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Minissérie quer evitar caricatura dos anos 80
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Genius, Atari, chacretes,
Blitz, Legião Urbana... A diretora Denise Saraceni não quer fazer da minissérie "Queridos
Amigos" mais um revival caricatural da década de 80, como
tantos que há algum tempo invadem o mercado cultural.
Com estréia no próximo dia
18, na Globo, a obra de Maria
Adelaide Amaral tem 25 capítulos e se passa em 20 dias do final de 1989. Termina no momento em que Brasil fica sabendo que haverá segundo turno entre Lula e Collor.
"Os anos 80 têm sido muito
revisitados, e não quero fazer
uma minissérie datada. Mais
do que a moda ou a música, o
que busco é um painel moral e
ético dessa geração. Queremos
despertar no telespectador
uma memória afetiva daquele
tempo", afirma Saraceni.
"Queridos Amigos" é uma
adaptação do livro "Aos Meus
Amigos", de Amaral, inspirado
na turma de intelectuais de esquerda com a qual a autora, à
época jornalista, convivia. São
pessoas entre 30 e 40 anos, e
até por isso a minissérie não será um festival de ícones pop da
infância e juventude oitentista.
"Vamos mostrar músicas e
filmes que formaram a cabeça e
a alma de nossos protagonistas.
Leo [central na história, interpretado por Dan Stulbach] passou pelo cinema de Bergman,
Antonioni, Buñuel. Sua turma
ouvia Elis Regina, Chico Buarque, Clube da Esquina, Ivan
Lins, Paulinho da Viola. Até
tem uma hora em que o rock
nacional da época aparece. Um
personagem comenta sobre a
banda que seu filho está ouvindo: "O que aconteceu com a música popular brasileira...?'"
Com esse tom mais intimista, focado no cotidiano e na história pessoal de cada personagem, "Queridos Amigos" se "resolve menos na produção e
mais no trabalho de dramaturgia", na opinião da diretora.
"Big Brother"
Por esse motivo, Saraceni
adotou um método de preparação apelidado de "Big Brother".
"O elenco [Stulbach, Nachtergaele, Débora Bloch, Guilherme Weber, Bruno Garcia e
outros] passou um mês trancado em um estúdio do Rio. Além
de ensaiar e assistir a palestras
sobre história, a convivência foi
importante. Eles fizeram comida juntos, beberam vinho, conversaram, brincaram. O objetivo foi criar um clima fraternal
que pudesse se transpor às cenas", explica Saraceni.
Mesmo com esse foco, não é
fácil para a equipe de produção
dar essa "ré pequena" no tempo, como definiu Matheus
Nachtergaele, que interpreta
Tito, um jornalista comunista.
Não é um trabalho de época,
a exemplo da minissérie "A
Muralha" (2000), também da
dupla Amaral/Saraceni, sobre a
fundação de São Paulo. Mas
muita coisa mudou de 1989 para cá, especialmente a tecnologia, observa a diretora.
E Saraceni não pode repetir
erros como os da novela "Senhora do Destino" (2004/05),
de Aguinaldo Silva, que, apesar
de ser ambientada no início dos
anos 90, não tinha pudor em
mostrar personagens fazendo
merchandising de celulares de
última geração. "Vamos dar
muita atenção a isso, modelos
de telefones, secretárias eletrônicas, aparelhos de fax. E a Maria Adelaide me mata se eu não
colocar muitas máquinas de escrever", brinca Saraceni.
"Queridos Amigos" terá
flashbacks para mostrar os personagens em oposição à ditadura militar. Para essas cenas, Saraceni usou super-8 e videotape, tecnologias utilizadas naquele tempo. Os anos 80 foram
retratados até com câmeras de
alta definição. "Brinco com minha equipe que quanto mais a
gente errar, melhor. A imagem
pode estar sem foco, tremida,
tudo para dar o ar da TV desse
tempo. A minissérie nos faz rever esse vício de saber trabalhar
bem com tanta tecnologia."
A abertura, assinada por
Hans Donner, terá criações do
artista plástico Elifas Andreato
e a música "Nada Será como
Antes" ("Eu já estou com o pé
nessa estrada/ Qualquer dia a
gente se vê..."), em gravação
original do Clube da Esquina.
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