São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Crítica/"O Monstro do Mar Revolto", "A Invasão dos Discos Voadores" e "A 20 Milhões de Milhas da Terra"

Imaginação domina filmes B dos 50

Produções como "O Monstro do Mar Revolto" influenciaram Tim Burton, Steven Spielberg e Peter Jackson, entre outros

Divulgação
Cartaz de "A Invasão dos Discos Voadores', de Fred F. Sears


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Não fosse o reconhecimento de uma lista de nomes de peso de diretores e técnicos de cinema, títulos como "O Monstro do Mar Revolto", "A Invasão dos Discos Voadores" e "A 20 Milhões de Milhas da Terra" acabariam escondidos nas estantes de filmes trash.
O nome de Ray Harryhausen, responsável pelos efeitos visuais desses três títulos que acabam de sair em DVD (todos acompanhados de um segundo disco com horas de extras), porém, é salvo da condenação ao ser reivindicado como pai espiritual por gente como Steven Spielberg e Peter Jackson.
Tim Burton prestou homenagem explícita a Harryhausen em seu "Marte Ataca", que parodia o desembarque alienígena de "A Invasão dos Discos Voadores". Até Tom Hanks teria decidido se tornar ator ao assistir aos duelos de "A Sétima Viagem de Simbad", segundo revela o diretor e roteirista Frank Darabont num dos extras. Já o "King Kong" de Peter Jackson está muito mais próximo do monstro Ymir, de "A 20 Milhões de Milhas da Terra", que dos gorilões que o antecederam no cinema.
Os três filmes são típicas produções B da Columbia nos anos 50, longas-metragens de menor duração, feitos com baixíssimo orçamento, elenco de atores obscuros e muita, mas muita criatividade.
Alguns especialistas do cinema contemporâneo costumam apontar, com razão, os atuais blockbusters como filmes B com orçamentos milionários e toneladas de efeitos especiais caríssimos realizados com alta tecnologia digital. Redescobrir as invenções artesanais de Harryhausen ajuda a entender mais de perto as origens dessa história.
De fato, naquela fase era artesanato o que Harryhausen praticava. Adepto da animação em "stop-motion" (em que os movimentos de bonecos e objetos são feitos quadro a quadro), o técnico conseguiu, praticamente sem tecnologia, criar mundos perdidos, monstros extraterrenos e submarinos e ataques alienígenas.
A maioria das soluções visuais, além da criativa animação e dos bonecos em miniaturas, feitos a partir de desenhos e esculturas do próprio Harryhausen, consiste na sobreposição de dois planos na imagem, um de fundo, com as cenas de efeitos, e um na frente, com os atores interagindo com as situações. Outra solução recorrente, com resultados mais precários, era o uso de maquetes e miniaturas de cenários, o que permitiu ao técnico, ao seu modo, destruir monumentos como o Coliseu de Roma, a Golden Gate de San Francisco e até mesmo o Capitólio de Washington.
Vistos hoje, os resultados desses filmes podem parecer risíveis e arqueológicos. Entretanto, eles preservam uma magia inerente ao cinema, feita de uma imaginação desenfreada e uma vontade de concretizar os mais absurdos delírios.
E, vistos ainda mais de perto, constituem documento histórico e simbólico de uma época, a da Guerra Fria, em que o pavor dos americanos ao comunismo alimentou toda uma leva de representações baseadas na chegada de um fator desconhecido e ameaçador. Os comunistas foram extintos, os comedores de criancinhas também viraram pó, mas as criações assombrosas de Harryhausen continuam à solta por aí.


O MONSTRO DO MAR REVOLTO/ A INVASÃO DOS DISCOS VOADORES/A 20 MILHÕES DE MILHAS DA TERRA
Distribuidora:
Sony Pictures
Quanto: R$ 30, em média, cada um
Avaliação: bom


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