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Correndo por fora
Diretores de "Conduta de Risco' e "Juno" contam à Folha como receberam as pouco esperadas indicações às categorias principais do Oscar
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Custou US$ 7,5 milhões, e a
bilheteria já bate nos US$ 110
milhões. De 1.019 salas em que
era exibido nos EUA em 30 de
dezembro, passou para 2.534
em 20 de janeiro. Do decano
Roger Ebert ("Chicago Sun-Times") a A.O. Scott ("New York
Times") -fora "New Yorker",
"Slate"-, recolheu textos entusiasmados. Mas, mesmo com o
sucesso de público e de crítica,
"Juno" vai ao Oscar correndo
por fora nas duas principais categorias do prêmio -melhor
filme e melhor direção.
É uma situação parecida com
a de "Conduta de Risco", de
Tony Gilroy (diretor) e George
Clooney (ator). O filme, mesmo
com sete indicações, é tido como um azarão na disputa das
duas estatuetas mais valiosas.
"Onde os Fracos Não Têm
Vez", dos irmãos Coen, "Sangue Negro", de Paul Thomas
Anderson, ambos com oito estatuetas na mira cada um, além
de "Desejo e Reparação", indicado em sete categorias, são
considerados pelos especialistas em Oscar os favoritos da 80ª
edição da premiação, cuja cerimônia acontece no próximo dia
24, em Los Angeles.
"Foi uma surpresa monstruosa", disse o diretor de "Juno", Jason Reitman, em entrevista por telefone da qual a Folha participou. "Aposto que
ninguém ficou tão surpreso
quanto eu ao receber uma indicação para o Oscar."
Também por telefone, Diablo Cody (ou Brook Busey-Hunt), a roteirista do filme, faz
uso de um discurso de jogador
de futebol para comentar sua
indicação ("Juno" também
concorre em roteiro original e
atriz): "Eu realmente acho que
não vou ganhar, mas estou ao
lado de gente que admiro, então só por ter sido indicada me
sinto uma pessoa de sorte".
Com estréia brasileira no dia
22 (mas já em exibição em pré-estréias), "Juno" está sendo
comparado a "Pequena Miss
Sunshine" (2006), outra comédia de baixo orçamento que se
transformou em fenômeno de
bilheteria e que abocanhou indicações ao Oscar.
"Nos últimos anos houve
uma mudança em como certas
pessoas qualificam as comédias", opina Reitman. "Não é fácil fazer uma comédia, há muitas armadilhas. A partir dos
anos 90, com gente como P.T.
Anderson, Wes Anderson, Alexander Payne, as pessoas passaram a enxergar que a comédia pode ser complexa e diferente. Eu nunca poderia dizer
ou filmar certas coisas se "Juno"
fosse feito como um drama."
Grávida aos 16
O que Reitman filma é a história de Juno MacGuff (Ellen
Page), que aos 16 anos engravida após transar com Paulie
Bleeker (Michael Cera), um
amigo da escola. Juno pensa
em aborto, vai até uma clínica,
mas desiste. Decide levar a gravidez até o final e doar o bebê.
A partir de um anúncio de revista, encontra Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), típico casal estável de classe média alta. Após
uma reunião, garota e casal assumem o compromisso.
A partir daí, o filme é costurado por meio da relação de Juno
com seu pai (J.K. Simmons),
com sua madrasta (Allison Janney), com Paulie e com Mark,
com teor cômico (mais) e dramático (um pouco menos).
Foi complicado transformar
o argumento em filme?
"Não muito", diz Reitman.
"Passo muito tempo com adolescentes grávidas... Brincadeira. Em princípio, pensei nisso,
que estava entrando num território totalmente estranho, mas
ao ler o roteiro me senti de alguma forma envolvido naquilo.
E o meu papel como diretor, ao
trabalhar em cima do roteiro de
outra pessoa, é tentar fazer
com que o público capte o que
eu senti ao ler esse roteiro."
Para o cineasta, o roteiro é o
principal trunfo de "Juno". Na
verdade, não apenas para ele,
porque, além da indicação ao
Oscar, Diablo Cody já arrumou
emprego como roteirista de
"The United States of Tara", série de TV que está sendo produzida por Steven Spielberg.
"Juno" foi a estréia de Cody
no cinema. Ela já trabalhou como stripper (época que conta
no livro "Candy Girl: A Year in
the Life of an Unlikely Stripper"; Candy Girl: um ano na vida de uma stripper acidental);
telefonista de disque-sexo e
blogueira (diablocody.blogspot.com).
"Levei dois meses para escrever o roteiro", conta. "Nunca tinha feito nada parecido,
não tinha nenhum conhecimento de como era estruturado um roteiro para o cinema."
O ponto de partida, segundo
Cody, foi seu interesse pela "dinâmica psicológica entre adultos que querem adotar uma
criança e uma adolescente que
engravida sem desejar".
"Todos conhecemos alguém
que de alguma forma está envolvido ou que conhece alguém
envolvido numa situação dessas. Meu ex-marido foi adotado, então ele me contou várias
histórias e situações por que
passou. Quando eu era adolescente, tive uma amiga que engravidou e passou por momentos parecidos com os de Juno.
Mas não me baseei diretamente em nenhuma situação real
para escrever os personagens."
Enquanto Diablo Cody não
conhecia nada sobre estrutura
cinematográfica, Jason Reitman está há anos no meio. Antes de "Juno", havia dirigido só
um longa, "Obrigado por Fumar" (2006), mas freqüenta
sets de filmagem desde criança,
acompanhando o pai, o cineasta Ivan Reitman ("Os Caça-Fantasmas", entre outros).
"Eu freqüentava os sets e via
como acontecia um processo
de filmagem, o que foi uma experiência fantástica", lembra.
"A melhor coisa que meu pai
me ensinou foi a estudar, toda
manhã, a cena imediatamente
anterior e a cena imediatamente posterior ao que eu iria filmar naquele dia. Porque assim
você tem uma idéia clara de onde os personagens estão vindo
e para onde eles estão indo."
Boa história
Reitman explora com habilidade as nuances do roteiro,
tanto as piadas e as referências
pop como os momentos de insegurança de Juno.
"Cinema para mim tem a ver
com contar uma boa história e
mexer com o público. Adoro
contar uma história e fazer as
pessoas rirem. Sinto um enorme prazer ao entrar em um cinema que esteja passando um
de meus filmes e ver o público
rir ou se emocionar."
""Juno" representa de forma
precisa os adolescentes de hoje,
melhor do que qualquer outro
roteiro que eu tenha visto", diz
o diretor. "E ele apareceu na
época certa. Há tantas incertezas na vida e no próprio cinema. "Juno" trata de um tema pesado, mas nos faz rir, nos dá
uma ponta de esperança."
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