São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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ANÁLISE

Sexo verbal é o trunfo de "Sex and the City"

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sex and the City" é das produções norte-americanas recentes que mais chamou a atenção das mulheres. Um pouco como as nossas novelas, o programa "de mulher" polarizou o horário nobre no canal mais nobre da TV dos EUA. Para deleite do público masculino.
A repercussão polêmica das desventuras amorosas de quatro nova-iorquinas merece atenção. Qual é afinal o atrativo do seriado, conhecido pela indiscrição com que se imiscui nos prazeres carnais da turma de garotas bem-sucedidas, modernas freqüentadoras da vida glamourosa da cidade mais glamourosa do planeta?
Nos EUA, o seriado terminou no dia 22 de fevereiro com alarde. Aqui, a sexta e última temporada começa a ser exibida em breve, em abril. Ecos do impacto de "Sex and the City" estão por aí. DVDs das quatro primeiras temporadas estão disponíveis. Multishow e Canal 21 exibem reprises.
As opiniões sobre "Sex and the City" são radicais. Uns adoram a ousadia da abordagem pública de fantasias sexuais femininas. Outros detestam constrangidos.
A temática é sexual, mas o apelo não é sensual. Basta verificar episódio no ar atualmente em que Sonia Braga, que já foi símbolo do país do samba e da mulata, faz uma lésbica que gosta mais de discutir a relação do que de transar.
"Sex and the City" se esmera em exibir cenas de cama. Mas é nas palavras que está o segredo do sucesso do programa. A voz em "off" da protagonista, Carrie, colunista de comportamento sexual de um jornal, faz a desejada ponte entre o ponto de vista subjetivo, íntimo, das mulheres "avançadas" de seu grupo e a audiência ampla do jornal e da TV, que inclui os homens.
A narração de Carrie como que organiza, dá sentido, à sucessão de casos amorosos dela mesma e de suas amigas, tipos ligeiramente diferentes do gênero feminino.
Resolvidas profissionalmente, as mulheres do seriado esclarecem que permanecem fêmeas, apenas livres do recato. Sua iniciativa no campo amoroso se dá em detrimento deles, personagens meio anódinos.
Atendendo à fantasia cara ao sexo oposto, Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte se apropriam do universo tradicionalmente masculino da sacanagem. Em "Sex and the City" o donjuanismo usa saia e salto alto.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

SEX AND THE CITY. Quando: seg., às 22h45, com reprise às ter., às 21h15, e aos sáb., às 21h30, no Multishow; e dom, às 23h, na Rede 21.



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