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A bacante
Ex-atriz do Oficina, Karina Buhr parte do regional para o urbano e desponta em CD solo
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Suponhamos que seja tudo
mentira. Que, com a experiência de atriz estruturada em intensos anos de Teatro Oficina, a
pernambucana Karina Buhr,
35, esteja dissimulando o drama que encena agora nas canções de "Eu Menti pra Você",
álbum em que estreia solo.
Autora das letras e das músicas, ela desenvolve personagens por vezes dissonantes. Começa se assumindo "uma pessoa má". E termina por tornar-se a menina desencanada que
não está "a fim de corre-corre",
que quer "passar a tarde estourando plástico bolha".
Qual delas é Karina Buhr?
"Adoro deixar dúvidas", diz.
"Só quem me conhece muito
bem sabe o que de mim existe
em todas elas. Outras pessoas
se confundem quando ouvem
essas coisas ditas por mim."
De todas as personas de "Eu
Menti...", apenas a impressa em
"Ciranda do Incentivo" esbarra
no que já se conhece de Karina.
A canção dá voz a uma artista
que tem intenção de "fazer uma
ciranda pra botar o disco na lei
de incentivo à cultura".
Isso porque, desde 1997, Karina integra o grupo Comadre
Fulozinha, que faz música influenciado pelo canto de resposta das mulheres nos cocos,
cirandas e maracatus.
"Fiz essa música quando me
ocorreu que não conseguiria
aprovar esse disco em canto nenhum por ele não ter esse tipo
de apelo. Aí comecei a brincar
que ia fazer uma ciranda", diz.
Fez. No arranjo, travestiu a
ciranda de funk carioca. E bancou o disco do próprio bolso.
Para viabilizar o projeto, contou com a colaboração de amigos pernambucanos que, como
ela, também moram por aqui.
Mais que eles, cooperaram os
novos amigos paulistas.
A ficha técnica enumera alguns nomes promissores da geração 2000, como Fernando
Catatau (do Cidadão Instigado), Marcelo Jeneci e Guizado.
São Paulo
Foi em show do Comadre
Fulozinha que Zé Celso Martinez Corrêa, de passagem por
Recife com uma peça, viu Karina pela primeira vez, em 1998.
Depois da apresentação, convidou a cantora para integrar o
elenco do Oficina. Ela seria
uma das bacantes e, além de
cantar e tocar, teria texto. Mas
o maior desafio era outro: precisaria vir morar em São Paulo.
"Eu estava vivendo muita
coisa em Recife e não queria
sair", lembra. "A cidade vivia
um burburinho gigante com as
bandas. Ia para todos os shows
do Mestre Ambrósio, Eddie,
Mundo Livre e comecei a participar disso muito fortemente."
"Bacantes" estreou às vésperas do ano 2000 e Karina não
estava no elenco. Entraria só no
ano seguinte, quando o convite
foi refeito. Fez a temporada,
gravou o DVD da peça e voltou
para Recife. Em 2002, tudo de
novo -desta vez para outro espetáculo, "Os Sertões".
"Só tive coragem de vir morar aqui de vez em 2004 e por
causa do Oficina", diz. "Fiz cinco peças, que somaram mais de
30 horas [de encenação]. E por
quase cinco anos. Depois disso,
só partindo para um trabalho
em que estivesse sozinha, que
botasse minha cara à tapa."
Essa função coube a "Eu
Menti pra Você". E Karina vem
exposta já no close solitário da
foto da capa. Parece triste, há
um tom de desespero melodramático na maneira como puxa
os cabelos com as mãos, o olhar
desesperançado.
Quem vir o trabalho nas lojas
sem aviso prévio pode até achar
que se trata de uma sucessora
de Maysa. É tudo mentira.
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