São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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CCBB-SP relembra japoneses

Mostra reúne obras de Foujita e Kaminagai, pioneiros do Japão que influenciaram arte brasileira

Com curadoria de Aracy Amaral, exposição também revê legado de Jorge Mori, nipo-brasileiro que se radica depois na capital francesa

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um prédio com poucos andares, típico de Paris, retratado em 1952. "Era a vista que tinha do ateliê de André Lhote. Não agüentei ficar muito lá, eles retocavam os quadros. Saí rapidinho", conta Jorge Mori, 75, ao ver sua tela "Muro de Paris (Da Janela do Ateliê de André Lhote)", uma das 150 obras da exposição "Círculo de Ligações: Foujita no Brasil, Kaminagai e o Jovem Mori", que é aberta para convidados hoje no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) paulistano.
Lhote (1885-1962), um dos principais nomes do cubismo, não era o único medalhão a não agradar o jovem Mori. "Conheci Fernand Léger [1881-1965, outro destacado cubista], também não achava nada demais."
Quando tinha 20 anos, Mori, filho de alfaiate, foi em 1952 para a capital francesa estudar, depois de, na década anterior, causar alvoroço na cena artística paulista por suas pinturas de grande desenvoltura plástica.
"É impressionante ver a produção dele aos 13, 14 anos, não devia nada a seus contemporâneos do grupo Guanabara [que tinha artistas como Tikashi Fukushima e Arcangelo Ianelli, entre outros]", avalia a curadora da mostra, Aracy Amaral.
Recuperar essas antigas conexões e revelar as histórias que cercam pinturas, desenhos, e fotografias, muitos deles inéditos para o público, é um dos objetivos de Amaral, que tem como assistente na curadoria Paulo Portella Filho, que dirige o setor educativo do Masp.
"Trazer de novo o Foujita para o Brasil e discutir sua influência sobre a arte brasileira é um dos focos", diz ela. "O desenho do Portinari retratando o artista japonês [1932], por exemplo, tem todo um traço sutil, diverso de outras obras do paulista, que o Foujita certamente repassa a ele."
Tsuguharu Foujita (1886-1968) é considerado um dos principais nomes do modernismo no Japão. Fica famoso quando vai para a França e faz parte do movimento Escola de Paris, convivendo com nomes como Soutine e Modigliani. "Era uma figura muito festejada lá, algo exótica. Em 1931, quando passa quatro meses no Brasil, também chama a atenção, com seus grandes brincos, casado com uma bela modelo francesa, Madeleine Lequeux", conta Amaral. "Ele também busca a aventura; depois do Brasil vai para Bolívia, Peru, México e Cuba."
Paulo Herkenhoff, curador de outra exposição que terá obras do artista japonês (leia no quadro ao lado) concorda com Amaral. "Dentro do cenário parisiense, ele atraía muito pelo exotismo, por certa excentricidade. É inegável, no Brasil, a influência sobre Portinari", diz.

Kaminagai
O Rio de Janeiro do bairro de Santa Teresa é uma das paisagens mais presentes na mostra, em razão das telas do japonês Tadashi Kaminagai (1899-1982). Depois de um frustrado período budista em sua juventude na Indonésia, o japonês parte para Paris em busca de independência artística. "Lá, faz uma pintura com influência da Escola de Paris e, em 1941, pela guerra, vem para o Rio", conta Portella.
Kaminagai acaba se estabelecendo em Santa Teresa, fonte de algumas de suas mais belas pinturas, residindo no bairro por 14 anos. Depois, volta ao Japão e fica definitivamente em Paris, onde morre, em 1982.


CÍRCULO DE LIGAÇÕES: FOUJITA NO BRASIL, KAMINAGAI E O JOVEM MORI
Quando:
abertura hoje, às 19h30 (convidados); de ter. a dom., das 10h às 19h; até 1º/6
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112. tel. 0/xx/11/3113-3651) Quanto: entrada franca


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