São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Atriz de "Tropa" será aluna sexy na TV

Fernanda Machado não irá a Berlim, onde o filme concorre, por causa de gravações de série com "muita cena de cama'

Paranaense, que estará em "Queridos Amigos", da Globo, diz que sempre quis papel sensual, mas rejeita ibope em cima do seu corpo

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Quando o diretor José Padilha e parte do elenco de "Tropa de Elite" apresentarem o filme na mostra competitiva do Festival de Berlim, amanhã, a atriz Fernanda Machado, 27, que no longa interpreta a universitária "ongueira" Maria, provavelmente estará deitada numa cama. Não, não se trata de doença, muito menos de uma confidência íntima feita à meia-voz à reportagem. A explicação reside em Lorena, sua personagem na minissérie "Queridos Amigos", que estréia no dia 18/2.
"Tem muita cena de cama", adianta, para deleite dos marmanjos. "É a primeira vez que tenho um papel com levada sensual, "sex appeal". Era um perfil que morria de vontade de fazer. Mas, se você chega à Globo e faz um personagem assim de cara, ganha um rótulo na sua testa: a gostosona. Por isso tinha medo", diz, ressaltando que a presença de Carlos Araújo (com quem trabalhou em "Começar de Novo") na direção a tranqüilizou, "porque sei que ele não vai querer levantar ibope em cima do meu corpo".
Recato que não impede lances de charme: na lanchonete da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio) que servirá de cenário à entrevista, de saída, ela se encarapita em duas mesas para namorar as lentes do fotógrafo com meios sorrisos. Depois, durante a conversa propriamente dita, como que pesando cada resposta, a todo instante leva as mãos às compridas madeixas de Lorena, a estudante que se apaixona pelo professor de literatura da faculdade.

"Padrinho" estrangeiro
As gravações da minissérie impossibilitaram a ida da atriz paranaense a Berlim, plataforma de lançamento da carreira internacional de "Tropa"- e, quiçá, da de integrantes do elenco. Mas as atenções de Fernanda não parecem voltadas ao além-mar. "O mercado lá fora não é algo que me interesse. Prefiro fazer bons filmes no Brasil a cavar um buraco de qualquer jeito em Hollywood para uma ponta em algo em que eu nem abra a boca ou em que seja só a "gostosinha'", afirma.
Se porventura ela mudar de idéia, já tem um "padrinho" estrangeiro. "O Harvey Weinstein [ex-dono da Miramax e distribuidor internacional de "Tropa'] me amou de paixão desde o dia em que me viu. Queria me levar para Nova York, arranjar um agente para mim. Mas, na boa: a gente sabe que lá fora é uma indústria absurda, que vende-se a alma."
Vender ingresso com filmes nacionais que sejam "quase uma novela" tampouco lhe soa interessante. "Queria evitar filmes comerciais. Para quê, né? Já sou funcionária da TV Globo, já faço novela. Aí, vou fazer um filme com tudo parecido? Queria fazer algo mais "cinemão", em que possa experimentar, viajar." Algum exemplo de filme recente com "cara de novela" de que ela se lembre? "Estou com um na cabeça agora, mas o diretor é meu amigo", desconversa.
Na TV, ela estreou com um pequeno papel na novela "Começar de Novo", de Antônio Calmon e Elizabeth Jhin, em 2004. No ano seguinte, chamou a atenção como a aprendiz de vilã Dalila, em "Alma Gêmea", de Walcyr Carrasco.

Oscilação emocional
Em 2007, a responsabilidade aumentou com a Joana de "Paraíso Tropical". A oscilação emocional da personagem na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares fez Fernanda pensar em voltar à Maringá natal quando as gravações acabassem -questionamento para o qual também contribui a exposição de sua vida pessoal em revistas de fofoca. "Foi no fim da novela. Estava com o canal da Joana muito aberto: ficava o dia inteiro chorando, buscando emoções negativas. Me acabava", lembra.
"E a Fê chora de verdade", intervém a mãe, dona Alenice, que assiste atentamente à conversa na mesa ao lado com seu Fernando, pai da atriz. "Tenho que aprender a me defender mais, a me exaurir menos", retoma Fernanda.
Antes da TV, houve o teatro. Aos 17, a atriz trocou o interior paranaense pela capital para cursar artes cênicas. O sustento vinha de participações em comerciais e "bicos" como figurinista e maquiadora. O "teatro-empresa" -em que, à base de esquetes cômicos, doutrinava funcionários acerca da importância do uso de equipamentos de segurança- também lhe rendeu uns caraminguás.
Mais à frente, subiu ao palco nos kafkianos "O Processo" e "A Metamorfose" e em adaptações de Brecht. A atuação em "Lágrimas Puras em Olhos Pornográficos" lhe valeu o primeiro telefonema da Globo: queriam fazer um registro em vídeo. No trabalho seguinte, "O Homem Elefante", viria o convite para cursar a oficina de atores da emissora -e a mudança para o Rio.
"Carioca é mais despojado, entrão, né? O que mais estranhei foi o caos da cidade, na comparação com Curitiba. De repente, caí na rodoviária do Rio. Nunca tinha visto uma van na vida!", diverte-se.
Voltar ao teatro é uma das metas para este ano, mas ela antes quer "dar uma reciclada". "Se não fizer isso, com que cara vou voltar agora? Virada do avesso?" O público (masculino, pelo menos) pensa diferente.


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