São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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Prêmio gay conquista Berlim

ANDRÉ FISCHER
especial para a Folha, em Berlim

Dentro da rigidez germânica de Berlim uma premiação nada ortodoxa vem ganhando visibilidade e mudando o perfil do segundo maior festival de cinema do mundo.
O Teddy Bear (em inglês, urso de pelúcia, mas também gíria do universo gay para homens peludos bonitos) escolhe os melhores longa, documentário e curta entre os filmes de temática gay e/ou lésbica apresentados no festival de maneira bastante original.
Os concorrentes não inscrevem seus filmes na competição: cabe aos organizadores a seleção entre os filmes da competição oficial, mostras Panorama e Fórum, além de outros que entram sob a inusitada categoria "outros filmes que chegaram às nossas mãos".
Sem perder a informalidade e o bom humor, esse ano o Teddy vai ter uma cobertura inédita da mídia. A entrega dos prêmios no próximo dia 20 terá cobertura de 20 TVs européias, transmissão ao vivo pela Internet e contará com a presença do ex-ministro da Cultura da França Jack Lang e da estrela de Hong Kong Leslie Cheung.
Além do troféu criado pelo cartunista Ralf König (conhecido no Brasil por "O Homem Ideal"), os vencedores recebem a quantia de 35 mil marcos (cerca de R$ 40 mil).
O festival começa amanhã com "Aimée & Jaguar", filme alemão que conta a história de um casal de lésbicas.
O Teddy Bear surgiu em 1987 quase como uma brincadeira e um evento marginal ao festival com objetivo de marcar uma posição dos realizadores e programadores homossexuais. Os primeiros vencedores foram Pedro Almodóvar ("A Lei do Desejo") e Gus van Sant ("Mala Noche"), na época pouco conhecidos fora do underground.
Rapidamente a premiação foi conquistando espaço, sobretudo por suas festas animadíssimas e pela projeção alcançada pelos filmes premiados. Em 1991, foi reconhecido pela organização do festival como evento paralelo e desde 1997 faz parte da lista de premiação oficial.
Berlim é o único festival de cinema mainstream a possuir uma premiação oficial para as melhores produções com temática gay ou lésbica.
No ano passado, o prêmio principal foi para o filipino "Ang Lalaki Sa Buhay Ni Selya", exibido no último Festival Mix Brasil como "Casamento de Conveniência", cuja seleção para o Teddy Bear foi descoberta pelo diretor apenas ao chegar a Berlim.
Entre os destaques da seleção deste ano estão o espanhol "La Niña de Tus Ojos", de Fernando Trueba, e o israelense "Kesher Ir", de Jonathan Sagall, ambos na competição oficial, os canadenses "Beefcake" e "Better Than Chocolate" e o chinês "Bishonen", que já vêm fazendo algum barulho nos festivais norte-americanos.
Até agora são 38 longas e curtas em competição, mas a direção avisa que até quinta-feira, quando sai a lista definitiva, podem descobrir mais títulos.


O jornalista André Fischer é membro do júri do festival Teddy Bear

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