São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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LITERATURA
Série da escritora escocesa J.K. Rowling já teve 30 milhões de exemplares vendidos em 35 países
Magia de Harry Potter aporta no Brasil

Divulgação
A escritora escocesa J.K. Rowling, criadora do aprendiz de feiticeiro Harry Potter


BIA ABRAMO
especial para a Folha


Tudo em Harry Potter é um tanto antiquado, menos o fenômeno em que se tornou. "Harry Potter e a Pedra Filosofal", para começo de conversa, é um livro -e nada parece mais antigo como peça de entretenimento do que um livro.
Um objeto que a Alice de Lewis Carroll descreveria como sem graça: sem figuras e com várias páginas cobertas simplesmente por texto.
Isso porque o livro, na verdade o primeiro volume de uma série que deve chegar a sete, era, inicialmente, destinado ao público infanto-juvenil. Pois bem, este imenso mercado, capaz de consumir aos montes Pokémons, videogames e os Backstreet Boys, adotou esse livro com uma veemência sem precedentes para um produto aparentemente tão sem apelo de marketing.
Em pouco mais de dois anos, os três primeiros volumes com as histórias do aprendiz de feiticeiro Harry Potter já foram traduzidos para 35 países e, segundo a editora brasileira, a Rocco, venderam 30 milhões de cópias.
É sempre tentador justificar esses fenômenos de venda pelas campanhas publicitárias agressivas, truques de marketing obscuros ou simplesmente lavagem cerebral. No caso de "Harry Potter", pelo menos no começo, isso não foi verdade.
O sucesso do livro, uma aventura danada de bem escrita e povoada de personagens divertidos, foi fundado num boca-a-boca entre crianças inglesas e norte-americanas, evidentemente possibilitado não por corujas mensageiras como no mundo mágico de Harry, mas por meios mais modernos e rápidos como e-mail e websites.
Depois, cruzou as fronteiras de públicos e contaminou os adultos, a ponto de os livros da série serem oferecidos com duas capas diferentes pela editora na Inglaterra, uma com figuras, como gostava Alice, e outra sóbria, para adultos poderem lê-los sem pejo no metrô.
É claro que, uma vez constatado o fenômeno, o livro passou a ser vendido de forma estratégica.
A história da escritora J.K. Rowling, por exemplo, deu-lhe um certo ar de Cinderela. Rowling, uma mãe solteira escocesa e dura, teria escrito o primeiro "Harry Potter" num café, pois não podia pagar o aquecimento de seu apartamento. Na verdade, a história foi sendo aparada de detalhes, como o fato de ela ter recebido uma bolsa para acabar o livro.
Nada disso surpreende na comercialização de produtos culturais, mesmo que se trate de um livro. O que, entretanto, torna as aventuras do aprendiz de feiticeiro Harry Potter realmente mágicas é o fato de os livros de Rowling em si não lançarem mão de nenhum truque extra-literário.
O universo de Harry Potter, seus amigos, a Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts, os feiticeiros e bruxas que são os professores, as criaturas fantásticas do castelo ainda estão encerrados no texto. Pena que já vai virar filme (previsto para o ano que vem), com direção de Chris Columbus, de "Esqueceram de Mim".
O que torna "Harry Potter e a Pedra Filosofal" um fenômeno raro nessa cultura saturada de imagens e pobre de imaginação é que neste exato momento há alguns milhões de crianças construindo aventuras e personagens na solidão da leitura.


Livro: Harry Potter e a Pedra Filosofal Autor: J.K. Rowling Editora: Rocco Quanto: R$ 22 (263 págs.)

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