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CCBB-SP relembra japoneses
Mostra reúne obras de Foujita e Kaminagai, pioneiros do Japão que influenciaram arte brasileira
Com curadoria de Aracy Amaral, exposição também revê legado de Jorge Mori, nipo-brasileiro que se radica depois na capital francesa
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um prédio com poucos andares, típico de Paris, retratado
em 1952. "Era a vista que tinha
do ateliê de André Lhote. Não
agüentei ficar muito lá, eles retocavam os quadros. Saí rapidinho", conta Jorge Mori, 75, ao
ver sua tela "Muro de Paris (Da
Janela do Ateliê de André Lhote)", uma das 150 obras da exposição "Círculo de Ligações:
Foujita no Brasil, Kaminagai e
o Jovem Mori", que é aberta para convidados hoje no CCBB
(Centro Cultural Banco do Brasil) paulistano.
Lhote (1885-1962), um dos
principais nomes do cubismo,
não era o único medalhão a não
agradar o jovem Mori. "Conheci Fernand Léger [1881-1965,
outro destacado cubista], também não achava nada demais."
Quando tinha 20 anos, Mori, filho de alfaiate, foi em 1952 para
a capital francesa estudar, depois de, na década anterior,
causar alvoroço na cena artística paulista por suas pinturas de
grande desenvoltura plástica.
"É impressionante ver a produção dele aos 13, 14 anos, não
devia nada a seus contemporâneos do grupo Guanabara [que
tinha artistas como Tikashi Fukushima e Arcangelo Ianelli,
entre outros]", avalia a curadora da mostra, Aracy Amaral.
Recuperar essas antigas conexões e revelar as histórias
que cercam pinturas, desenhos,
e fotografias, muitos deles inéditos para o público, é um dos
objetivos de Amaral, que tem
como assistente na curadoria
Paulo Portella Filho, que dirige
o setor educativo do Masp.
"Trazer de novo o Foujita para o Brasil e discutir sua influência sobre a arte brasileira é
um dos focos", diz ela. "O desenho do Portinari retratando o
artista japonês [1932], por
exemplo, tem todo um traço
sutil, diverso de outras obras do
paulista, que o Foujita certamente repassa a ele."
Tsuguharu Foujita (1886-1968) é considerado um dos
principais nomes do modernismo no Japão. Fica famoso
quando vai para a França e faz
parte do movimento Escola de
Paris, convivendo com nomes
como Soutine e Modigliani.
"Era uma figura muito festejada lá, algo exótica. Em 1931,
quando passa quatro meses no
Brasil, também chama a atenção, com seus grandes brincos,
casado com uma bela modelo
francesa, Madeleine Lequeux",
conta Amaral. "Ele também
busca a aventura; depois do
Brasil vai para Bolívia, Peru,
México e Cuba."
Paulo Herkenhoff, curador
de outra exposição que terá
obras do artista japonês (leia no
quadro ao lado) concorda com
Amaral. "Dentro do cenário parisiense, ele atraía muito pelo
exotismo, por certa excentricidade. É inegável, no Brasil, a influência sobre Portinari", diz.
Kaminagai
O Rio de Janeiro do bairro de
Santa Teresa é uma das paisagens mais presentes na mostra,
em razão das telas do japonês
Tadashi Kaminagai (1899-1982). Depois de um frustrado
período budista em sua juventude na Indonésia, o japonês
parte para Paris em busca de
independência artística. "Lá,
faz uma pintura com influência
da Escola de Paris e, em 1941,
pela guerra, vem para o Rio",
conta Portella.
Kaminagai acaba se estabelecendo em Santa Teresa, fonte
de algumas de suas mais belas
pinturas, residindo no bairro
por 14 anos. Depois, volta ao Japão e fica definitivamente em
Paris, onde morre, em 1982.
CÍRCULO DE LIGAÇÕES:
FOUJITA NO BRASIL,
KAMINAGAI E O JOVEM MORI
Quando: abertura hoje, às 19h30 (convidados); de ter. a dom., das 10h às
19h; até 1º/6
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado,
112. tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quanto: entrada franca
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