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ANÁLISE
Sexo verbal é o trunfo de "Sex and the City"
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Sex and the City" é das produções norte-americanas
recentes que mais chamou a atenção das mulheres. Um pouco como as nossas novelas, o programa
"de mulher" polarizou o horário
nobre no canal mais nobre da TV
dos EUA. Para deleite do público
masculino.
A repercussão polêmica das
desventuras amorosas de quatro
nova-iorquinas merece atenção.
Qual é afinal o atrativo do seriado,
conhecido pela indiscrição com
que se imiscui nos prazeres carnais da turma de garotas bem-sucedidas, modernas freqüentadoras da vida glamourosa da cidade
mais glamourosa do planeta?
Nos EUA, o seriado terminou
no dia 22 de fevereiro com alarde.
Aqui, a sexta e última temporada
começa a ser exibida em breve,
em abril. Ecos do impacto de "Sex
and the City" estão por aí. DVDs
das quatro primeiras temporadas
estão disponíveis. Multishow e
Canal 21 exibem reprises.
As opiniões sobre "Sex and the
City" são radicais. Uns adoram a
ousadia da abordagem pública de
fantasias sexuais femininas. Outros detestam constrangidos.
A temática é sexual, mas o apelo
não é sensual. Basta verificar episódio no ar atualmente em que
Sonia Braga, que já foi símbolo do
país do samba e da mulata, faz
uma lésbica que gosta mais de discutir a relação do que de transar.
"Sex and the City" se esmera em
exibir cenas de cama. Mas é nas
palavras que está o segredo do sucesso do programa. A voz em
"off" da protagonista, Carrie, colunista de comportamento sexual
de um jornal, faz a desejada ponte
entre o ponto de vista subjetivo,
íntimo, das mulheres "avançadas" de seu grupo e a audiência
ampla do jornal e da TV, que inclui os homens.
A narração de Carrie como que
organiza, dá sentido, à sucessão
de casos amorosos dela mesma e
de suas amigas, tipos ligeiramente
diferentes do gênero feminino.
Resolvidas profissionalmente,
as mulheres do seriado esclarecem que permanecem fêmeas,
apenas livres do recato. Sua iniciativa no campo amoroso se dá
em detrimento deles, personagens meio anódinos.
Atendendo à fantasia cara ao sexo oposto, Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte se apropriam
do universo tradicionalmente
masculino da sacanagem. Em
"Sex and the City" o donjuanismo
usa saia e salto alto.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
SEX AND THE CITY. Quando: seg., às
22h45, com reprise às ter., às 21h15, e
aos sáb., às 21h30, no Multishow; e dom,
às 23h, na Rede 21.
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