São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

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CDS

ELECTRO/ROCK


Em 1º álbum, DJs criam letras desgastadas; Wry remete ao passado

Em suas músicas, dupla No Porn fala mais do que deveria

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem querer, dois lançamentos expõem artistas novos do cenário electro e rock do país. Mais desnudam do que revelam.
O primeiro é a dupla formada pela vocalista Liana Padilha e pelo produtor Luca Lauri. Os dois são também DJs, e suas noites costumam lotar o clube Vegas, em São Paulo (ficaram conhecidos no extinto Xingu). No Porn é a versão ao vivo do duo, e o álbum homônimo é a estréia em disco.
Aqui, as letras são o principal problema. Uma das lições que a eletrônica nos deu foi que se você não tem nada a dizer, não diga; os beats fazem o serviço.
O No Porn não tem nada a dizer e desrespeitou a regra. As canções têm letras desgastadas, que não são inteligentes, não são engraçadas, não são sexy... São um punhado de citações e jogos de palavras que tentam ser espertas, mas não têm alcance. Exemplos? "Baile de Peruas/ Coleção decadente cigana/ Tecido de cortinas e almofadas/ Cafonice Intrínseca" ("Baile de Peruas"); "Eu sim/ eu não/ eu tão/ eu tonto/ eu sonso" ("Fim de Tarde"); "Bijoux para todos/ Champanhe, cristais e ouro/ Pérolas, luzes, paetês, espelhos" ("Xingu"). Só com muita champanhe na cabeça para conseguir dançar ouvindo isso.
Pode-se dizer que o electro é um dos cinco vértices da música eletrônica de pista (os outros são tecno, house, trance e drum'n'bass), e destes, o que mais mergulha no passado em busca de referências. Outra deficiência deste disco é que essa volta é um fim, e não um meio. Um momento novo vem com "Dois", com atmosfera dark, misteriosa; outro, em "Exc Main Niz", em que a guitarra de Edgard Scandurra se encaixa com batidas polpudas, bem melódicas. Em todo o resto, o CD soa retrô, déjà vu.
O que nos leva a "Flames in the Head", álbum do quarteto Wry, sorocabanos radicados em Londres. Eles convocaram nomes respeitados para ajudá-los na produção, como Gordon Raphael (dos dois primeiros discos dos Strokes), e Tim Wheeler (vocalista do Ash), mas não escapamos da sensação de que o grupo ainda não encontrou uma direção certa.
As canções são todas compostas em inglês, e o rock britânico é também onde o Wry vai pescar suas idéias. A época é o pré-britpop, e faixas como "In the Hell of My Head", "Powerless" e "Come and Fall" remetem às guitarras de My Bloody Valentine e Ride. Mas não avançam, não seguem além disso. Com um foco tão restrito, o disco sente falta de um refrão forte e de canções acima do razoável.


No Porn
 
Artista: No Porn
Lançamento: Segundo Mundo
Quanto: R$ 25, em média

Flames in the Head
  
Artista: Wry
Lançamento: Monstro
Quanto: R$ 25, em média


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