane von Furstenberg conseguiu recriar com muito glamour certas iconografias da moda casual norte-americana, com foco nas "working girls" dos anos 80.

SANTORO SEM LUGAR
A grife italiana Diesel trouxe Rodrigo Santoro para assistir ao seu desfile em Nova York, na quarta-feira. O ator, porém, chegou em cima da hora, e não havia mais lugares na primeira fila, exceto um, onde ele foi impedido de ficar. Era a cadeira de Grace Jones, que chegou no último momento, coberta por uma capa e cercada de fotógrafos. Apesar do esforço da assessoria brasileira da grife, o ator teve de acompanhar de longe o divertido desfile, que terminou com Grace subindo à passarela não para cantar, mas para fazer uma penca de caretas.

ENCONTRO INÉDITO

HERCHCOVITCH E MIELE BATEM PAPO SOBRE MODA

Alexandre Herchcovitch e Carlos Miele são os únicos brasileiros a participar da Olympus Fashion Week, em Nova York -se descontarmos o mineiro Francisco Costa, estilista da Calvin Klein.
Tanto Herchcovitch quanto Miele participaram da fundação da São Paulo Fashion Week, há dez anos. Herchcovitch continua na semana de moda paulista. Miele deixou de desfilar em 2002, depois de desacordos com a direção do evento, e optou por fazer carreira internacional com a grife Carlos Miele -ele é também dono da M. Officer.
Embora sejam duas personalidades centrais da moda brasileira, Herchcovitch e Miele jamais haviam se encontrado para conversar sobre moda. A convite da Folha, eles aceitaram realizar, pela primeira vez, um bate-papo, que ocorreu no Meatpacking District, bairro de Nova York onde Miele tem sua loja.

 

Folha - Por que vocês decidiram desfilar em Nova York?
Carlos Miele -
Quando pensei em abrir uma loja no exterior, achei que Nova York seria o lugar ideal. Eu desfilava em Londres, mas cheguei à conclusão de que aqui é mais internacional, com a presença de mais compradores e editores de moda.

Alexandre Herchcovitch - Antes de Nova York, apresentei três coleções em Londres e oito em Paris. Então fui convidado a vir para cá. Aqui tudo vai mais rápido. Mas não penso em abrir uma loja agora, como fez o Miele. Se o fizesse, seria antes em Tóquio, onde estão os meus principais compradores internacionais.

Folha - Miele, você voltaria para a São Paulo Fashion Week?
Miele -
Não sei. Se eu apresentar a coleção antes no Brasil, vou tirar muito a magia do meu desfile aqui, pois as pessoas já terão visto tudo na internet. Se eu pudesse desfilar lá com a M. Officer, eu voltaria.

Herchcovitch -Acho que a postura do Miele é a mais correta. Eu deveria optar: ou São Paulo ou Nova York. Mas eu não posso ainda. Tenho muita gente que espera meu desfile no Brasil, tenho muitos compradores lá, de onde vem a maior parte da minha renda. Não me incomoda repetir a coleção aqui. Acho que a SPFW ainda não tem uma visibilidade grande como as semanas de moda de Nova York, Paris, Milão e mesmo de Londres. Se tivesse, eu desfilaria apenas em São Paulo.

Miele -A São Paulo Fashion Week nunca vai conseguir ser internacional porque compete com o calendário. Acho que o Brasil deveria fazer uma semana de alto verão durante o inverno. Aí sim o país não teria concorrência.

Folha - O que vocês pensam que seja o papel de um e de outro na moda brasileira?
Miele -
Alexandre foi o designer brasileiro que abriu caminho para outros estilistas, como eu, que queriam desfilar em Londres. Admiro nele também essa coragem de mudar radicalmente. Ele se dá bem com tudo, com cores, estampas. Faz uma roupa bastante internacional.

Herchcovitch - O que eu tenho na minha memória sobre os desfiles do Miele e, até antes, da M. Officer, foi a maneira especial de ele colocar moda e arte na mesma passarela. Depois, já como Carlos Miele, o fato de ele não mais desfilar no Brasil balançou a cabeça de algumas pessoas. O terceiro ponto muito interessante na moda do Carlos Miele é a constância, que faz reforçar um estilo próprio, em que o uso de estampas e cores é muito particular e reflete, sim, um pouco do Brasil. Ele é, sem dúvida, um porta-voz da moda brasileira no mundo.


Leia a íntegra da conversa na Folha Online

ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br


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