São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Minissérie quer evitar caricatura dos anos 80

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Genius, Atari, chacretes, Blitz, Legião Urbana... A diretora Denise Saraceni não quer fazer da minissérie "Queridos Amigos" mais um revival caricatural da década de 80, como tantos que há algum tempo invadem o mercado cultural.
Com estréia no próximo dia 18, na Globo, a obra de Maria Adelaide Amaral tem 25 capítulos e se passa em 20 dias do final de 1989. Termina no momento em que Brasil fica sabendo que haverá segundo turno entre Lula e Collor.
"Os anos 80 têm sido muito revisitados, e não quero fazer uma minissérie datada. Mais do que a moda ou a música, o que busco é um painel moral e ético dessa geração. Queremos despertar no telespectador uma memória afetiva daquele tempo", afirma Saraceni.
"Queridos Amigos" é uma adaptação do livro "Aos Meus Amigos", de Amaral, inspirado na turma de intelectuais de esquerda com a qual a autora, à época jornalista, convivia. São pessoas entre 30 e 40 anos, e até por isso a minissérie não será um festival de ícones pop da infância e juventude oitentista.
"Vamos mostrar músicas e filmes que formaram a cabeça e a alma de nossos protagonistas. Leo [central na história, interpretado por Dan Stulbach] passou pelo cinema de Bergman, Antonioni, Buñuel. Sua turma ouvia Elis Regina, Chico Buarque, Clube da Esquina, Ivan Lins, Paulinho da Viola. Até tem uma hora em que o rock nacional da época aparece. Um personagem comenta sobre a banda que seu filho está ouvindo: "O que aconteceu com a música popular brasileira...?'"
Com esse tom mais intimista, focado no cotidiano e na história pessoal de cada personagem, "Queridos Amigos" se "resolve menos na produção e mais no trabalho de dramaturgia", na opinião da diretora.

"Big Brother"
Por esse motivo, Saraceni adotou um método de preparação apelidado de "Big Brother".
"O elenco [Stulbach, Nachtergaele, Débora Bloch, Guilherme Weber, Bruno Garcia e outros] passou um mês trancado em um estúdio do Rio. Além de ensaiar e assistir a palestras sobre história, a convivência foi importante. Eles fizeram comida juntos, beberam vinho, conversaram, brincaram. O objetivo foi criar um clima fraternal que pudesse se transpor às cenas", explica Saraceni.
Mesmo com esse foco, não é fácil para a equipe de produção dar essa "ré pequena" no tempo, como definiu Matheus Nachtergaele, que interpreta Tito, um jornalista comunista.
Não é um trabalho de época, a exemplo da minissérie "A Muralha" (2000), também da dupla Amaral/Saraceni, sobre a fundação de São Paulo. Mas muita coisa mudou de 1989 para cá, especialmente a tecnologia, observa a diretora.
E Saraceni não pode repetir erros como os da novela "Senhora do Destino" (2004/05), de Aguinaldo Silva, que, apesar de ser ambientada no início dos anos 90, não tinha pudor em mostrar personagens fazendo merchandising de celulares de última geração. "Vamos dar muita atenção a isso, modelos de telefones, secretárias eletrônicas, aparelhos de fax. E a Maria Adelaide me mata se eu não colocar muitas máquinas de escrever", brinca Saraceni.
"Queridos Amigos" terá flashbacks para mostrar os personagens em oposição à ditadura militar. Para essas cenas, Saraceni usou super-8 e videotape, tecnologias utilizadas naquele tempo. Os anos 80 foram retratados até com câmeras de alta definição. "Brinco com minha equipe que quanto mais a gente errar, melhor. A imagem pode estar sem foco, tremida, tudo para dar o ar da TV desse tempo. A minissérie nos faz rever esse vício de saber trabalhar bem com tanta tecnologia."
A abertura, assinada por Hans Donner, terá criações do artista plástico Elifas Andreato e a música "Nada Será como Antes" ("Eu já estou com o pé nessa estrada/ Qualquer dia a gente se vê..."), em gravação original do Clube da Esquina.


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